Apesar de risco, moradores da Vespasiano se recusam a deixar casas

Moradores do bairro Vespasiano Martins podem ser transferidos devido a problemas na estrutura das casas. Os moradores ocupavam a Cidade de Deus quando se mudaram para o bairro há dois anos e se recusam a sair. A Emha alega que as casas ameaçam a segurança das famílias devido a problemas no solo.

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Moradores do bairro Vespasiano Martins, que devem ser transferidos devido a problemas na estrutura das casas, se recusam a sair do local. Eles ocupavam a favela Cidade de Deus quando se mudaram para o bairro há dois anos e dizem que não há justificativa para deixar o local e que a mudança é repentina. A Emha (Agência Municipal de Habitação) alega que as casas ameaçam a segurança das famílias devido a problemas no solo.

Apesar de risco, moradores da Vespasiano se recusam a deixar casas
Algumas casas apresentam rachaduras, mas os moradores acreditam estar seguros. (Foto: Marcos Ermínio)

De acordo com informações da Emha, foi feito um laudo técnico para avaliar a questão estrutural das casas construídas. “As casas apresentaram problemas estruturais, que colocam as famílias em risco. O solo é irregular, o rebaixamento gastaria muito mais do que transferir para outro lugar. Ali quando chove, a água entra dentro das casas, o solo é arenoso, não tem fundação para as casas”, diz a assessoria.

A Prefeitura também afirma que as famílias não podem permanecer no local. “As casas do Vespasiano Martins estão condenadas desde a sua fundação, em decorrência de construção em solo arenoso, sobre lençol freático aflorante, o que inviabiliza a permanência destas famílias no local, sob risco de danos à saúde”, disse em nota.

Rosângela Ximenes, de 32 anos, mora no Vespasiano há mais de dois anos e não vê motivos para sair dali. Para ela, as casas foram mal construídas, mas não oferecem perigo para a segurança das famílias. “Eu nunca vi acontecer nada aqui, nunca cedeu nada, não temos rachaduras e nem alaga. A casa foi entregue sem acabamento, sem vaso, pia, instalação elétrica, nós que arrumamos tudo”, diz. Para viver com mais conforto, Rosângela colocou piso, rebocou a casa, pintou e até colocou porta, que a casa não tinha. Ao todo, foram mais de R$ 5 mil investidos. “E agora querem tirar a gente daqui e levar para onde? E nosso dinheiro investido? Foi tudo à toa?”, questiona.

Ângela Vais, de 57 anos, fez até empréstimo para arrumar sua casa. Além de melhoria na estrutura, fez uma horta no quintal. Ângela acredita que enfim encontrou um lar e não quer se mudar. “Faz uns 10 dias que vieram aqui falar isso. Ninguém nunca disse que isso aqui era provisório nem que tinha perigo. Disseram que vão nos levar para um apartamento, eu não quero, onde vou criar minhas plantas? Onde meus netos vão brincar?”

Apesar de risco, moradores da Vespasiano se recusam a deixar casas
Ângela se apegou à casa e até fez uma horta no quintal. (Foto: Marcos Ermínio)

Segundo a Emha, os moradores sempre tiveram ciência de que a moradia era provisória. “A Emha não pode se responsabilizar por isso e deixar os moradores em área de risco”, afirma. Apesar da recusa dos moradores, a Emha afirma que a segurança é mais importante e eles devem sair. Ainda não há um local definido para ser a nova moradia da comunidade e também não há prazo para a transferência.

Apesar de risco, moradores da Vespasiano se recusam a deixar casas
O filho de Sandra tem várias alergias e, por isso, ela precisou colocar piso em sua casa. (Foto: Marcos Ermínio)

Sandra Patrícia Gomes, de 30 anos, lamenta a possibilidade de se mudar. A dona de casa mora em uma rua que sempre alaga com as chuvas, mas afirma que a água nunca atingiu nenhuma das casas. “Falaram que a casa vai cair em cinco anos, isso aqui se tivesse que cair, já tinha acontecido. Não tem problema nenhum aqui”, diz.

Sandra também investiu na casa do Vespasiano, para rebocar e colocar piso, foi cerca de R$ 1,4 mil. “Meu filho tem muitas alergias, toma muitos remédios. O médico falou que ele não podia ficar no chão batido, tínhamos que colocar o piso”, justifica.

A construção de casas para os ex-moradores da Cidade de Deus já são um problema conhecido. Na época, uma ONG foi responsável pelo projeto de mutirão que construiu parte das casas das pessoas que viviam na favela. “É um convênio que teve na gestão passada, a Emha não foi consultada para fazer a cartilha. Essa ONG Morhar tem vários processos, o dono da empresa sumiu”, afirma a assessoria.

Processo

De acordo com a Prefeitura de Campo Grande, o processo administrativo da Morhar se encontra na Procuradoria Geral do Município para medida de contas especial. “As unidades habitacionais construídas mediante convênio firmado entre a ONG Morhar e a Prefeitura, durante a gestão passada, apresentam problemas estruturais em TODAS as moradias entregues ou ainda em fase de construção, à época abandonada pela organização social”.

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