Insetos muito ativos durante o dia, o número de abelhas tende a aumentar com a proximidade da primavera e o período de calor. E as entre as principais razões para os possíveis ataques delas estão as queimadas, o barulho e a falta de atenção da população, segundo profissionais.

No dia 31 de agosto, um ataque de abelhas em um supermercado na região Central da Capital deixou clientes apavorados, na ocasião pelo menos sete pessoas teriam sofrido picadas e o acesso ao estabelecimento foi bloqueado. Já no dia 3 de setembro, Julio Cesar del Valle Yoyi de 44 anos, morreu atacado por abelhas no município de Pedro Juan Caballero. E um dia depois, 4 de setembro, ois cavalos ficaram feridos, um em estado mais grave chegou a cair no chão, em uma chácara na Avenida Três Barras, em , após ataque dos insetos.

De acordo com a professora e mestre em ecologia e conservação da biodiversidade Luciana Mendes Valério as abelhas acabam regulando a temperatura e nesse período de espécis florescendo, inclusive os ipês, aumentam o número de colmeias, já que esses insetos são muito mais ativos nesse período de calor.

“Nós temos muitos ipês florescendo. As abelhas, não é o termo correto, mas vou expressar dessa forma para melhorar o entendimento, acabam regulando a temperatura, quando está mais frio elas ficam menos ativas. Já no calor as atividades das colmeias tendem a aumentar e nós estamos enfrentando um período de calor excessivo”, explica.

Sobre os ataques que acontecem, Luciana explica que a fumaça das queimadas, o barulho e até mesmo a tentativa de defesa pode deixar os animais mais irritados culminando nos ataques. “As queimadas para tentar eliminar as abelhas acabam deixando elas mais irritadas, o barulho de cachorro latindo, música alta, cortador de grama também afetam o comportamento dos insetos e quando nós tentamos nos defender esmagando uma delas, as outras vem atrás por conta do cheiro que aquela lá liberou”, revela a bióloga.

“Elas fazem uma trilha química de feromônio. Se reconhecem por esse cheiro, então quanto mais abelhas você esmaga, mais abelhas vão aparecer para atacar. É o mecanismo de defesa delas. A falta de atenção da população pode culminar no ataque também”, conta.

Ainda conforme a professora, o mais seguro, caso a pessoa queira retirar a colmeia de algum lugar é que isso seja feito no período noturno quando os animais estão mais inativos. “Elas se concentram na colônia a noite, não é ideal matar os animais, mas a retirada é muito mais segura nesse período. A pessoa deve acionar o ou um apicultor que podem fazer esse serviço de forma correta”, diz.

Estatísticas 

Em Mato Grosso do Sul, dados do Corpo de Bombeiros mostram que no ano passado a corporação atendeu a 1.565 chamados relacionados aos insetos, resultando numa média mensal de 130. Em 2019 foram realizados 431 atendimentos do tipo. Um grupo de apicultores já está se organizando para ajudar a população em como agir nesses casos.

Grupo de Apicultores

O recente aumento dos casos de enxame de abelhas em Mato Grosso do Sul, mobilizou apicultores que criaram um grupo no whattsapp para melhorar a comunicação entre a população e os profissionais.

O grupo “Enxames em Campo Grande”, foi criado em agosto e reúne apicultores e integrantes do Corpo de Bombeiros para a discussão desses casos. “Estamos em fase de implementação, discutindo ainda, como vamos ajudar a população nesses casos. Temos o contato do Corpo de Bombeiros para nos auxiliar na comunicação das ocorrências e já temos a adesão de alguns apicultores que poderiam ajudar a população gratuitamente”, explica o criador do grupo, o apicultor Matheus Dallasta.

O grupo está se organizando para atender a população da Capital. De acordo com Matheus, além de fortalecer o elo de comunicação com a população, através de informações e atendimento gratuito, o objetivo de grupo é também preservar as abelhas. “Temos toda uma questão conservacionista também por trás, mas o intuito maior é de poder colaborar para que a população fique tranquila”, explica o apicultor.

Matheus explica sobre o recente desaparecimento das abelhas, inseto fundamental para a cadeia alimentar por conta da polinização. O desaparecimento das abelhas segundo ele, se dá devido ao crescente aumento dos agrotóxicos nas lavouras o que acaba prejudicando a polinização essencial para a produção vegetal. “A criação de grupo também se preocupa com o desaparecimento desses insetos. Eles são essenciais para a biodiversidade”, conclui Matheus.

Calorão e queimadas incomodam abelhas e ataques ficam mais frequentes
(Animais recebendo atendimento do Corpo de Bombeiros)

Orientações

Apicultor há 25 anos, Adriano Reis, ressalta que em casos de enxames a primeira orientação é ligar para o Corpo de Bombeiros ou a PMA (Polícia Militar Ambiental). A segunda é a contratação de um profissional. “Não pode ser feito nenhum tipo de procedimento como colocar fogo, ou qualquer outro tipo de conduta. Isso é muito perigoso”, recomenda.

Adriano também destaca a importância de não atacar os insetos e se afastar o mais rápido possível numa distância em quem elas não alcancem. Se a pessoa estiver dentro de uma vegetação deve procurar uma área que esteja mais fechada para se esconder.

Outra orientação é em caso de pescaria, se a pessoa estiver próximo às margens de um rio ou dentro de um barco, antes de cair na água deve colocar o colete salva – vidas. O uso de  camiseta de manga comprida, calças e algo que possa jogar na cabeça são sempre recomendados para evitar possíveis ataques.

Alergias

Para as pessoas que apresentam reação alérgica ao inseto é importante a agilidade no socorro, afinal segundo a professora Luciana Mendes, uma única picada pode levar a morte.

Além disso, o médico Paulo Sérgio Buanain, alerta sobre o caso mais grave de alergia de insetos: o choque anafilático de edema de Glote, caso considerado mais grave de uma pessoa que é picada por insetos, inclusive abelhas.

“O choque anafilático é uma alteração muito importante e perigosa do sistema imunológico. É uma reação alérgica grave que surge poucos segundos, ou minutos, após se estar em contato com uma substância a que se tem alergia, como camarão, veneno de abelha, alguns medicamentos ou alimentos, por exemplo. Nesses casos, a pessoa deve procurar imediatamente o posto de saúde mais próximo”, explica o médico.

Os sintomas do edema de glote são: dificuldade de respirar, engolir, a voz fica mais grossa, e garganta arranha.  Nesse caso mais grave, a pessoa alérgica que é picada corre risco de morte se não for atendida com rapidez.

Segundo o alergista, nos hospitais e postos de saúde, há a introdução de adrenalina injetável – procedimento feita de início para a resolução do quadro. A orientação do médico para as pessoas que moram no campo e tem diagnóstico de alergia ao inseto é a compra de uma caneta injetável de adrenalina, para que seja feito o procedimento com rapidez.

“Esse medicamento não existe no Brasil e tem um valor relativamente alto. Já houve caso no consultório, de pessoas que adquiririam a adrenalina para evitar o risco de morte principalmente nos lugares mais afastados dos hospitais e postos de saúde”, conclui.

Serviço

A população que deseja ajuda sobre como lidar com as situações de enxame, além de informações, a orientação é que entre em contato com o número 99243 – 1380. O grupo de apicultores orienta a população e faz atendimento ao local do possível enxame.

Além disso, a população pode acionar também o Corpo de Bombeiros em caso de alguma ocorrência no 193.

(Colaborou Thierre Mônaco e Guilherme Cavalcante)