Mosquitos serão infectados em Campo Grande para combater dengue
Campo Grande é um dos três município brasileiros que adotará, a partir do segundo semestre de 2019, nova estratégia para conter o avanço da dengue, que consiste em infectar ovos do mosquito Aedes aegypti com a bactéria Wolbachia e, assim, reduzir a capacidade de transmissão dos vírus da dengue, zika e chikungunya. A estratégia foi […]
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Campo Grande é um dos três município brasileiros que adotará, a partir do segundo semestre de 2019, nova estratégia para conter o avanço da dengue, que consiste em infectar ovos do mosquito Aedes aegypti com a bactéria Wolbachia e, assim, reduzir a capacidade de transmissão dos vírus da dengue, zika e chikungunya.
A estratégia foi anunciada na manhã desta segunda-feira (15), durante o evento “Atualização em Manejo Clínico da dengue e febre do chikungunya e no controle vetorial do Aedes Aegypti”, que contou com a presença de pesquisadores e do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (DEM), e da presidente da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), Nísia Trindade Lima.
Durante o evento, o pesquisador da Fiocruz e líder do WMP (World Mosquito Program) no Brasil, Luciano Moreira, explicou como a introdução do mosquito infectado com a bactéria Wolbachia em municípios com população acima de 500 mil habitantes vai funcionar. Além de Campo Grande, Belo Horizonte (MG) e Petrolina (PE) também participarão do piloto.
“A ideia é infectar os ovos com a bactéria, que está presente já em 60% dos insetos. Quando os ovos eclodirem, liberamos os mosquitos adultos na natureza, que vão cruzar os mosquitos de campo. A bactéria reduz significativamente o poder de transmissão dos vírus pelos mosquitos”, aponta o pesquisador.
Bactéria do bem
Moreira destacou que a bactéria Wolbachia foi descoberta há cerca de 100 anos, mas somente em 2005 um projeto na Austrália descobriu que o ser vivo bloqueia vírus, inclusive da febre amarela.
De acordo com a presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima, a pesquisa já foi realizada em bairros do Rio de Janeiro a apresentaram bons resultados. “Depois da implantação do método, leva cerca de um ano para sentir o resultado. Mas, pela pesquisa já realizada, a redução é significativa, cerca de 80%”, aponta a pesquisadora.
Além da liberação dos mosquitos, a pesquisa também precisa fazer trabalho de campo com moradores, já que há claramente uma quebra de paradigma: soltar mosquitos para controlá-los, no lugar de exterminá-los. São de quatro a seis meses de acompanhamento da população, em etapa que requer ajuda dos municípios, por meio dos agentes comunitários que visitam os domicílios.
No segundo semestre, a liberação dos mosquitos deverá ocorrer por cerca de 16 a 20 semanas consecutivas. Na sequência, há monitoramento dos insetos para constatar a contaminação pelo Wolbachia e, por fim, ocorre o acompanhamento epidemiológico. Na sede da Fiocruz no RJ, uma biofábrica produz cerca de 2 milhões de mosquitos adultos infectados por semana.
Investimento de R$ 22 milhões
O ministro Mandetta destacou que o Ministério da Saúde destinou cerca de R$ 22 milhões para o custeio da pesquisa da Fiocruz, que integrará uma segunda frente de combate ao mosquito, além da utilização de inseticidas, que é o controle biológico.
Segundo ele, a vantagem é que a utilização de tecnologia é autossustentável, já que a tendência é que os mosquitos com a bactéria reproduzam-se até tornarem-se dominantes na natureza. “Além disso, o método é seguro, porque o Wolbachia vive apenas dentro das células dos insetos e a iniciativa não tem nenhum tipo de modificação genética. Não são mosquitos transgênicos”, destaca Mandetta.
Mandetta
Mandetta também destacou que a adoção da imunização contra as cepas de vírus da dengue e das outras doenças transmitidas pelo Aedes aegypti está prestes a ser implantada. Segundo ele, a expectativa do Ministério da Saúde é que no ano que vem uma vacina desenvolvida pelo Instituto Butantã seja apresentada.
“No ano que vem, espero que a pesquisa confirme tudo que temos até o momento e que possa estar disponível o mais rápido possível. É mais uma tentativa, uma nova estratégia para conter o mosquito”, conclui.
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