Clima mudou e quem pegou resfriado ou gripe comum está com medo

Até agora a gripe já matou 20 pessoas em Mato Grosso do Sul em 2016. Só em Campo Grande, foram 6 mortes por Gripe A e uma por Gripe B. Mesmo assim, as autoridades dizem que as doenças não oferecem risco de surto. Só que a população não pensa assim. Com as recentes mudanças no clima, resfriados e gripes comuns têm levado centenas ao desespero. Faltam vacinas nas clínicas particulares leitos e até remédios.

O quadro, segundo profissionais de saúde, é propício para uma catástrofe médica. De 2015 para cá, o número de infectados pelas gripes mortíferas quase triplicou. Todos concordam que, caso estoure um surto, Mato Grosso do Sul não possui estrutura na rede de saúde para lidar com a situação. Nesta semana, uma mãe chamou a atenção na internet pedindo ajuda para conseguir Tamiflu, remédio para o H1N1 que atingiu ela e a filha bebê, e simplesmente não existe nas farmácias locais.

Sem vagas em hospitais, vários casos de pacientes com suspeita de uma das gripes mortíferas são tratados sem o devido isolamento nas unidades públicas de saúde, para desespero de servidores que precisam lidar com a situação. A morte de um professor que três dias antes de morrer deu aula para mais de cem alunos levou medo aos pais dos estudantes.

Vacina? Nem pagando

Quem tem condições de se imunizar também não tem a quem recorrer. Nesta semana, quase todas as clínicas particulares informam que não possuem vacina em estoque e não têm sequer previsão de quando receberão novas remessas. E a campanha de vacinação patrocinada pelo Ministério da Saúde para as populações de risco ainda patina na maior parte dos municípios sul-mato-grossenses.

Segundo o médico Ronaldo de Souza Costa, surto é quando de um ano para o outro os números de casos registrados de uma determinada doença aumentam mais do que o normal. Segundo ele, como as gripes do tipo A e B são doenças graves e altamente contagiosas, a situação fica ainda mais complicada.

“Os paciente graves que precisam de enfermaria de CTI com isolamento de contato não têm esse local para internação hoje. Estão internados em atendimento comum. Expondo a todos a mesma doença do paciente. O paciente que está internado vai ter que aspirar a secreção. Tem que por sonda nasal, que é onde mobiliza essa secreção e pode contaminar. Tanto o trabalhador como pacientes que estão ao redor correm risco. Esse paciente tem que estar isolado”, enfatiza o médico.

Briga já chegou à Justiça

Nas últimas semanas, cada vez mais pacientes recorreram à Justiça para conseguir tratamento adequado.

Em um dos casos, a Justiça chegou a decretar o sequestro de bens do Fundo Municipal de Saúde para que o paciente fosse internado na rede particular. A Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) na época explicou que não tinha como transferir o paciente, mesmo tendo o dinheiro para pagar o leito, por não haver vagas na rede particular. Já a SES (Secretaria de Estado de Saúde) pontou que não tinha como resolver a questão, pois a rede particular tem que concordar com os valores pagos pelo governo. O paciente ficou dez dias na UPA (Unidade de pronto Atendimento de Urgência) até conseguir ser transferido.

Para Ronaldo, a falta de leito é um dos problemas que mais agrava o possível surto que podemos enfrentar. “Muito preocupante devido à falta de estrutura. Estado e Municípios não se prepararam para o problema. Sabendo que o problema ia acontecer, porque já havia acontecido na Europa. As estruturas não estavam preparadas para a situação. Agora já se consolidou”, critica.

Ela lembra que leitos que foram fechados há cerca de três anos no hospital regional, durante o governo de André Puccinelli, evitariam o problema hoje. “A promotora Paula Volpe Chegou a notificar o hospital para a abertura de leitos que foram financiados pelo Ministério da Saúde, mas a medida não foi cumprida e cerca de 50% dos leitos do hospitais foram fechados”, diz.

Outro ponto que o médico alerta é que a cepa que está circulando é de alta virulência. “É de difícil controle e alta disseminação e de alta resistência aos medicamentos. Chegou antes do inverno. Nem chegou o inverno e já estamos com um surto. As autoridades negam que haja surto, ma o número de casos é muito maior que o do ano anterior”, afirma.

600 comprimidos em estoque 

Além disso, agora a Saúde enfrenta a falta de medicação própria para para o tratamento da gripe A. Informações extra oficias obtidas pelo Jornal Midiamax revelam que há em estoque apenas 300 unidades de comprimidos de Tamiflu de 30mg, 300 de 45mg e 0 de 75ms. Isso significa que não há remédio em estoque para o tratamento da gripe A para paciente adultos. Já para o tratamento das crianças, o remédio é o suficiente para tratar apenas 30 crianças, já que o protocolo do Ministério da Saúde é de dois comprimidos por dia, durante dez dias.

Para o médico Ronaldo Costa a situação é assustadora. “É gravíssimo. O tamiflu é a única medicação que pode combater o vírus. Se não tem medicação, não tem tratamento. Se oferece oxigênio, mas fica sem chance. Só a imunidade do paciente para combater o vírus. E se pegou a doença é porque a imunidade está baixa. Provavelmente não tem condições de superação do quadro de infecção grave”, frisa.

Secretário descarta surto

O secretário de Estado de Saúde, Nelson Tavares, descarta que o Mato Grosso do Sul passa por um surto do vírus Influenza A H1N1, mas afirmou que a população precisa se cuidar. Ele disse que a SES (Secretaria de Estado de Saúde) está enviando equipes técnicas aos locais de notificação e registro de óbito para avaliar a necessidade ou não de interrupção de atividades em algumas instituições.

No boletim epidemeológico divulgado na tarde de quarta-feira (18) foram confirmadas 20 mortes em todo o Estado causadas pelo vírus Influenza A H1N1, Influenza A H3N2 e Influenza B, número que quase triplicou em relação ao mesmo período de 2015, quando o total chegava a sete óbitos.

“Estamos preocupados com os casos que estamos notificando e também com os óbitos, porém isso não determina um cenário de surto ou de pânico para a população. Não há uma situação de surto, mas as pessoas devem se cuidar. São medidas como: lavar as mãos, evitar locais fechados, utilização de álcool em gel, tapar a boca ao espirrar ou tossir. No momento estamos reforçando junto à população estas medidas básicas, mesmo com o atual cenário dentro do controle da Secretaria de Saúde”, diz ele.

Já a Sesau também descarta que haja um surto e diz que está ciente que os estoques estão baixos e por isso já oficiou a necessidade de mais remédios. “Não há nada resolvido, mas o secretário de saúde, Ivandro Fonseca, oficiou o Ministério Público Federal para que envie mais medicamento. Oficiou também o secretário de estado de saúde, Nelson Tavares, pedindo os medicamentos. O remédio é disponibilizado pelo Ministério da saúde e distribuído pela SES.

O MPF (Ministério Público Federal) informou na quinta-feira (19) que já possui investigação para analisar as causas da falta de Tamiflu em Campo Grande. O medicamento é usado no tratamento da H1N1, Influenza B e H3N2.