Vistoria foi feita no dia 23
O Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) fez vistorias nas plataformas da Vale, em Corumbá, e não constatou qualquer contaminação de minério de ferro no Rio Paraguai. A vistoria foi feita após denúncia de que as plataformas estariam sendo lavadas no Porto Esperança, e os funcionários despejando o minério nas águas.
A vistoria no Porto Esperança foi realizada na quarta-feira (23) pelo Núcleo de Emergências Ambientais. De acordo com o responsável, o geólogo e analista ambiental do Ibama, Lincoln Fernandes, não foi observada evidências de poluição da água por lançamento de minério de ferro do porto de embarque. “O rio foi vistoriado a montante e a jusante do porto de embarque e, a olho nu, não foi observada alteração nas características físicas (coloração, turbidez, sedimentos em suspensão) da água”, explica.
Não foram encontrados vestígios de contaminação na vistoria feita no Rio Paraguai, onde fica a plataforma de embarque da empresa. “Caso tenha ocorrido lançamento de efluentes em quantidade suficiente para formar plumas de poluição estas foram diluídas e/ou dispersas pelo grande volume de água e correnteza do rio”, disse o analista. Segundo Lincoln, o rio está em um período de cheia e a capacidade de dispersão é alta. Com isso, seria preciso um volume grande de material para mudar as características da água.
Foi pedido o laudo ao órgão, mas até o fechamento desta edição, a equipe não recebeu a cópia do documento. Ainda segundo o Ibama, o licenciamento da plataforma, que fica no Porto Esperança, está em fase de regularização.
Falta de coleta
O Ibama não realiza monitoramento da qualidade de água. “Nós não temos como fazer análise química ou física da água do Rio Paraguai. Não há laboratórios”, disse a chefe da divisão Técnica Ambiental, Joanice Lube Battilani.
Informações prestadas por funcionários ao Ibama apontam que a empresa responsável pela operação portuária realiza automonitoramento.
Sobre o caso
Funcionários foram flagrados limpando plataformas da mineradora Vale e jogando rejeitos de minérios no Rio Paraguai, em Corumbá. Segundo a denúncia, eles utilizam jatos de água para lançar os rejeitos na água, formando uma ‘lama vermelha’ em volta da plataforma. Essa não é a primeira vez em que denúncias de crimes ambientais são feitos na região. Em fevereiro, mudanças na cor da água do rio e a morte de peixes chamaram a atenção e coincidiram com a abertura de inquérito na 2ª Promotoria de Justiça de Corumbá, para investigar a situação de barragens.
A equipe de reportagem do Jornal Midiamax recebeu a denúncia de uma pessoa, que não quis se identificar, mas viu a cena no fim do ano passado no Porto Esperança. “A empresa lava ali as plataformas. Não foi a primeira vez que eu vi a mancha vermelha. Nunca vi denúncia anterior, acho que é porque dali para baixo não existe ocupação humana”, disse.
A professora do curso de Engenharia Ambiental da Uniderp, Edinéia Lazarotto Formagini, disse a equipe de reportagem que o minério de ferro não causa problemas “em baixa quantidade”. Segundo ela, os principais impactos causados pela presença de ferro estão relacionados à utilização da água para abastecimento humano, porque o composto altera as propriedades de coloração e sabor.
De acordo com a bióloga, a presença ou contato do minério de ferro não apresenta riscos aos ecossistemas aquáticos, “desde que não esteja em concentrações muito elevadas”. Edinéia comentou que o maior problema está no rejeito do minério de ferro. “Estes podem conter substâncias tóxicas, como metais pesados, que em baixas concentrações podem provocar intoxicação e até a morte de animais e plantas aquáticas.
Nota da Vale
A empresa informou no dia 23 que a ocorrência foi um “um desvio operacional pontual”. E segundo nota “ressalta que não compactua com esse tipo de atitude e que possui procedimento específico para a limpeza do cais, que inclui retirada do material para retorno à área operacional, sem projeção de minério no Rio Paraguai”. Segundo a Vale, já foram tomadas todas as medidas necessárias para evitar novas ocorrências.
A equipe de reportagem do Jornal Midiamax ainda entrou em contato para saber sobre as coletas da água feitas no Rio Paraguai, mas até o fechamento desta matéria não recebeu retorno.