Eles enfrentam uma jornada de trabalho exaustiva, os uniformes de manga comprida mesmo em dias de calor intenso, além, é claro, do desrespeito do trânsito. Nada mais justo que um dia especial em comemoração à profissão. Nesta segunda-feira (24), é comemorado o Dia Nacional do Mototaxista.

O trabalho foi regulamentado em Campo Grande há mais de vinte anos e ainda continua como um dos preferidos entre os consumidores, garantem os trabalhadores. O mototaxista Valdecir Faria Rocha começou na profissão desde que o serviço foi permitido na cidade e, com tantos anos em cima de uma moto, ele conta que viu várias ‘modas’ passarem, mas que o serviço de mototáxi sempre foi a principal escolha para muitos passageiros.
“Quando começou o Uber, por exemplo, muita gente aderiu, porque estava na moda, acharam que a gente ia ficar para trás. Não é assim, a moda passa e nós sempre temos nossos passageiros, que são pessoas que querem um serviço barato e ágil”, conta.
A agilidade é citada como a principal qualidade dos mototaxistas, mas eles garantem que não correm. “Até tem gente que corre, que é imprudente, o que faz com que as pessoas pensem coisas errada sobre nós”, reclama Neide Freitas, de 53 anos.

Neide é uma exceção nos pontos de mototaxi, geralmente com motoristas homens. Para ela, a vida na profissão é dura, mas vale a pena. “Eu decidi virar mototaxista para ser autônoma, podemos fazer o nosso horário. Sem falar que é só sair na rua que você consegue o seu dinheiro, não precisa esperar de mês em mês”.
José Franca Aguiar, de 47 anos, começou a vida de mototaxista em 2001, mas passou anos longe da moto até voltar para a profissão. Ele conta que aproveita as oportunidades de trabalho que aparecem, mas há quase quatro anos resolveu voltar a ser mototaxista por paixão. “É uma profissão que eu gosto, eu gosto de ser motoqueiro, apesar do trânsito caótico, do desrespeito, dos perigos”, explica.

O perigo no trânsito
Os mototaxistas desbravam a cidade para levar passageiros em todas as sete regiões de Campo Grande, mas mesmo ao longo de anos de profissão e até alguns acidentes, o trânsito maluco e o desrespeito de outros motoristas não intimidam. “É uma profissão como qualquer outra, todo mundo está sujeito a sofrer um acidente. Talvez a gente esteja se arriscando um pouco mais, mas todos podem se machucar”, diz Neide.

José já sofreu um acidente por causa da imprudência de outro motorista e conta que ficou por quase duas horas sem sentir o corpo da cintura para baixo. Apesar do medo de nunca mais andar novamente, o trauma da moto foi desaparecendo e, em poucas semanas, ele já estava preparado para voltar à ativa. “Teve uma vez que o carro se aproximou e eu já subi na calçada, com medo de ser atropelado de novo. É a minha profissão, aos poucos fui me acostumando com a moto e o trânsito”, diz.
Como a atenção no trânsito para quem dirige uma moto é ainda mais importante, os mototaxistas explicam que evitam conversar com os passageiros durante o trajeto, mas que às vezes sobra um tempinho para conhecer novas histórias. José relembra dos passageiros que já pegou, mas ficou marcado pela história de uma mulher que sofria violência doméstica.
“Ela me contou que apanhava do marido, chorava muito. Eu a aconselhei a sair daquela situação, eu disse que só ela poderia resolver esta história, que era denunciando e ficando muito longe dele. Na hora de deixá-la em casa, eu disse ‘se lembre do que eu te disse, você pode mudar a sua história’ e eu espero que ela esteja bem”, relembra.

O mototaxista Valdecir conta que os clientes adoram conversar, mas para não deixar os clientes ‘no vácuo’, acena e concorda mesmo sem escutar. “Na moto a gente tem que prestar muita atenção, eu fecho a viseira e dirijo. Se o cliente fica conversando, eu só balanço a cabeça e digo ‘aham, é mesmo’, mesmo sem saber o que ele disse”, brinca.