Quem foi impedido de transitar reclama
Com pneus, paus e fogo, trabalhadores rurais ligados a movimentos sociais como o MST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra) e a Liga do Camponeses bloquearam o Km 321, da BR-262, na manhã desta sexta-feira (8), em Campo Grande. O bloqueio durou cerca de um hora e causou congestionamento de mais de 2 quilômetros. Os trabalhadores afirmam que este foi só o inicio das manifestações que eles estão preparando em protesto à recomendação do TCU (Tribunal de Contas da União) que suspendeu a seleção e assentamento de novos beneficiários da reforma agrária no país e a morte de trabalhadores rurais na cidade de Quedas do Iguaçu, na data de ontem (7).
Os trabalhadores explicaram não concordar com a medida e afirmam parar o país, caso a reforma agrária seja paralisada. “O TCU parou a reforma agrária e nós vamos para o Brasil, se isso continuar. Aqui é apenas um inicio, na segunda-feira (11) vamos fechar rodovias em oito estados e ninguém vai entrar ou sair”, afirma o manifestante Adonis Moraes, de 32 anos, dirigente nacional das Ligas Camponesas.
Ele pontua que Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Paraná, Santa Catarina, Tocantins, Bahia, Rio Grande do sul e Distrito Federal já estão com programação pronta para iniciar a paralisação.
Segundo ele, o grito de ordem do movimento é: nós queremos terra, o TCU quer guerra.
Outro ponto que desencadeou os manifestos foi a morte de dois integrantes do MST após confronto com policiais militares ambientais em um acampamento em Quedas do Iguaçu, no sudoeste do Paraná.
Adonis afirma que a morte foi crime de pistolagem e diz que os trabalhadores já não suportam ver tanta injustiça. “É só pobre e preto que morre em confronto neste país”, critica.
Também integrante da Liga dos Camponeses, Fábio Ramos, de 31 anos, diz que cerca de 400 famílias participam do movimento em Mato Grosso do Sul. Segundo ele, os manifestantes nunca receberam terras do governo e aguardam há anos para serem assentados. “ “Aqui ninguém nunca foi assentado. Nós queremos terra para trabalhar, ninguém aqui quer benefício”, critica.
400 milhões
Os manifestantes ainda criticaram que apenas R$ 400 milhões foram destinados para a reforma agrária no país, enquanto que que o MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) conseguiram mais de R$ 1 bilhão para a compra de moradias em São Paulo. “Não é justo essa soma para todo o país e mais que o dobro especifico para uma região”, dizem.
Transtorno
Quem aguardava a rodovia ser liberada reclama que os atos dos manifestantes atrapalham o direito deles de ir e vir e comprometem, muitas vezes, o trabalho..
“Eu estou aqui há uma hora parado. Tenho que carregar o caminhão e já estou atrasado. Eles podem se manifestar, mas não na rodovia”, critica o caminhoneiro João de Abreu, de 59 anos.
Quem também se incomodou foi o caminhoneiro Janderson Rafael, de 23 anos. Carregando mais de 328 toneladas de carne para o Rio de Janeiro ele diz que não vê a hora de a rodovia liberar para não perder a carga. “Tenho dois dias para chegar lá, caso contrário a carga estraga. Espero que liberem logo, se não vou ter que pegar o rota”, afirma.