Licitação foi feita, mas classificadas ‘não mostraram interesse’

A rua Francisca Torraca, do bairro Jardim Bellinatti, na região oeste de Campo Grande, é considerada pelos moradores como a ‘pior rua da cidade’. E a situação do local diminui a impressão de exagero. É praticamente impossível transitar a pé ou com qualquer tipo de veículo em um trecho de mais de meio quilômetro. Alem dos buracos e matagal, até uma árvore cresceu no meio da via.

Como a maioria dos cerca de 50 moradores são idosos, a situação aumento os riscos de acidentes. Cobras, ratos, e o trajeto irregular tornam atividades simples, como levar o lixo para fora, desafios rotineiros. Enquanto isso, as obras de manutenção não chegam por causa de um impasse financeiro com recursos do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).

Empreiteiras não quiseram

Segundo a Prefeitura, será necessário “promover uma nova licitação para obras de pavimentação do Jardim Bellinate”, apesar de já ter sido feita uma. O problema é que as empresas habilitadas não demonstraram vontade de executar o serviço.

“A empreiteira que venceu a concorrência desistiu do contrato e as outras duas empresas classificadas (Selco e Pactual) não mostraram interesse. A obra, orçada em R$ 3.320.508,42, foi paralisada com 31,15% do serviço concluído. Há ainda um saldo contratual de R$ 2,2 milhões”, explicou.

“Todas as frentes de serviço ainda não foram retomadas, porque a prefeitura ainda não viabilizou os recursos da contrapartida. Falta licitar a pavimentação de três etapas do Nova Lima, Jardim Anache, José Tavares, Vila Nasser (duas etapas) e Nova Campo Grande (três etapas)”, complementou.

Os moradores têm muito pra falar, confira a reportagem em vídeo:

 

 

O trabalhador rural Tomaz Plautin, 48, visitava a mãe, uma idosa de 84 anos que vive na rua há 20 anos. Ele teme pela vida dela ali. O veículo da família fica estacionado a muitos metros da casa, já que é impossível passar ali. O leite que é levado para a idosa todos os dias, também motiva preocupação. Ela atravessa o mar de entulhos para buscar.

“Aqui nunca foi legal. Se for pensar 20 anos, já foram 5 administrações, duas do Nelsinho, duas do André. Eu não sei se a palavra é erro, mas começou a fazer e não terminou. Aí entrou a chuvarada e segundo as informações da prefeitura, no papel está pronto, no mapa, se você pegar, está pronto esse trecho de asfalto”, comentou.

As manilhas, fruto de uma obra que começou e ficou abandonada, ainda são vistas na Rua.

“Pra você parar um carro tem que parar em frente ao vizinho. Aí o pessoal da droga já aproveita pra fazer ponto por aqui. Vem nada [Solurb]. Aí nós moradores que juntamos o lixo aqui, levamos pra lá, tira lá na outra rua pro caminhão passar. Agora arrumaram um buraco ali, o vizinho que arrumou”, conta.

O serviço de coleta de lixo não chega ali, e a própria Rua virou um depósito. Passível, inclusive, de multa, já que as pessoas descartam entulhos e lixo orgânico de forma irregular. Uma fábrica abandonada também ilustra a paisagem da Rua. A insegurança preocupa quem vive ali.

“Sempre foi ruim, mas piorou durante o mandato do Olarte e aí o que acontece? Eles foram fazendo asfalto e não fizeram essa via inteira e aí deixaram ela. Depois de um tempo a prefeitura, naquela de entra prefeito, sai prefeito, e parece que não pagou o pessoal e aí o pessoal abandonou, foram embora, mas essa rua nunca ficou dessa forma. Ela ficava ruim, mas aí eles mandavam um caminhão, entulho, essas coisas, aí passava, arrumava ela, mas chegar nesse ponto, nunca ficou assim”, conta o mecânico Deangeles Algusto, 30.

Deangeles já se acostumou a ser surpreendido por cobras no quintal de casa. Atravessar a via para ir até a casa do vizinho que mora na frente é aventura para qualquer morador na Rua.

“Não tem segurança, automaticamente quando você tem uma via dessa maneira você começa a atrair tudo quanto é coisa de ruim. E é a questão de trazer mais pessoas pra jogar lixo. Tem rato e cobra bastante aí, mas ali em casa como a gente limpa direto não tem tanto esse problema, mas cobra direto a gente pega lá dentro. A gente vai limpar e direto tem cobra ali dentro”, comenta.

O mecânico avalia que o papel de cidadão definha. Isso porque, conforme explicou, trabalha 8h por dia, e mal tem tempo de cobrar a administração municipal. A reforma trabalhista também é assunto que ele lembra. Teme trabalhar ainda mais, sem direitos garantidos.

“Como cidadão é complicado, porque as vezes a gente sabe até o que fazer pra poder ir lá correr atrás, mas já não tem tempo, por causa do trabalho, então a gente já fica no descaso, a gente está pagando, tentando deixar as nossas contas em dia. Aí fica mais complicado ainda, porque trabalhar mais e pode menos”.

Ramão Galeano, 51, pede urgência. “Nós estamos pedindo urgente pra resolver a situação do nosso bairro. Porque ninguém conseguiu resolver esse problema. Todos nós fomos abandonados e a nossa rua aqui quando chove, não é rua, é um rio”.

Celimara Soares Domingues, 45, sofre ao levar a filha, com deficiência, para ser atendida. “Eu tenho uma filha deficiente. Quando chove, ela não pode nem andar aqui pra ir pra Apae, porque eu pego o ônibus ali embaixo”.

 “Na casa da gente está um arsenal de ratos. Então estamos pedindo que ele olhe, pelo menos nessa região”, conta Joelson Marques Melgar, 55, jardineiro, um dos moradores mais antigos do bairro. Vive na Rua há 35 anos.