Não há dúvidas de que o aplicativo de mensagens instantâneas WhatsApp veio para facilitar a vida das pessoas. Essa ferramenta que tanto facilita a comunicação é utilizada por diversos grupos sociais e a as comunidades indígenas não ficam de fora.

Acompanhando as transformações que a sociedade vive, indígenas Guarani e Kaiowá de Mato Grosso do Sul estão fazendo uso de novas tecnologias não apenas para se comunicar, mas também para promover e preservar suas línguas e culturas. Isso despertou o interesse do professor da (Universidade Federal da Grande ) Andérbio Márcio Silva Martins, que atualmente desenvolve a pesquisa “Letramento Digital Móvel entre os Guarani de Mato Grosso do Sul: um estudo sobre as variações linguísticas registradas no WhatsApp”.

A pesquisa faz parte do Pibic (Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica) e conta com a participação do estudante do Teko Arandu Flaviano Franco, da etnia Kaiowá, morador da aldeia Amambai. Flaviano está se graduando na área de Linguagens no curso de Licenciatura Intercultural Indígena e optou, em conjunto com o professor, por trabalhar com o recorte de uma família extensa que vive, em sua maioria, na mesma aldeia.

Como se trata de um grupo da família, as conversas giram em torno do cotidiano da aldeia. “Eles evitam discussões políticas, esportivas e religiosas, comuns em outros grupos do Whats, e focam na realidade da família, querendo saber como estão, se estão precisando de algo, além de divulgar informações de acontecimentos na aldeia e no município”, explica Andérbio.

Peculiaridade

Quando estão na Universidade, comentam as aulas, divulgam informações do curso, fazem piadas e marcam reuniões, como qualquer usuário do aplicativo. A peculiaridade, neste caso, está na troca de códigos linguísticos: ora português, ora guarani. Como se trata de uma comunidade bilíngue, as duas línguas acabam tendo espaço nas redes sociais. “Notamos padrões de escrita do guarani adaptados ao meio digital, como reduções, abreviações, memes e figuras”.

“Além das variações de pronúncia ou escrita para uma mesma coisa, que acontece entre municípios, outra coisa me chamou a atenção. Percebi que indígenas que não falavam a língua materna passaram a se interessar por ela depois de serem colocados no grupo da família, queriam entender o que estava sendo compartilhado”, afirma Flaviano, explicando que algumas dessas pessoas chegaram a se deslocar de Dourados atá Amambai para aprenderem guarani.

Para o professor Andérbio, o uso dessas tecnologias é um marco de liberdade de expressão e de uso irrestrito das mídias sociais em benefício próprio e da própria comunidade. “Acredito que mais do que isso, ajuda a fortalecer a identidade indígena com o uso da língua não apenas na modalidade escrita, mas também oral, uma vez que o aplicativo dispõe dos dois mecanismos”.

A coleta de dados para essa pesquisa já foi finalizada e alguns aspectos analisados. A próxima etapa é fazer a descrição e análise linguística de todos os dados coletados.

(com informações da UFGD)