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Cotidiano

Semáforos e ônibus de Campo Grande viram ‘ponto de terapia’ com vendas de dependentes

Quem mora em Campo Grande já se acostumou com a presença de vendedores dentro dos terminais de ônibus, dos próprios coletivos e em vários cruzamentos espalhados pela cidade. Essas vendas, muitas vezes estão relacionadas a uma comunidade terapêutica que trabalha na recuperação de dependentes químicos e essa laborterapia, ou terapia ocupacional, faria parte do tratamento […]
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Quem mora em já se acostumou com a presença de vendedores dentro dos terminais de ônibus, dos próprios coletivos e em vários cruzamentos espalhados pela cidade. Essas vendas, muitas vezes estão relacionadas a uma comunidade terapêutica que trabalha na recuperação de dependentes químicos e essa laborterapia, ou terapia ocupacional, faria parte do tratamento para reinserção desse interno.

Essas comunidades afirmam que não recebem ajuda do Estado e que trabalham na maioria sem cobrança de mensalidade para esse dependente. Os prédios alugados, e todo o custo de manutenção fica por conta da própria instituição. Algumas delas trabalham com parcerias para atendimentos médicos, psicológicos, odontológicos e na realização de cursos para esses internos.

Mas talvez você já tenha se questionado qual a importância disso no tratamento desse dependente? Para o Pastor Milton César Marques, 48 anos, fundador da Clínica da Alma, que existe há 12 anos, esse trabalho ajuda na volta do homem às suas responsabilidades perante a sociedade. “Ali são trabalhadas a confiança, a dignidade e assim testificar para essa pessoa quem ela é de verdade”, contou.

Ele ainda conta que o interno não é obrigado a fazer esse tipo de trabalho, ele pode optar por outras funções dentro do local e que o dinheiro é 100% revertido para a manutenção do tratamento.  Na comunidade, que já existe há 12 anos, o trabalho não é fiscalizado pois, segundo o pastor, existe uma relação de confiança.

Enquanto isso no Projeto Simão os internos saem uniformizados e existe fiscalização durante as vendas. “Aqui nós não saímos sem uniforme. O uso do uniforme é obrigatório, porque isso não é uma venda é um trabalho de evangelização, a contribuição é voluntária. Há fiscalização durante o dia. O interno sabe da importância dessa ajuda para a manutenção da clínica. Muitas famílias não teriam condições de custear o tratamento”, disse Eliandro Simonette, 45 anos, fundador do projeto.

Para ele, esse tipo de laborterapia desenvolve no recuperando o compromisso com o trabalho, a responsabilidade, a honestidade e o relacionamento com outras pessoas. “O usuário desenvolve muitas funções, mas ele não se compromete com nada. Esse tipo de trabalho ele tem horários para cumprir. Existe o compromisso e a responsabilidade”, concluiu.

Outra forma de trabalho

Na Comunidade Terapêutica Redentorista, que funciona há 6 anos na Capital, o trabalho de reinserção é feito de forma diferente. Com três meses de tratamento o acolhido começa a servir na igreja.

“Em três meses de tratamento, o acolhido começa a frequentar o santuário para ajudar na novena, e ter o primeiro contato com o público. É a reinserção social. Mas não fazem nada fora do ambiente protegido. O foco é a reinserção   e não o comércio. É uma oportunidade de colocar em prática o que foi trabalhado com ele nos três primeiros meses de tratamento”, explicou André Luiz Rachid, coordenador da Redentorista e conselheiro terapêutico.

Na segunda fase, após 6 meses, a comunidade trabalha a ressocialização. O acolhido passa a ter 4 dias por mês, um final de semana, com a família. “Ele sai na sexta e volta na segunda, ali ele vai trabalhar os aspectos ligados a família, que foram passados para ele no segundo trimestre do tratamento”, contou André.

O tratamento também dura de 9 a 12 meses, e todas as despesas são custeadas através da ajuda dos fiéis do Santuário Estadual Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Durante o processo, com parcerias, o interno recebe o treinamento profissional com cursos de capacitação e também o acompanhamento médico e psicológico, através de terapia individual e oficinas em grupo.

Contraponto

Para a Associação Brasileira de Psiquiatria, ela se posiciona para que o tratamento do dependente químico precisa ser realizado de forma hospitalar, com uma equipe multidisciplinar formada por médicos, psicólogos, psiquiatras, e terapeuta ocupacional.

Para a doutora, Danusa Guizzo, psiquiatra há 21 anos e professora na faculdade de medicina da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), a terapia ocupacional, ou a laborterapia como é chamada nas comunidades, é importante no tratamento desse dependente, mas que é preciso o acompanhamento médico.

“A terapia ocupacional é importante na recuperação, mas precisa de uma avaliação caso a caso, por isso é necessário o acompanhamento médico. Se for um trabalho artesanal, direcionado e acompanhado por um profissional, não vemos porque proibir a venda desses produtos, mas precisa ser uma coisa muito bem organizada, sob vigilância administrativa, pessoal. Colocar o dependente para vender esse produto na rua, sozinho, é arriscado, ele pode pegar esse dinheiro e usar para comprar droga, colocando o tratamento em risco. Por isso é um tipo de prática questionada por nós médicos”, explicou.

Ela destaca que existe resultado no tratamento através dos 12 Passos, mas é preciso que existe um acompanhamento. “É uma terapia cognitivo comportamental e que realmente funciona para algumas pessoas, e dá resultado. Mas precisa existir o acompanhamento psicológico especializado”, concluiu.

Regulamentação

As comunidades terapêuticas são regulamentadas por duas resoluções a Conad nº 01/2015 e a RDC nº 29/2011 da Anvisa.

A RDC trata dos requisitos de segurança sanitária para o funcionamento das instituições e a Conad que regulamenta as entidades baseado no SISNAD (Sistema nacional de Políticas Públicas sobre Drogas), e as comunidades precisam estar dentro dessas regulamentações.

De acordo com o conselheiro terapêutico André Luiz Rachid, existe uma fiscalização por parte do poder público. “A fiscalização acontece por parte da vigilância sanitária, a nível federal é feita pelo Ministério da Justiça através da Senad, que é a Secretaria Nacional de Políticas Sobre Drogas. E claro, existe a fiscalização por parte do Ministério Público”, concluiu.

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