Em MS, adolescente
O caso da adolescente que se matou depois que seu namorado morreu em um acidente traz à tona um assunto que é considerado caso de saúde pública: o suicídio. Cercado de tabus e controvérsias, é a segunda principal causa de mortalidade entre jovens, superado apenas por acidentes de trânsito. Uma triste coincidência.
As informações são do capelão do Corpo de Bombeiros, capitão Edilson dos Reis, que também é coordenador do curso de prevenção ao suicídio do Hospital Universitário da UFMS. Ele afirma que o tema tornou-se caso de saúde pública, sendo o terceiro tipo de violência mais notificada.
Os dados enviados pelo capitão mostram que em Campo Grande, somente no primeiro semestre de 2016, foram registradas 360 tentativas de ‘auto-agressão’. No mundo, para cada 1 suicídio há 20 tentativas, o que corresponde a 1 a cada 2 segundos. As informações mostram uma lamentável tendência, as notificações estão aumentando a cada ano.
Quando acontece, o que resta para os familiares e amigos próximos da vítima? O conselho que o capelão do Corpo de Bombeiros dá é que não se deve procurar culpados e inocentes, nem respostas, pois elas não existem. “Ela tomou uma decisão triste, lamentável. Infelizmente agora resta apenas aprender com isso”, diz ele.
Edilson dos Reis, explica que há duas questões muito particulares quando há um suicídio seguido de uma morte. “Existe o processo de culpa e a situação de dependência e de apego que causam aflição. Diante disso uma pessoa pode agir por impulso e por falta de maturidade, diante da angústia, e tomar esta decisão”, explica o capitão.
É possível perceber nas mensagens em que a jovem deixou nas redes sociais o apego que tinha ao namorado e como sentia-se culpada quando diz “me desculpe por muitas vezes brigar a toa com você” e também quando lembra também de quando pedia para ele pilotar com cuidado quando voltava para casa.
Capitão Reis destaca que nas mensagens que a jovem deixou nas mídias digitais “ela queria comunicar o desejo de que alguém conversasse com ela. Quando alguém usa as redes sociais, quer chamar a atenção para a dor, pela situação que foge do controle”.
Segundo o capelão do Corpo de Bombeiros as pessoas que estão sofrendo desejam alguém para ouvi-las, alguém em quem confiar e alguém se que importe com elas. Da mesma forma, uma pessoa que passa por tal angústia não quer sentir-se só, não deseja ter sua dor ignorada, não tem a intenção de receber sentimentos de pesar e pena e não quer ser julgada. Assim torna-se claro como deve ser o tipo de tratamento que se deve dispensar a uma pessoa que passa por aflições. “Uma dor não compartilhada dói mais”, ensina o Capitão Reis
Numa eventual situação em que um caso como este venha a se repetir, o Capitão Reis adverte que sejam observados 5 indícios:
O Fato
Os acontecimentos são importantes e impactam as pessoas de formas singulares. Cada um absorve e é impactado conforme suas vivências e situações.
Comportamento
Diante do ocorrido, é necessário observar mudanças de comportamentos.
Resposta
O que a pessoa diz? Nem sempre pela oralidade, mas muitas vezes somente expressada através dos atos e, no caso, redes sociais.
A pessoa
Quem é a pessoa diante dos fatos? Deve-se levar em consideração qual posição da pessoa envolvida no fato. Em questão é uma jovem de 16 anos, que perdeu o namorado
Reação
Como foi o enfrentamento da questão? É necessário observar como a pessoa reage aos fatos para providenciar toda a atenção possível.
Por fim, Capitão Reis afirma que não se pode medir a dor da pessoa. “Toda dor é suportável quando não é em mim, ou seja, a dor é dela. A relação afetuosa que ela tinha com o namorado, somente ela é capaz de sentir e explicar”, diz ele.