Proporção de um táxi para 1,7 mil habitantes é uma das menores no País

Além da centralização de alvarás de táxis nas mãos de poucos, a situação dos táxis em revela outro problema: a reserva de mercado. Enquanto a população quase triplicou em 37 anos, saltando de 291 mil para 853 mil habitantes em 2014, a frota de carros disponíveis só aumentou em 170 veículos. A Capital tem 490 veículos, 170 a mais da frota existente em 1980. Com isso, sobrou um táxi a cada 1,7 mil habitantes.

Teresina, Capital do Piauí, por exemplo, se compara a Campo Grande em relação à população, com 847 mil habitantes, e tem mais de 1,5 mil táxis. O último processo foi aberto em 2015 e a meta da capital nordestina é ter dois mil taxistas nas ruas.

Para os motoristas de táxis campo-grandenses, a maioria empregados de donos dos poucos alvarás, há poucos carros para beneficiar a ‘mafia' que concentra as licenças. Para os consumidores, a frota pequena representa serviço ruim e preço alto. Em alguns pontos, como no Aeroporto de Campo Grande, passageiros precisam esperar pelos poucos taxistas do local.

A autorização  oficial é concedida pelo poder público. A última licitação para novos alvarás foi realizada em 2010, a conta-gotas pela gestão do ex-prefeito Nelson Trad Filho – após treze anos sem novas autorizações. À época foram liberados somente 40 novas permissões de táxis e outras 40 para mototáxis.

A discussão sobre a possibilidade de aumento foi abandonada, e a demora da Prefeitura de Campo Grande em adequar o mercado de táxis a realidade campo-grandense, que era blindado da concorrência, permitiu o crescimento do , o maior rival do transporte da cidade atualmente, inclusive dos ônibus coletivos.

Os preços praticados pela companhia norte-americana são bem menores que o do táxi e o custo da chamada é menor que uma tarifa, que atualmente é de R$ 3,55. A solicitação custa R$ 2,50, e o quilômetro rodado foi fixado em R$ 1,10, além de um adicional de R$ 0,15 por minuto. Enquanto nos táxis a bandeirada é de R$ 4,50, e R$ 8,75 no aeroporto.

Oligopólio

Para a Prefeitura de Campo Grande existem 15 microempresas cadastradas junto à Agetran (Agência Municipal de Trânsito), que detêm 111 alvarás. Os outros 379 estão cadastrados em CPFs. Mas na prática, a realidade é outra, e o que existe é o oligopólio,  como a família Matos, que é dona de 11% da frota campo-grandense.

Moacir Joaquim de Matos ficou conhecido como o ‘Rei do táxi' da Capital. Ele foi dono de 28 veículos, e com a ajuda da esposa e do filho, controlava 51 táxis e a Rádio Táxi Campo Grande. O empresário morreu em outubro do ano passado, e de acordo com a Lei Federal, o controle é hereditário e por consequência quem deveria assumir são seus filhos. Sendo assim, a legislação prevê a hereditariedade das licenças de táxi, com a transferência da autorização para parentes em casos de morte -e autorização para que os familiares possam vender os alvarás.

Conforme publicado pelo Jornal Midiamax, motoristas auxiliares de taxistas – aqueles que alugam os táxis -, disseram que “mais de 90%” da frota é  conduzida pelos curiangos, que pagam diárias aos donos dos alvarás. Uma diária chega a custar R$ 230 e o quilômetro rodado varia de R$ 0,80 a R$ 1,00.
No final das contas, a média do ganho mensal do auxiliar gira em torno de R$ 1,7 mil. Já o dono do táxi, a cifra que pode alcançar R$ 6 mil mensais pelas contas dos auxiliares. Aqui em Campo Grande, uma só pessoa é dona de 40 alvarás, segundo auxiliares ouvidos pela reportagem. Ou seja, se confirmado o cálculo do curiango, esta pessoa recebe no final do mês R$ 240 mil sem fazer esforço.