O comércio informal nas ruas centrais de já foi um problema para a cidade. Para resolver, em 1998 a Prefeitura criou o , que concentrou em uma espécie de shopping popular na avenida Afonso Pena os ambulantes que incomodavam pedestres e lojistas no Centro. Agora, 20 anos depois, os camelôs voltam a ocupar as calçadas.

Quem caminha pelo Centro de Campo Grande percebe um aumento no número de vendedores que utilizam calçadas das ruas para vender seus produtos e garantir uma renda no final do mês. A crise econômica que provocou o aumento dos níveis de desemprego no Brasil levou centenas de sul-mato-grossenses para a informalidade.

Próximo ao ‘coração da Capital', no cruzamento da Avenida Afonso Pena com a Rua 14 de Julho, é possível encontrar José Aparecido, de 57 anos, vendendo brinquedos. Entre pequenos cavalos, bolas coloridas e carrinhos, o vendedor comenta que já se passaram 10 anos desde que optou pelo comércio ambulante.

“Eu mudo o ponto de venda de vez em quando, fico rodando né. As vendas nos últimos dias têm sido fracas. Deve ser por causa do fim do mês”, disse ao Jornal Midiamax.

O vendedor diz que teve poucas oportunidades na vida, pois estudou apenas até o 7° ano e que, em algumas ocasiões, até tentou trabalhar no Camelódromo, mas nunca teve oportunidade. “É bem difícil achar ponto disponível lá [camelódromo], aí tenho que ficar por aqui mesmo”, comentou.

20 anos após Camelódromo, ambulantes voltam para ruas centrais de Campo Grande
Foto: Mariane Chianezi

A poucos metros, também se arriscando nas vendas de rua, Hasmi, de 22 anos, de nacionalidade árabe, vende meias em uma banca improvisada na calçada entre a Rua 14 de Julho com a Barão do Rio Branco. Precisando vender os produtos e ainda se enrolando com o português, ele já tem na ponta da língua o diálogo com o cliente: “4 por 10 [reais]”.

Morando há 4 meses em Campo Grande, ele diz que ainda tem dificuldades para desenvolver o idioma local e por isso ainda enfrenta empecilhos para o trabalho. Quando perguntado sobre as oportunidades, ele responde sucintamente: “É o que tem”.

Dizendo que a venda de produtos no Centro é a única opção de trabalho no momento, Maria de Lurdes, de 58 anos, trabalha vendendo artigos de variedades na Praça Ary Coelho. Atualmente, ela vende meias e luvas para adultos e crianças, e pratica o mesmo preço banca de Hasmi: 4 pares por R$ 10.

“Trabalho aqui [no Centro] há oito anos. Sempre vou para pontos diferentes aqui para que não fique sempre no mesmo lugar e movimentar as vendas”, disse. Sobre as vendas, ela disse que nos dias em que fez frio na Capital, muitos pares de meias e luvas eram vendidas durante o dia, mas como voltou a esquentar, as vendas caíram.

“Vi na televisão que agora começou o inverno né, espero que as vendas voltem a crescer”, comentou Maria sobre uma possível volta do frio.

Desemprego e informalidade em MS

Atualmente, Mato Grosso do Sul tem população de 2,7 milhões de pessoas e em Campo Grande, existem 774 mil pessoas. Os moradores que têm carteira assinada na Capital são de 297 mil, sendo que o número equivale a 38,87% do total da população.

Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), quando se trata de trabalhos informais, como no caso dos vendedores ambulantes, o número é de 14.884 pessoas, conforme os dados mais recentes da pesquisa realizada em 2017. Dentre esse número, são 9,7 mil pessoas que trabalham no comércio ambulante e feira, e 5,1 mil serviços ambulantes que trabalham vendendo alimentação.

Falando em desemprego, 118 mil moradores do Estado são atingidos e em Campo Grande, o número é de 35 mil, de acordo com informações do IBGE. No Estado, em geral, o número de ocupação chega a 60% do total de trabalhadores registrados.

Fiscalização

Apesar de ser um dos únicos recursos para os moradores que vendem pelas ruas do centro da Capital, a ação é ilegal, segundo a Semadur (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Gestão Urbana).

Conforme divulgado por meio de nota, fiscalizações ocorrem com frequência no Centro para coibir as ações dos ambulantes.

“Informamos que as fiscalizações ocorrem de forma rotineira e por meio de denúncias. Uma vez constata a irregularidade são tomadas as medidas cabíveis ao caso, em algumas situações podem ocorrer até a apreensão da mercadoria e a Autuação conforme Artigo 5º da Lei 2.909 que instituiu o Código de Polícia Administrativa do Município de Campo Grande. “É​ vedada a utilização dos logradouros públicos para atividades diversas​ daquelas permitidas neste código'”, diz nota.