Com o objetivo de diminuir os índices de violência contra a mulher, um projeto de lei propõe a criação de um cadastro de agressores em Campo Grande. A ideia é que os homens que cometerem crimes contra as mulheres terão seus nomes cadastrados em um banco de dados municipal com acesso online.

Com 803 casos de violência doméstica em 2018, Capital pode ganhar cadastro de agressores
Campo Grande tem média de 133 casos de violência doméstica por mês. (Dados: Sejusp)

A violência contra a mulher figura as páginas policiais dos jornais todos os dias. Só nesta semana, uma mulher levou golpes de faca no rosto após pedir a separação para o marido. Yara também virou estatística, ao ser assassinada pelo ex-marido por se recusar a mostrar o celular. Em Campo Grande, foram registrados 803 casos de violência doméstica e três feminicídios desde o início do ano, de acordo com dados da Sejusp (Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública). Mato Grosso do Sul é líder em processos de violência doméstica contra a mulher, com 30,8 denúncias para cada mil mulheres, segundo pesquisa do CNJ (Conselho Nacional de Justiça).

O projeto do cadastro de agressores, de autoria do vereador Odilon de Oliveira (PDT), foi protocolado em março e entrou em pauta para votação na semana passada. “O machismo ainda existe, as mulheres estão conquistando seus espaços, mas ainda são muitas que vivem sob ameaças”, afirma o vereador.

De acordo com o projeto, caberia à SESDE (Secretaria Especial de Segurança e Defesa Social) o cadastro e a responsabilidade de regulamentar a criação, atualização, divulgação e o acesso. O cadastro teria dados pessoais do agressor, idade, circunstâncias e local em que o crime foi praticado, endereço atualizado e histórico de crimes. Para o cidadão, o acesso permitiria a visualização apenas da foto e o crime cometido pelo autor.

Para a cientista social e militante do movimento feminista, Natália Zie, constranger o agressor é uma estratégia para coibir a violência doméstica. “É uma iniciativa interessante, são formas de constranger o agressor e também é importante que a mulher tenha acesso a isso”, afirma.

Segundo Zie, o projeto é válido, mas sozinho não é o suficiente para acabar com a violência contra a mulher na Capital.

“A violência doméstica é uma problemática socio-histórica de ordem estrutural. A gente precisa trabalhar o setor da repreensão sim, mas a prevenção e conscientização sobre os direitos é muito importante. O que, de fato, mudará as relações sociais é a compreensão de que toda mulher tem o direito à dignidade humana”, explica.

Na Câmara, um vereador foi contra o projeto e declarou que o Estado já detém os dados e que a pessoa interessada pode solicitar informações por meio de antecedentes criminais. Para o vereador autor do projeto, fazer a solicitação de antecedentes criminais é um processo longo e demorado. “Neste período, a mulher estará suscetível a correr riscos”, afirma Odilon.

A Comissão de Assistência Social do Município pediu vistas ao projeto e deve analisar por 15 dias antes de colocar o projeto de lei em votação.