Ela vive em um barraco no loteameto junto a ex-moradores da Cidade de Deus

A tempestade de sábado (20) causou diversos estragos em . Os bairros sem e semáforos estragados, no entanto, não se comparam ao que passou Iara da Conceição, 27, moradora do loteamento Bom Retiro na Vila Nasser, que foi trazida da favela Cidade de Deus com os filhos junto a outras 152 famílias.

Enquanto aguarda a construção das casas no local, Iara passou por momentos de tensão durante a noite de sábado (20): o temporal destruiu o barraco onde ela vive com os filhos, um de três anos e um bebê de um ano e dois meses. A mãe teve que correr com as crianças e se abrigar em uma igreja no bairro.

 

 

 

“A casa ficou completamente destruída. Ficou sem teto, molhou todas as coisas. Me escondi debaixo da cama junto com eles. Perdi tudo, o que eu vou fazer agora? Não tenho nem roupas pras crianças, sorte que tinha essa igreja”, contou.

No Bom Retiro, os barracos desfizeram-se e agora e a estrutura virou um amontoado de telhados de amianto quebrados, madeira e lona destruídas. A situação motivou até a visita do prefeito Alcides Bernal (PP) que prometeu aos moradores que a construção das casas – sob responsabilidade da – começa na segunda-feira (22).

Cleonice de Oliveira, 45, é dona de casa e contou que durante a noite, ninguém conseguiu dormir, com medo de mais estragos. “Em uma das casas a eternit caiu em cima de um senhor de idade. Na minha casa, molhou tudo dentro. Estamos desolados, não tem o que fazer. Precisamos, pelo menos, de lona e telhado”, pediu.

O barraco de Iara, que ficou destruído após a tempestade (Luiz Alberto)Durante a manhã, uma equipe da “Fundação de apoio à comunidade” foi até o Bom Retiro, distribuir alimentos e roupas. “Viemos trazer apoio pras famílias, estamos desde às 6h da manhã vendo quem precisa de lona, vendo o que precisa e chamar as equipes pra arrumar”, explicou a coordenadora da fundação, Adriana Nascimento.

Para a gari de 48 anos, Vera Pereira, os moradores do loteamento estão ‘sem rumo’. “Molhou tudo dentro da minha casa. Nós praticamente não dormimos. O prefeito nos mandou pra cá e garantiu que em seguida iria fazer as casas. Até agora, nada. Eu e os meus filhos estamos a deus dará”, reclama.

Rosilene Orácio de Castro, 42, mora com os netos de 9 e 5 anos. Ela trabalha com e contou que a família passou a noite embaixo de chuva.  “Voou todo o telhado da minha casa. Corremos pra casa da minha filha, isso era umas 20h da noite. Passamos a noite lá no frio e na chuva”.

No local, a prefeitura orienta que os moradores que não tiverem nenhuma condição de permanecerem no local devem procurar o Cras da Vila Nasser (Centro de referência em assistência social). Segundo a administração, o local vai fornecer refeições e domicílio.

Não é que o quer a comunidade. Durante a visita do prefeito, revoltados, os moradores queimaram lonas e papelões e gritaram palavras de ordem. Eles também afirmam que não podem deixar os barracos, pois temem que outras pessoas furtem os locais.

A situação foi reconhecida pelo prefeito, que afirmou  que ‘o pessoal não quer sair daqui porque eles vão ser roubados’. A defesa civil foi ao loteamento durante a manhã e levou algumas lonas. Os moradores afirmam que a quantidade não é suficiente.

Construção das casas

Idealizado no sistema “mutirão”, o projeto, no entanto, destoa da execução. O sistema prevê que os próprios moradores construam as casas, sob orientação de profissionais da área, como arquitetos e engenheiros e não que sejam ‘contratados’ como mão de obra. A Morhar já retirou do cofre municipal R$ 3,6 milhões para execução de 300 casas, nos quatro loteamentos para onde foram transferidos os moradores que viviam na Cidade de Deus.

João Costa, apontado pelos moradores como responsável pela construção no loteamento, apareceu no Bom Retiro e causou tumulto. Ele foi barrado por alguns moradores na entrada do local. Uma confusão começou quando as pessoas cobraram o pagamento pelo serviço de construção das casas. São cerca de 25 trabalhadores, que moram no loteamento e alegam falta de pagamento pela ONG.

Aos moradores, João Costa prometeu realizar o pagamento na segunda-feira (22), que, de acordo com ele tem o valor de cerca de R$ 17 mil. Ele declarou que o dinheiro foi repassado pela Prefeitura na sexta-feira (19).

O secretário da Seintrha (Secretaria municipal de infraestrutura, transporte e habitação) Dirceu Peters, também foi ao loteamento e prometeu o mesmo.

“Não sei o valor, foi feito mais um repasse sexta-feira a tarde. Não sei de quanto. Com ele e com a Morhar, a prefeitura está com tudo certo”, afirmou.