Mesmo com multas altas, ‘titanzeiros’ vão de tutorial da internet até R$ 10 mil por barulheira

Com equipamentos custando de R$ 500 a R$ 10 mil e tutoriais disponíveis aos montes na internet, os ‘titanzeiros’ – apelido para quem gosta de motos barulhentas –  não se intimidam nem com as multas altas. As sanções do previstas no Código de Trânsito Brasileiro são geralmente aplicadas em blitzes. Mas nesta semana, um motociclista […]

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Foto: Leonardo de França
Foto: Leonardo de França

Com equipamentos custando de R$ 500 a R$ 10 mil e tutoriais disponíveis aos montes na internet, os ‘titanzeiros’ – apelido para quem gosta de motos barulhentas –  não se intimidam nem com as multas altas. As sanções do previstas no Código de Trânsito Brasileiro são geralmente aplicadas em blitzes. Mas nesta semana, um motociclista foi multado em R$ 5 mil pela PMA (Polícia Militar Ambiental).

Isso porque há previsão pelo Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente) determinando um máximo de 99 decibéis para motocicletas fabricadas até 1998 ou o nível descrito no manual para modelos posteriores. Por outro lado, alguns motociclistas garantem que uso do escapamento esportivo é para “serem vistos no trânsito”.

Nas lojas, a opinião é que a falta de regulamentação na fabricação dos acessórios gera um descontrole nas ruas. Até porque muitos dos chamados popularmente de ‘titanzeiros’ nem são donos de Hondas CG Titan, menos ainda querem cortar giro e ‘aparecer’.

O empresário Sandro Campos, 42 anos, proprietário de uma loja de acessórios e manutenção em motocicletas, acredita que há muita gente disposta a investir nos acessórios esportivos, mas que a falha está na regulamentação da fabricação. “Os escapamentos renomados, de marca internacional, eles vêm dentro de um limite no barulho, tem uma tolerância, mas são equipamentos que chegam a custar R$ 10 mil. Uma marca paralela, inclusive os fabricados nos Brasil não têm esse controle de ruído”, disse ao Jornal Midiamax.

Mesmo com multas altas, 'titanzeiros' vão de tutorial da internet até R$ 10 mil por barulheira
Sandro, empresário e motociclista. Foto: Leonardo de França

Sandro ressalta que prefere o escapamento esportivo pela segurança no trânsito, mas que deveria existir uma homologação e controle na fabricação. “Eu não tenho acesso ao aparelho de medição. Particularmente, eu prefiro escapamento esportivo para todas as motos, desde as maiores às menores. Isso ajuda a ser visto no trânsito, traz segurança. Mas precisa existir uma homologação lá na fábrica, para que eles estejam dentro do permitido”, explica.

“É como um capacete sem selo do Inmetro, eu sei que não posso vender, mas para esses escapamentos não existe uma regulamentação. Não existe um selo. Como eu disse, não tenho como medir aqui. Muitos deles já vem da fábrica com o limite alterado, mas nem eu e nem o motociclista sabemos. Claro que tem gente que dá um jeito de tirar do limite, mas se a regulamentação vem de fábrica, é mais fácil de identificar a irregularidade”, afirma Sandro.

Vale lembrar que mesmo as motos esportivas não vêm com o acessório, ele é instalado. “Ele não é um acessório da moto, mesmo a esportiva, o escape esportivo é comprado e instalado. Mas tem os caras que alteram o equipamento por conta própria. O corta giro mesmo, é uma reprogramação no equipamento, os caras pagam caro por isso. Aliás, nada no mundo esportivo é barato. ”, conta Sandro.

Mesmo com multas altas, 'titanzeiros' vão de tutorial da internet até R$ 10 mil por barulheira
Escapamento de uma moto esportiva original de fábrica. Foto: Leonardo de França

“Claro que tem os que só colocam para fazer barulho. As motos grandes vem com o original que faz barulho. Ele vem dentro das normas, mas o brasileiro muda para o esportivo. As Harlley são barulhentas iguais, mas não tem molecada para ficar mexendo. Você não vê harleiro fazendo algazarra, eles andam sozinhos e numa boa, não incomodam ninguém. Agora imagina 10 caras numa moto esportiva, ou numa Titan, fazendo barulho e cortando giro no trânsito, incomoda mesmo”, conclui.

Para o empresário, seria importante que houvesse uma regulamentação disso. “Teria que proibir a fabricação desses escapamentos que estão acima do permitido, porque não chega na loja, se chegar sabe que tá irregular. Eu sou favor do esportivo, desde que tenha uma tolerância a ser seguida, uma legislação que atinja a fábrica lá de cima. Tal marca pode, tem selo. O escape esportivo ajuda no trânsito, mas tem que ter uma política que regulamente e dite as normas”, finaliza.

