Na última semana o Conselho Nacional de Educação aprovou as novas diretrizes do Ensino Médio, entre as medidas previstas está a possibilidade de até 20% da carga horária do ensino médio ser ofertada na modalidade a distância, podendo chegar a 30% no caso do ensino médio noturno. O Jornal Midiamax ouviu especialistas da área sobre a medida e a possibilidade de implementação.

A professora e vice-presidente da (Federação dos Trabalhadores em Educação de Mato Grosso do Sul), Sueli Veiga Melo, de 53 anos, revela que a entidade é contrária a medida. Entre as razões expressas pela profissional, que tem 35 anos de experiência na área da educação, está o fato de que a educação básica precisa ser presencial.

Sueli conta que a educação básica engloba o ensino infantil, fundamental e médio. De acordo com ela, esse período é um momento de formação geral do estudante, tanto para vida, quando para o mercado de trabalho ou universidade, “é inconcebível uma parte tão importante ser a distância”.

“Quando você pega uma parte da educação e passa ela para ser a distância, você tira uma parte importante do conteúdo, a interação. Tira a possibilidade da discussão da matéria, que é fundamental nessa etapa do conhecimento, esse direito da integração professor com aluno, não adianta dizer que é igual, por que não é”, pontua Sueli sobre a medida.

Ao ser questionada sobre as possíveis consequências da implementação a profissional questiona as afirmações de que é uma boa estratégia.

“Melhor pra quem? Porque se EAD fosse tão boa teriam cursos de medicina, direito e engenharia. Porque na educação básica, quando você está em processo de formação do aluno, vai colocar a distância? ”, argumenta a professora.

Sueli ainda pontua que a medida vai aprofundar ainda mais a desigualdade social, já que essas pessoas terão ainda mais dificuldade de ingressar nas universidades.

Já professora e chefe de Divisão de Educação a Distância da SEDFOR/ (Secretaria Especial de Educação a Distância e Formação de Professores), Daiani Damm Tonetto, de 31 anos, argumenta que mesmo sendo uma defensora do ensino a distância, a medida é um “tiro no pé” da educação brasileira.

Entre os argumentos ressaltados pela profissional estão a dificuldade de acesso a tecnologias e a falta de uma cultura de aprendizagem, que segundo ela ainda não existe no Brasil.

“Se você vai trabalhar a distância, precisa garantir condições de acesso a internet a todos os alunos, eles não podem ser prejudicados pela falta de acesso, a maioria das escolas não tem acesso a internet, não tem computador, como eles vão passar por esses processos de formação, se não têm nem o básico? ”, argumenta a especialista.

“Na minha opinião essa aprovação foi um tiro no pé, porque ela não reflete a realidade do ensino público brasileiro, a gente não sabe como vai ser implementado, se forem disciplinas optativas, esses alunos vão ser prejudicados”, ressalta Daiani Tonetto.

A pesquisadora, que desenvolve um trabalho de formação com professores para o uso de tecnologias em sala de aula, ressalta que a falta de infraestrutura e a pouca familiaridade com tecnologia pode aumentar ainda mais a desigualdade social, já tão grande no país. Ela defende que o ensino precisa ser reformulado, mas afirma que não da forma como vem ocorrendo.

“Olha, com o conhecimento que a gente tem, com o formato de sala de aula de que a gente tem, eu acho que não tem como funcionar. Os alunos não estão preparados, esses jovens não entendem que a tecnologia pode ser um instrumento de aprendizagem. A infraestrutura das escolas e a desigualdade social não vão dar as mesmas chances para todo mundo ter acesso” pontua a profissional.