Coronavírus avança para pico da pandemia em MS, mas idosos continuam nas ruas
Mesmo com a pandemia do novo coronavírus, a Praça Ary Coelho, em Campo Grande, segue como um reduto de aposentados que se encontram diariamente no local público, levados pela teimosia e negacionismo dos riscos da pandemia. Na manhã desta sexta-feira (5), o Jornal Midiamax esteve no local e conversou com alguns idosos que frequentam a […]
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Mesmo com a pandemia do novo coronavírus, a Praça Ary Coelho, em Campo Grande, segue como um reduto de aposentados que se encontram diariamente no local público, levados pela teimosia e negacionismo dos riscos da pandemia. Na manhã desta sexta-feira (5), o Jornal Midiamax esteve no local e conversou com alguns idosos que frequentam a praça. Sem máscaras e “invencíveis”, eles disseram não ter medo da Covid-19 e desafiam as recomendações das autoridades em saúde.
Com 75 anos, o aposentado Evandro da Silva afirmou não temer o vírus que já matou mais de 35 mil pessoas no Brasil e também não usava máscara ao conversar com a reportagem. “Não tenho medo do vírus, não frequento rodas e quando vou a um lugar fechado, usos a máscara. Na minha infância, na fazenda, tinha rastros da febre espanhola e febre amarela, paralisia infantil, e o nosso remédio era leite de égua. É importante ficar em casa, eu fico, mas saí por necessidade. Sinceramente, não acredito [no vírus]. Isso foi uma invenção humana que veio para a América do Sul”, comentou.
Próximo a ele, o vendedor Nerton Bueno, de 65 anos, foi bem menos negacionista, mas mostrou que está uns três meses atrasado em relação às notícias. “Acredito [na pandemia]. É um vírus mortal, que está matando na Europa, aqui está com menos intensidade. O Mandetta agiu bem”, disse Nerton, descrevendo o panorama da pandemia de cerca de 90 dias atrás – atualmente, já se morre mais de Covid-19 no Brasil que na Europa.
“Medo não tenho, tenho cuidado”, disse. Mas, ele também não usava máscara. Questionado sobre a EPI pela reportagem, retrucou: “Se o ar fosse impuro, Deus não teria feito o ar. Não tenho medo de estar aqui porque tomo os cuidados devidos. Se eu ficar em casa, quem vai pagar minha alimentação?”
Na região da Ary Coelho, na Rua 14 de Julho, a pensionista Neusa Antunes, de 80 anos, também desafiava as recomendações e foi às compras. “Sim, eu tenho medo, mas vim porque eu precisava. Não tinha ninguém para vir, tinha que ser eu”, revelou. “É importante ficar em casa, livre de muita coisa. Acredito, sim, na pandemia, no tanto de gente que tá morrendo”, disse a idosa, que usava máscara, apesar de não estar bem ajustada ao rosto.
Teimosia, negação e desafios
Manter idosos em casa, principalmente aqueles que já tinham grande autonomia de ir e vir antes da pandemia, é um verdadeiro desafio para esposas, filhos e netos. Porém, é mais que necessário, visto que essa faixa etária é um dos principais grupos de risco da Covid-19.
A médica geriatra Claudia Burlá, do Rio de Janeiro, destaca que isolamento domiciliar é para todos, mas principalmente para idosos. “Esta é uma situação de guerra e não podemos, em hipótese alguma, tirar o idoso de dentro de casa. Se sair, a chance de ele se infectar é enorme. E o cuidado para que não seja infectado por pessoas que o visitem tem que ser redobrado”, diz.
Em Mato Grosso do Sul, aproximadamente 10% da população tem mais de 60 anos. Na Capital, o número estimado de pessoas entre 60 e 69 anos (Censo IBGE 2010) é de 19,5 mil, enquanto com 70 anos ou mais passa dos 15 mil. Uma das medidas para diminuir a circulação deste público foi editar decreto que suspendesse a gratuidade no passe de ônibus. Mas, como se vê, eles continuam desafiando os riscos e são vistos em todos os lugares.
O médico psiquiatra Jairo Bouer já explorou a questão em seu site e relatou até uma situação particular, com a avó de 95 anos, que reagiu mal à necessidade de quarentena, logo no início de pandemia. Porém, o médico aponta que é normal que os idosos, assim como as demais pessoas, reajam desde a completa negação da situação até ao pânico total e acrescenta que nenhum dos dois extremos é benéfico. “É importante que a família garanta a autonomia dos mais velhos, mas que reforce a preocupação com a vida deles”, pontua.
Segundo Bouer, há algumas atitudes capazes de deixar o isolamento menos duro, como fazer as compras necessárias, presenteá-los com livros e demais itens que aumentem a opção de lazer e entretenimento dentro de casa, além de facilitar o acesso às tecnologias, como a internet. “Ouvir mais e falar menos pode ser uma excelente estratégia para se relacionar com alguém que está com suas possibilidades de deslocamento limitadas”, conclui.
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