No local passa um rio e lixo contamina o meio ambiente

Quem seguir pela Avenida Gury Marques, na Capital, em direção à saída para São Paulo, encontra uma placa que indica a sede de uma empresa de Engenharia. No mesmo local, ao virar à direita, quem seguir também encontra uma estrada de terra sem nome. Escondida, parece ter sido esquecida pela cidade. A via também dá acesso ao anel rodoviário na BR-163 e é cortada por uma área rural, com pequenas propriedades, onde é possível ver gado, pastos e bastante verde. Agora, o local é ameaça ao meio ambiente e a todo ser vivo que habita e frequenta o local. A estrada sem nome se tornou um “”.

Embaixo de uma guia de concreto, quando não há fluxo de veículos, dá pra ouvir o barulho da água que corre lá embaixo. Ao final da estrada, um rastro de lixo. O cheiro dos resíduos, que se deterioram com o calor de 30º graus registrado na manhã de quarta-feira (4), é apenas um dos problemas do acúmulo do lixo. Materiais de todo tipo podem ser encontrados na pilha imensa. Orgânicos, resto de roupas e sapatos, madeira, concreto, pneu e até móveis velhos. O início do problema, conforme relatou um trabalhador da empresa de engenharia – localizada na metade na estrada -, remete a um impasse entre a população e a Solurb, empresa responsável pela coleta e processamento de resíduos na Capital.

Antes do lixão, de acordo com ele, a empresa disponibilizou ali, dois pontos de coleta, que depois foram retirados. A população, no entanto, continua jogando lixo na estrada. De acordo com ele, caminhões da empresa de lixo passam pela estrada todos os dias, “como se nada estivesse acontecendo”.

 

 

 

 

“A Solurb abriu um ponto de coleta, aí o que aconteceu, ela colocou duas caçambas, aí o pessoal começou a trazer lixo, lixo, lixo, tampou as caçambas, a Solurb veio, recolheu o lixo, tirou as caçambas e nunca mais voltou aqui. Uma vez liguei na Solurb e falei. Só que agora eles vem aqui quando eles acham que devem. Só que as pessoas põe fogo no lixo”, explicou o trabalhador, de 44 anos, que pediu para não ser identificado.

O mau uso do local pela população, além da ausência de soluções para o impasse, podem ter consequências ainda mais sérias a qualquer momento. Há uma rede de transmissão de energia ao lado de todo o lixo. Ao colocar fogo nos resíduos, um descontrole pode causar um incêndio e um curto circuíto na estrutura elétrica.

Confira o vídeo do local e do rio:

 

 

 

“Aqui, assim, virou o depósito, então a Solurb vem recolher quando ela quer, só que os catadores que recolhem lixo, de vez em quando põe fogo, só que está bem embaixo da linha de transmissão. Ali, agora, tem restos de animais, restos de comida, garrafa. Essa rua aqui virou a rua do descarte. Então, tem pneu no meio da rua, tem sofá, armário”, conta o trabalhador.

A água que corre embaixo da estrada também já está contaminada. Logo na beira da guia, plástico e outros materiais já podem ser vistos.”Se você olhar, tem um rio que passa aqui debaixo que está todo cheio de lixo. É uma coisa degradante. As pessoas, sul-mato-grossenses bem irresponsáveis, jogam o lixo onde acham conveniente. A rua está horrível”, relata.

A Política Nacional de Resíduos Sólidos, Lei nº 12.305, de 2010, instituiu, como obrigação, a coleta seletiva – a separação de resíduos de acordo com a similaridade dos materiais -, que envolve o reaproveitamento e o destino adequado a cada um deles. Na Capital, o serviço existe. A abrangência, no entanto, ainda é mínima. Das 865 toneladas recolhidas, apenas 15 são oriundas da coleta seletiva, ou seja, menos de 2% do lixo recolhido na cidade.

No Brasil, a produção de lixo aumentou cinco vezes mais que a população entre 2010 e 2014, de acordo com o relatório da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe). Em , cada pessoa produz, em média, um quilo de lixo por dia. A Solurb também indica que são recolhidas na cidade, por dia, – em média -, 865 toneladas. Campo Grande, ainda assim, tem diversos locais que se tornaram depósitos de resíduos, e onde não há nenhum tipo de coleta. Locais que também escancaram a ignorância das pessoas ao lidarem com o próprio lixo.

Seguindo pela BR-163, outra estrada vicinal – local de acesso ao bairro Los Angeles, em Campo Grande, já tem uma pilha de lixo. A estrada esburacada de terra que criou lagoas com as chuvas, junta-se ao lixo e torna o trajeto quase impossível. Pilhas de lixo de construção também se acumulam na estrada. Esse tipo de lixo, no entanto, também deve ter destino adequado, em conformidade com a Polícia Nacional de Resíduos Sólidos.

 

 

Entulhos fazem pilha na estrada que dá acesso ao Los Angeles (Izabela Sanchez)

 

 

Parte dos resíduos podem ser reaproveitados, portanto, a lei orienta que o material deve ser levado em caçambas às empresas especializadas que fazem a reciclagem. Os resíduos de construção civil são divididos em quatro categorias. A primeira abrange restos de concreto, tijolos e caliça em geral, materiais mais nobres entre os restos de construção. Estes podem ser transformados por um britador e gerarem pedras de diferentes granulometrias: rachão, areia, pedrisco e pedra brita. A segunda classe abrange o papelão, papel e plástico e madeira, também reaproveitáveis. O gesso e outros rejeitos integram a terceira categoria, e não podem ser reaproveitados. Eles devem ser incinerados, ou levados para aterros adequados. A quarta classe é formada por tinta, solventes e materiais perigosos, e devem ser descartados com fins específicos, para que não prejudiquem o meio ambiente.

O que diz a Solurb

Sobre a estrada do lixão, a Solurb afirmou, por meio da assessoria de imprensa, que “aproximadamente a 11 meses atrás, disponibilizava um contêiner no local”. “Há aproximadamente 11 meses atrás, a Solurb disponibilizava um contêiner neste mesmo local e coletava o mesmo 03 vezes por semana, porém com os constantes vandalismos (queima do contêiner) aliada à disposição dos resíduos fora do local indicado (contêiner) pela população do local, foi solicitada a retirada do mesmo”, afirmou.

“O ponto de coleta informado fica no anel rodoviário próximo a rotatória da saída para São Paulo, e não se trata de um ponto de coleta da SOLURB e sim um ponto de descarte irregular de resíduos, a aproximadamente 90 dias foi realizada a limpeza, cercado e colocado placa no local, orientando a população a não descartar mais resíduos neste ponto, no entanto a placa foi arrancada e continuaram jogando os resíduos irregularmente”, complementou a empresa.

Em 28 de junho de 2011, no entanto, Campo Grande regulamentou a Política Municipal de Resíduos Sólidos, documento que orienta a gestão e responsabilidade compartilhada entre a sociedade civil, empresas e poder público. A lei nº 4.952, preve, entre outras diretirezes, “a cooperação entre as diferentes esferas do Poder Público Municipal, o setor empresarial e demais segmentos da sociedade; a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos e o diagnóstico da situação dos resíduos sólidos gerados no respectivo território, contendo a origem, o volume, a caracterização dos resíduos e as formas de destinação e disposição final adotadas”.