Detentas de Campo Grande fabricam perucas para mulheres em tratamento de câncer

Trabalho é voluntário e garante apenas remição de pena

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Detentas do Instituto Penal Feminino Irmã Zorzi, presídio de segurança média em Campo Grande, participam de um projeto em parceria com a Rede Feminina de Combate ao Câncer para devolver a autoestima a mulheres que lutam contra o câncer. Elas confeccionam as perucas que serão doadas a mulheres atendidas pela Rede Feminina. 

Detentas de Campo Grande fabricam perucas para mulheres em tratamento de câncer
Dirce da Silva Ramos ensina as detentas, da higienização dos cabelos até a costura das perucas

Dirce da Silva Ramos, de 54 anos, voluntária da Rede Feminina há 3 anos, é instrutora no projeto e conta que a iniciativa nasceu em 2016 com a participação de 10 presidiárias. 

As mulheres que fazem o trabalho são voluntárias, elas recebem o direito à remição da pena, mas não recebem qualquer tipo de remuneração.

A iniciativa nasceu como um projeto de trabalho voluntário e se mantém como tal, mas passa por dificuldades, já que a falta de incentivo financeiro afasta novas participantes.

Remição da pena
A remição da pena é um direito garantido às participantes do projeto. Ela é prevista na Lei de Execução Penal, onde é garantido um dia a menos de pena a cada três dias de trabalho, para quem cumpre pena em regime fechado ou semiaberto

Dirce relata que o projeto consegue ficar no máximo com três mulheres, hoje conta com duas pessoas trabalhando, o que prejudica a continuidade e o desenvolvimento das atividades. A cada nova “turma”, todo processo de ensino é reiniciado, o que demora e atrasa a confecção das perucas. Dirce ainda fala que em muitos momentos precisa ir mais vezes ao presídio para terminar o trabalho, já que são poucas voluntárias.

A iniciativa solidária, que tem como objetivo unir ensino, ocupação produtiva e auxílio à comunidade, hoje, corre risco de fechar por inúmeros problemas, a diminuição no número de participantes e a falta de materiais para fabricação são os maiores.

As máquinas de costura e a infraestrutura são cedidas para o projeto mas faltam muitos materiais. Muitas vezes o material para confecção das perucas é comprado pela instrutora Dirce.

“Nós aqui, é tudo doação, doação do tempo, doação de cabelo, doação de material”  Dirce, voluntária.

Detentas de Campo Grande fabricam perucas para mulheres em tratamento de câncer
M.R.B diz que pretende continuar trabalhando com perucas quando sair do presídio

A detenta M.R.B, de 39 anos, participa do projeto desde janeiro de 2017. Ao Jornal Midiamax ela conta que já trabalhava com costura e cabelos antes do presídio e  que a iniciativa mudou sua perspectiva ali dentro. “É muito bom né, porque é difícil aqui, trabalhando a gente sai, ajuda e aprende né, eu gosto disso”, afirma.

Segundo M.R.B, um dos grandes motivos da falta de participantes é o  trabalho voluntário. Ela relata que a vida no presídio é difícil: é preciso pagar por suprimentos de higiene pessoal, limpeza e alimentação fora do fornecido pela instituição. Sem uma rede de suporte fora da penitenciária, não é viável trabalhar em um projeto sem remuneração.

“Eu nunca pensei em sair porque tenho minha família que me dá suporte, me manda dinheiro, me ajuda, e quem não tem? É muito difícil, eu entendo, o pessoal precisa ganhar para se manter” afirma M.R.B.

Confeccionar uma peruca não é um trabalho fácil. É complicado limpar o cabelo, montar as perucas, costurar mecha por mecha, é um trabalho delicado e difícil. 

A Rede Feminina trabalha com o apoio do Hospital do Câncer Alfredo Abrão, de Campo Grande, e além do curso para fabricação das perucas no presídio realiza outros projetos de assistência aos pacientes, como doação de kits higiênicos para pessoas em tratamento sem condições financeiras de comprar ou o “Chá do amor”. As voluntárias doam chás, bolos, pão com manteiga, biscoitos e bolachas, depois distribuem pelo hospital todos os dias de manhã e à tarde.

Magda Braz Alves, presidente da Rede Feminina de combate ao câncer, conta que recebe doações de perucas de um cabeleireiro voluntário e do projeto em parceria com o do Instituto Penal. Segundo ela, a Rede recebe de 10 a 12 perucas por mês, e faz doações a quem procura.

“Nós doamos para quem precise. Hoje a Rede não tem restrições, atende qualquer paciente que está em tratamento de câncer pelo SUS”, afirma Magda.

 

Detentas de Campo Grande fabricam perucas para mulheres em tratamento de câncer
Com o cabelo selecionado e limpo, cada peruca demora cerca de 4h e meia para ser confeccionada

Quem tiver interesse em participar da Rede Feminina ou fazer doações, pode entrar em contato pelo telefone 3324-7676

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