Cícero Saad Cruz, diretor da Mineworld, investigada em ação civil pública por prática de pirâmide financeira, move pelo menos sete ações criminais no TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul) contra ex-investidores da empresa.

Em comum, as ações trazem que os ex-investidores ofenderam e até mesmo ameaçaram Saad ou sua esposa, Yslanda Maria Alves Barros, em chats na internet ou em grupos de WhatsApp, principalmente após informações sobre o casamento de Saad vazarem nas redes sociais, conforme publicou o Jornal Midiamax.

Três das ações no TJMS foram iniciadas em 6 de junho. As quatro restantes, que também podem ser acessadas no e-Saj do TJMS, foram iniciadas no último dia 19 de junho. Conforme as descrições no sistema, ações são classificadas como sendo “Representação Criminal/Notícia de Crime / Intimação / Notificação”, “Notificação para Explicações / Injúria” ou “Notificação para Explicações / Calúnia”. Vale lembrar que nenhum dos interpelados é residente em MS.

“O interpelado publicou e replicou através do aplicativo WhatsApp em seu grupo, manifestações que podem configurar crimes contra a honra (calúnia, difamação e injuria), cujas penas somadas superam 2 anos, daí a competência da Justiça comum estadual, conforme se vê dos documentos anexados logo abaixo”, traz trecho de uma das petições assinadas pelo advogado Luiz Marlan Nunes.

A estrutura é semelhante nas sete ações, nas quais o advogado relata o da empresa e revela lucros decorrentes de investimentos dos interpelados. Apesar de não mencionar que a e Saad e mais outros tantos são réus em Ação Civil Pública que corre na 2ª Vara de Direitos Difusos Coletivos e Individuais Homogêneos de , as peças trazem relato do roubo de 821 bitcoins após suposto ataque hacker na conta da empresa na exchange Poloniex.

As peças também descrevem que os interpelados obtiveram o lucro prometido a partir da associação à Minerworld. Porém, não há entre as argumentações informações claras se tais valores conseguiram ser sacados pelos ex-investidores.

Difamação nas redes

As peças trazem prints de grupos de WhatsApp e servem de base para argumentar que os interpelados pretendiam, de alguma forma, atrapalhar a cerimônia de casamento realizada em São Paulo no último dia 22 de junho. Num dos prints anexados à respectiva ação, um dos interpelados escreveu: “Cadeia neste bandido, obrigar a devolver tudo que ludibriou”, após informações do casamento de luxo serem vazadas nas redes.

Após ofensas no WhatsApp, dono da Minerworld processa ex-investidores

“Ao se utilizar da expressão ‘Cadeia neste bandido, obrigar a devolver tudo que ludibriou', o interpelado se referia ao interpelante? Se sim, tem notícia o interpelado de qualquer condenação do interpelante para qualificá-lo como ‘bandido' ou pessoa que ludibria outras? Sendo assim, busca-se a interpelação criminal do referido cidadão”, traz a peça.

“Pelo exposto, dando-se à causa o valor de R$ 1.000,00 (um mil reais), considerada a intensa gravidade das afirmações públicas articuladas pelo interpelado via do aplicativo WhatsApp, dando-lhe a oportunidade da retratação, requer-se seja ele, por ato desse MM. Juízo, interpelado criminalmente, para que esclareça os fatos acima relacionados, elucidando e justificando precisamente sua conduta, sob pena de ver processado como incurso nas sanções previstas nos artigos 138, 139 e 140 do Código Penal, além de outras responsabilizações”.

Em outra ação, mais recente, o interpelado publica a lista de presentes on-line do casamento de Cícero Saad e Yslana após integrantes de um grupo de ex-investidores no WhatsApp levantarem suspeita da veracidade do convite do casamento, que vazou na internet.

“O interpelado iniciou e passou a promover, com mentiras e leviandades, uma campanha contra a honra do interpelante (…) quiçá com o objetivo risível de induzir inclusive outras pessoas a buscar formas de agressão física e moral contra o interpelante”, traz a manifestação do advogado.

“Não bastasse a maledicência com os argumentos implantados via WhatsApp, sabendo que o interpelante está prestes a realizar um sonho de sua vida, o casamento, que se realizará neste mês de junho na cidade de São Paulo/SP, o interpelado, cego pela vontade de ofender, começou a efetuar ligações difamatórias, por vezes agressivas, deixando clara a intenção de ofender e aviltar a reputação, a dignidade, o decoro e o caráter do interpelante, de forma isolada dos demais sócios fundadores da mesma empresa”, traz outro trecho de uma das ações movidas por Saad contra ex-investidores.

Casamento polêmico

Cerca de dois meses antes do casamento, informações sobre uma cerimônia que uniria Cícero Saad e a corretora de imóveis Yslanda Maria Alves Barros causou revolta em ex-investidores e levantou questionamento sobre de onde surgiu dinheiro para custear as despesas.

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Convite do casamento vazou nas redes sociais (Foto: Reprodução | WhatsApp)

Isso porque, de acordo com o bloqueio de bens ordenado na ação que corre na 2ª Vara de Direitos Difusos Individuais e Coletivos Homogêneos de Campo Grande, no nome do Saad consta apenas uma moto Honda CG 125, cujo preço é estimado em R$ 4 mil.

Em janeiro, após a primeira audiência da ação, na qual Saad compareceu, o advogado do líder da Minerworld, Rafael Echeverria, afirmou à reportagem que Saad estaria dependendo de ajuda financeira da família. “[Ele está] sem nenhuma receita, nada está entrando. Essa é a realidade. Quem tem dado suporte financeiro é a família”, declarou ao Jornal Midiamax.

Na ocasião, imagens do convite do casamento, informações sobre o custo do buffet e a luxuosa lista de presentes, assim como fotos de Saad e Yslanda na Europa, começaram a circular, principalmente em grupos de WhatsApp. Viralizaram, por assim dizer. A informação de um casamento cheio de pompas para quem tem apenas uma moto – bloqueada – de R$ 4 mil em seu nome gerou indignação.