Anunciado nesta segunda-feira (20), a possível transformação do Hotel Campo Grande, localizado na rua 13 de Maio região central, em um condomínio popular trouxe um clima polêmico para quem vive na região. Apesar de parecer uma ideia boa para alguns, há quem seja contrário e esteja planejando um abaixo assinado para expressar o desconforto com o projeto.

Apesar das opiniões nas redes serem de que o projeto se trata de um ‘favelão vertical', a ideia, para alguns comerciantes da região, não é de mau gosto. “É um projeto legal”, como chegou a afirmar uma das comerciantes. “Mas precisa investir em segurança e iluminação na nossa região”, disse.

Por se tratar de um assunto “delicado”, como disseram, os comerciantes preferem não se identificar. Muitos deles chegaram a dizer que preferem esperar que fique pronto o empreendimento para expressar alguma opinião.

Há aqueles que acreditam numa seleção criteriosa. “Depende do público que vão colocar ali. Não dá para ser qualquer um. Se você vai colocar universitários, ok, porque vem estudar. Mas se você abrigar qualquer pessoa é um risco né. Tem que investir em segurança”, replicou um chaveiro da região.

“Na hora do cadastro tem que ser criteriosos. Eu confesso que fiquei sabendo dessa história hoje cedo, estamos ainda aguardando novidades sobre o assunto. Apesar de hoje em dia não conhecermos de fato a índole de ninguém, é preciso ser criterioso, senão só traz a região da antiga rodoviária aqui para cima. Vai ter que investir em iluminação e segurança. Quem fica dos riscos somos nós que trabalhamos aqui”, ressaltou um proprietário de loja na região.

Projeto

Desconhecida ainda por algumas pessoas  a proposta, que ainda depende de recursos, prevê a reestruturação do antigo hotel para 117 unidades habitacionais, sendo 57 apartamentos de 30,98m² e 65 de 28,15m².  

Essas moradias seriam destinadas às pessoas de baixa renda, ou seja, que ganham até 5 salários mínimos, sendo prioridade quem ganha até 3, segundo arquiteto Gabriel Gonçalves, diretor de Habitação e Programas Urbanos da (Agência Municipal de Habitação).

Medo de 'favelão' no Centro divide opiniões, mas arquiteto diz que projeto segue tendência mundial
Com a reforma a lateral do prédio ganhará um mosaico com a foto do poeta Manoel de Barros. (Divulgação, Emha)

Abaixo-assinado

Na contramão da opinião dos comerciantes, os moradores dos prédios da região são completamente contrários, chegando a chamar o projeto de “favelão vertical”, afirmando que a proposta aumentará ainda mais o descaso vivido no centrão de .

“Nós moradores e comerciantes dos edifícios Rachid Neder, Dona Neta e Arnaldo Serra somos extremamente contrários a esse favelão vertical. O descaso no Centro já é grande. Não adianta falar em segurança, porque não dura dois meses, e ai abandonam a gente outra vez”, disse um representante dos moradores.

Segundo eles, as famílias já estão organizando um abaixo-assinado e pretendem até a semana que vem estar com as mais de 300 assinaturas colhidas e o documento ser entregue.

‘Expressão de profundo mau gosto'

Para o arquiteto e urbanista Ângelo Arruda, professor aposentado da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), definir o futuro empreendimento como ‘favelão vertical' é de profundo mau gosto, já que o projeto está muito bem acertado e vai de encontro com a da região central de Campo Grande.

“As pessoas estão muito maldosas. A ideia do condomínio é coerente. Ela concorda com a revitalização do Centro. Levar mais pessoas para a região e usufruir de toda a estrutura, afinal no Centro tem tudo. Investir no Centro para morar não tem algo mais acertado hoje em dia no mundo inteiro, não é apenas em Campo Grande. O projeto acerta com a habitação social na área central”, ressaltou.

Ele ainda destaca que a quantidade de famílias jamais permitiria virar uma favela. “Vai ter contrato, vai ser vendido, vai ter condomínio, sindico. São cento e poucas unidades. Tem os mesmos riscos que qualquer condomínio já existente. O projeto é perfeito”, concluiu.

Reviva Campo Grande

A construção de prédios habitacionais na região faz parte da última etapa do Reviva Campo Grande, que tem como objetivo fazer com que as pessoas voltem a viver no Centro, humanizando o espaço que há anos ficou reservado para lojas e poucos moradores.

“A gente quer um centro mais humano, nós víamos que o centro foi perdendo a população ao longo dos anos por vários motivos: barulho dos carros, trânsito intenso, falta de área verde e depreciação dos prédios. O ponto é melhorar a infraestrutura para que as pessoas voltem a ter interesse em morar ali”, conta Catiana Sabadin, coordenadora de projetos especiais da prefeitura e economista de formação, em entrevista recente ao Jornal Midiamax.

A expectativa é que com o processo de deslocamento de famílias para o Centro, os imóveis que já existem na região e estão ociosos voltem para o ‘radar' dos campo-grandenses em busca de habitação. “Todo mundo ganha com um centro mais habitado”, finalizou.