Mesmo com multas altas, 'titanzeiros' vão de tutorial da internet até R$ 10 mil por barulheira
Escapamento esportivo colocado. Foto: Leonardo de França

PMA

Neste domingo (2), com escapamento alterado, um motociclista foi multado em Corumbá, a 444 quilômetros de Campo Grande, em R$ 5 mil por poluição sonora. Ele foi autuado e pode responder por crime ambiental.

Conforme apurou o Jornal Midiamax, alterar o escapamento de uma motocicleta pode sair de graça, e mesmo com possibilidades de multas, tutoriais são disponibilizados aos montes na internet. De forma caseira, os donos dos canais ensinam como os motociclistas podem alterar os equipamentos para deixar com o ‘barulho’ de escapamentos esportivos originais.

De acordo com a PMA (Polícia Militar Ambiental), as multas ambientais por poluição podem chegar aos R$ 50 milhões, e R$ 5 mil é o valor mínimo. “Claro que a poluição sonora causada por essas motos não chega aos R$ 50 milhões, então aplicamos a multa mínima e a defesa se pronuncia. Depois disso o órgão ambiental define se mantém, aumenta ou reduz o valor”, explicou o tenente-coronel Queiroz.

Ele ainda ressalta que a alteração no escapamento, e as mudanças no veículo são multas de trânsito e não competem à PMA. “Essa é uma multa ambiental pela poluição sonora, as alterações do equipamento geram multas de trânsito, que não competem a nós da PMA”, ressaltou Queiroz.

Para as motocicletas, o ruído máximo permitido é de 80 decibéis, acima disso o condutor pode tomar a multa mínima de R$ 5 mil e responder por crime ambiental. De acordo com o tenente-coronel, essa é a primeira multa aplicada para motocicletas em Mato Grosso do Sul pela PMA e, uma motocicleta alterada pode chegar aos 200 decibéis.

É importante ressaltar que, o decreto federal do Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente) determina um máximo de 99 decibéis (db) para motocicletas fabricadas até 1998 ou o nível descrito no manual para modelos posteriores (entre 75 e 80db conforme a cilindrada).

BPTran

Nesta semana em Campo Grande, oito motocicletas esportivas foram apreendidas pelo BPTran (Batalhão de Polícia Militar de Trânsito), pelo infração nas alterações das características do veículo. De acordo com o Capitão Nascimento, o motociclista pode trocar o escapamento do veículo, o que não pode é estar sem o silenciador ou a alteração ter sido feita de forma clandestina.

“No caso das oito motocicletas apreendidas, todas estavam com a descarga livre. Então nesses casos não precisa nem da medição do decibelímetro. Quando eu identifico a descarga livre ou a falta do silenciador no escapamento esportivo eu posso aplicar a multa pela alteração nas características. O escapamento esportivo precisa estar com selo do Inmetro, e ter o silenciador”, explicou o capitão da BPTran.

Mas Nascimento ressalta que a prisão do condutor se dá apenas na esfera ambiental. “O trânsito só recolhe o veículo, mas pela poluição sonora e o crime ambiental o condutor pode ser preso pelo órgão competente”, conclui.

De acordo com o CTB (Código de Trânsito Brasileiro), no artigo 230, parágrafo VII diz. “Conduzir o veículo com a cor ou característica alterada é uma infração de trânsito grave, e gera multa no valor de R$195,23, além de medida administrativa (com a retenção do veículo para regularização”.

O parágrafo XI, mostra como infração de trânsito conduzir veículo “com descarga livre ou silenciador de motor de explosão defeituoso, deficiente ou inoperante”. Caso o condutor não resolva o problema no momento da autuação, perde 5 pontos na carteira e paga multa de R$127,96.

Motociclistas

Dono de uma motocicleta CB500, Dorival Marinho de 55 anos, ressalta que ajuda muito na identificação no trânsito, mas existem os que só querem aparecer. “Ás vezes você tá no ponto cego do motorista do carro, ele ouve o barulho e sabe que você tá por ali. Na estrada, no trânsito para passar no corredor e chegar na frente no espaço de moto, ajuda muito. Claro que dentro dos bairros, nas ruas sem trânsito, os caras usam para se aparecer mesmo. Status para chamar a atenção”, afirma.

Já o publicitário – prefere não se identificar -, de 26 anos, proprietário de uma Yamaha Factor 125 cilindradas, prefere motos sem barulho. “Olha eu não gosto muito de moto barulhenta, dessas que o pessoal mexe e troca o escapamento, eu sou motociclista há 8 anos e sempre me incomodei com isso. É irritante, e isso incomoda hospitais e creches. Quem usa esses escapamentos não se preocupam onde passam. Agora se o barulho já vem de fábrica tudo bem, mas mexer nela para incomodar as pessoas é complicado, mas gosto é gosto, eu não curto nem um pouco”, relata.

O mecânico de motos, 34 anos,que também não quis se identificar, prefere motos barulhentas por conta da potência do veículo. “Melhora o desempenho da moto, por isso eu prefiro o escapamento esportivo. O trânsito seguro quem faz é o condutor. Dá mais força para a moto. Eu sou super a favor”, explica.

 

 

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