Com reportagem de Mylena Rocha e Thatiana Melo 

Em 48 horas, dois incidentes envolvendo crianças e disparos acidentais de armas de fogo em Mato Grosso do Sul revelam os riscos e a falta de preparo para a posse responsável de armamento de forma a garantir a segurança. O caso mais grave aconteceu quinta-feira (18), quando Vicente de Oliveira Silva, de 10 anos, morreu após ser atingido por um disparo acidental efetuado pelo pai, que mostrava uma espingarda a um amigo.

O incidente em Sidrolândia, a 70 quilômetros de Campo Grande, e revela o despreparo de boa parte da população para ter posse e manusear armamentos. O pai, identificado apenas como Gerson, de 44 anos, fugiu após matar o filho porque tinha um mandado de prisão em aberto.

Na quarta-feira, um menino de nove anos, filho de legistas da Polícia Civil, foi para uma escola particular de Campo Grande armado e acabou disparando acidentalmente contra a perna. A criança levou uma pistola calibre 637 para a escola dentro da lancheira. O tiro transfixou a coxa e atingiu o seu pé. O menino foi socorrido e recebeu alta no dia seguinte.

O caso, que ganhou repercussão nacional, revela também os riscos de ter uma arma em casa. A pistola levada pelo menino não era a de uso profissional do legista. O delegado Rodrigo Camapum, responsável pelo caso, afirmou que os pais podem ser criminalmente responsabilizados dentro do artigo 13 do Estatuto do Desarmamento.

A lei prevê pena de prisão para quem “deixar de observar as cautelas necessárias para impedir que menor de 18 (dezoito) anos ou pessoa portadora de deficiência mental se apodere de arma de fogo que esteja sob sua posse ou que seja de sua propriedade”.

Cuidados

O delegado Márcio Shiro Obara, titular da Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes de Homicídio e instrutor de armamento e tiro da Acadepol (Academia de Polícia Civil), é taxativo ao afirmar que as armas sempre devem ser guardadas em um local fora do alcance, não só de crianças, como de qualquer pessoa que não esteja autorizada a usar. “Quem tem arma tem responsabilidade, então deixar fora do alcance tanto de crianças como de outras pessoas. Por exemplo, se eu tenho pessoas na família com histórico de depressão, devo manter longe”.

Segundo Shiro Obara, é difícil definir o local adequado, mas ele diz que o lugar escolhido deve ser mais alto e de maior dificuldade de acesso.

Tanto Obara quanto psicóloga infantil e professora na Uniderp, Mayara Mendes Bacha Coco, indicam que é necessário manter aberto o diálogo com crianças e jovens. É importante que os pais mantenham o diálogo sobre o porquê que as armas não devem ser manuseadas por pessoas não autorizados e sobre o risco.

Outra dica preciosa é jamais manusear um armamento na frente da criança. “Eu não tenho que manusear na frente da criança, ainda que seja para mostrar. Observando, ela a aprende e, num ato de curiosidade, pode gerar uma ocorrência mais grave”, diz.