Setembro Amarelo: como identificar e ajudar quem apresenta tendências suicidas
Depressão é a principal causa de suicídios
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Depressão é a principal causa de suicídios
Muito mais que uma tristeza passageira ou um sofrimento momentâneo, a depressão é uma doença que deve ser tratada, pois leva a consequências muito graves, entre elas o suicídio. Segundo o psiquiatra Juberti Antônio de Souza, quadros depressivos são a principal causa identificada entre pessoas que se matam. “A pessoa sofre tanto que tenta de todas as formas sair da situação e se pergunta se vale a pena continuar a viver”, explica o médico.
De acordo com o psiquiatra grande parte das pessoas que se matam não querem morrer, querem apenas deixar de sofrer. Segundo ele, além dos que sofrem de depressão, qualquer pessoa portadora de doença mental tem potencial suicida.
Doutor Juberti alerta para os sinais que sempre são visíveis. “Se a pessoa fica deprimida e desanimada, deixar de ter gosto pela vida, tem dificuldade em realizar as atividades que habitualmente realizava, devem ser acompanhadas com atenção. Por outro lado, pessoas que de repente começam a fechar os negócios, pagar dívidas, se reaproximar de familiares ou desafetos, como se estivesse fazendo um testamento, podem estar preparando sua morte, se despedindo da vida. Querem sair da vida sem deixar problemas”, alerta o psiquiatra.
O GAV (Grupo Amor Vida), antes conhecido por CVV (Centro de Valorização da Vida) atua na prevenção do suicídio em Campo Grande através do trabalho de voluntários. O coordenador de divulgação do GAV, Roberto Sinai, diz que sinais em suicidas são muito claros e dá uma taxa alarmante: “mais de 90 dos suicídios poderiam ser evitados se as famílias percebessem antecipadamente os sinais”.
Os sinais ficaram claros depois que tudo aconteceu, relembra uma acadêmica de 23 anos que desejou não se identificar. Seu padastro se suicidou quando tinha 16. “Nunca tive um bom relacionamento com meu padastro. Ele tinha um relacionamento de 6 anos com a minha mãe, mas era um relacionamento abusivo. Ele era muito ciumento. Depois de uma semana que minha mãe terminou com ele, o encontramos enforcado no porão do apartamento em que morávamos”, conta ela.
A acadêmica diz que ele não gostava do trabalho, sentia falta da família que morava longe, reclamava de tudo que a companheira fazia. “Ele tomava antidepressivos e depois descobrimos que ele fazia tratamento com psiquiatra. Ele ameaçava minha mãe dizendo ‘não sou nada sem você’, ‘você é minha vida’. Nós não soubemos identificar isso. E como ele escondia muitas coisas, ficava ainda mais difícil de saber. Descobrimos que ele tinha outra conta bancária e várias questões sobre o relacionamento anterior”, relembra ela.
O coordenador de divulgação do GAV dá outras pistas de como identificar possíveis suicidas. “Pessoas que se isolam socialmente, não querem ir à escola ou à igreja, evitam estar com os pais, ficam horas no computador, não querem tomar banho, não querem se pentear, ou seja, apresentam baixa autoestima, são pessoas que precisam de atenção. Todos estes sinais são alertas”, adverte Roberto Sinai.
O psiquiatra Juberti Antonio diz que de 50 a 60% das pessoas que se matam já tentaram suicídio antes. O agravante é que muitas das tentativas podem ter sido despercebidas ou não terem recebido a devida atenção. De acordo com o médico, na reincidência a vítima vai tentar de forma mais eficaz. “É preciso prestar atenção quando a pessoa começa a falar na morte, ter atitudes negativas. Isso é um aviso extremamente importante, pois a pessoa está buscando socorro, alguma forma inconsciente de evitar a morte”, ensina ele.
Segundo o médico, o suicídio ofende as pessoas, mas é preciso ter cuidado para não censurar quem apresenta predisposição suicidas. Ao identificar alguém com tais pensamentos a melhor forma de ajudar é encaminhar para tratamento psiquiátrico e/ou psicológico. “Se a pessoa não aceita o tratamento, é necessário fazer companhia e conversar sem ter receio de falar sobre a morte. Quando falamos, ouvimos o que estamos falando. E quando ouvimos temos um processo de análise do que falamos. Isso é muito importante para quem sofre de depressão. Esconder ou pedir pra afastar um pedido de morte não é bom. Melhor conversar discutir sobre o fato”, explica ele.
A escritora e musicista Lenilde Ramos, de 64, perdeu a mãe com apenas 7 anos e hoje se diz bem resolvida com o assunto. Segundo ela “nós precisamos ter a sensibilidade de olhar as pessoas que estão ao nosso redor, de acompanhar melhor os nossos familiares, os amigos, os colegas. Cada um vive sua realidade e pode ser que algumas pessoas não consigam seguram a onda e as vezes a pessoa pode sair dessa situação por causa de alguém que tenha essa sensibilidade. Às vezes as pessoas ficam preocupadas consigo mesmas e não olham as pessoas ao redor com esse tipo de atenção”, aconselha ela.
Uma alternativa é apresentar o GAV para quem sofre. Os telefones são 141 para Campo Grande e (67) 3383-4112/383-4113 para as cidades do interior do estado. Os voluntários do GAV são treinados por três meses para ouvirem aqueles que precisam desabafar. Se for difícil de abrir com alguém conhecido, os atendentes do grupo estão preparados para ouvir anonimamente.
Desabafos nas mídias sociais
Os sinais também podem ser verificados através das mídias sociais. Em agosto uma jovem de São Gabriel, distante 149 quilômetros de Campo Grande, se matou aos 16 anos, dois dias após o namorado morrer num acidente. Ela postou mensagens no Facebook dizendo que iria se juntar a ele.
Segundo informações da Agência Brasil o CVV (Centro de Valorizaçâo da Vida) que é uma associação sem fins lucrativos, fez uma parceria com o Facebook para receber denúncias de possíveis casos de depressão em usuários da rede social. Para ajudar o CVV, os usuários precisam realizar denúncias, de forma anônima, de posts suspeitos pelo Facebook.
Veja como fazer:
1. Clique na seta no canto superior direito do post e clique em “Denunciar publicação’
2. Escolha a opção ‘Acredito que não deveria estar no Facebook’.
3. Finalmente, escolha ‘É ameaçador, violento ou suicida’ e clique em ‘Continuar’.
Ainda de acordo com a Agência Brasil, uma equipe do Facebook, em plantão 24 horas, faz a análise das postagens que motivaram a denúncia e encaminham avisos para o CVV. O mesmo tipo de ação ocorre também em outros países como Austrália e Estados Unidos.
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