Bolivianos, palestinos e brasileiros vivem do comércio na cidade
Conhecido corredor turístico brasileiro, Corumbá também se tornou a casa de muitos imigrantes que encontraram no comércio a forma de sustento. Pela proximidade com a fronteira boliviana, é muito comum encontrar vendedores solitários pelas ruas da cidade, porém, fora da informalidade, muitos bolivianos tem documentação para atuar do lado brasileiro. Além deles, a comunidade palestina é uma forte presença no Centro da cidade.
Embora não haja dados oficiais da Associação Comercial de Corumbá, o Centro da cidade é tomado por lojas que pertencem aos palestinos e seus descendentes. Como exemplo, na 13 de Junho, o comerciante Faisão Garib, de 52 anos, toca a loja de roupas com mais de 40 anos que um dia foi de seu pai.
“Foi mudando de geração para geração. Meu avô trouxe meu pai para cá e depois foi embora. Ele começou com vendendo coisas de cama, mesa e banho”, lembrou. O comerciante contou que assumiu a loja com 19 anos de idade, logo após sair do quartel.
Devido a fronteira, o município atrai muitos imigrantes de países vizinhos também. Segundo o prefeito de Corumbá, Ruiter Cunha, a localização é uma das características fortes da cidade. “[…] Corumbá está no centro e é o maior município de uma região que agrega pelo menos 170 mil pessoas, formando a Zona de Fronteira Corumbá-Puerto Quijarro-Puerto Suárez, que incluiu ainda o município de Ladário”, contou.
Entre esses imigrantes, estão os bolivianos que fazem da cidade sua casa e do comércio o seu sustento. Em um centro comercial localizado na rua Joaquim Murtinho, está a prova de que o comércio local é uma pequena amostra dos imigrantes que compões a identidade corumbaense.
O vice-presidente do centro comercial, Carlos Sanches, explicou que o local surgiu a partir de um grupo de bolivianos, palestinos e brasileiros. “Uma parte do grupo se organizou para comprar o terreno”, explicou.
O local conta com 98 lojas além de 6 lanchonetes. E ao contrário do que pode parecer, o local emprega mais brasileiros que estrangeiros. “Aqui, tem 90% de brasileiros e 10% de bolivianos trabalhando”, contou Sanches.
Dentro da porcentagem está uma loja com roupas paraguaias, mas que pertence a um casal brasileiro. “Nós queríamos abrir um negócio diferente”, contou a proprietária Jaqueline Almada, 36 anos. O marido é filho de paraguaios e todas as peças da loja vêm da cultura do sogro, ampliando ainda mais a diversidade de culturas encontradas pelo local.
Embora a maioria dos empregados sejam brasileiros, muitos dos bolivianos são remanescentes de uma grande feira que acontecia na cidade, a Brasbol, situada antigamente no Centro de Corumbá. Segundo os comerciantes, com o fim da feira, os vendedores se dividiram entre os que voltaram para a Bolívia e os que foram para a feira livre.
Uma dessas pessoas é a vendedora Suzana Mamani, 46 anos, que tirava seu sustento da Brasbol. Com o fim, ela voltou para seu país. “Eu voltei para a Bolívia, mas lá não tinha nada, então fiquei doente. Depois, fui para a feira livre, mas estava muito estressada e adoeci”, contou.
Há um ano, a comerciante voltou por não ter emprego do outro lado da fronteira. Assim como ela, muitos do centro comercial também vieram de feiras da cidade, sendo a maior parte da Brasbol.
Ela soube do grupo que ia comprar o terreno para começar o centro e quis voltar a vender. “Há cerca de 3 anos e meio, eu troquei em torno de 3 mil dólares por um terreno”, disse. Mamani começou a vender há um ano, contando com registro de microempreendedora.
Já Maria Bia Jorras, de 65 anos, é vendedora há 35 anos em Corumbá e também veio das feiras de rua. “O primeiro lugar em que eu comecei a vender foi na feira livre que acontecia 3 vezes na semana”, contou.
Nessa época, Jorras contou que vendia de roupas a comida como feijão, alho, as mercadorias tradicionais de uma feira de rua. “Trabalhar não é vergonha. Trabalhar é a melhor coisa”, comentou.
Fora da feira e dos centros comercias, é comum encontrar bolivianos fazendo um comércio individual, onde a maioria são mulheres que vendem todo tipo de produto.
Segundo o secretário de governo e gestão, Cássio Augusto da Costa Marques, é comum a presença deste tipo de comércio porque a legislação boliviana é menos rígida. “Lógico que existe uma legislação trabalhistas, mas as exigências e o nível de fiscalização e de formalização é muito menor que aqui, então a cultura da informalidade, pelo menos aqui na região, é o que vale”, explicou.
Conforme o secretário, a questão da formalização é significativamente no setor de comércio. “O comércio da Bolívia é feito assim”, concluiu.
Sobre a fiscalização da informalidade do lado brasileiro, o secretário explicou que há algumas limitações. “Eles têm a liberdade e a autorização de vir para cá e fazer o comércio deles. Tem o tratado de Ruboré que fala justamente desta situação, então é difícil na questão formal do emprego”, contou.