Aniversário e política partidária parecem distante da rotina
Uma vez a cada quatro anos o aniversário da capital de Mato Grosso do Sul, que comemora 117 anos nesta sexta-feira, coincide com outro evento: o período eleitoral. Em meio a escândalos cada vez mais frequentes de corrupção e uma cidade com serviços básicos precarizados, nenhum dos dois parecem chamar atenção de alguns moradores. Eles vivem em locais onde o aniversário é outro. São bairros que possuem obras completando anos de abandono pelo poder público.
No Jardim Nhánhá, as pessoas que vivem à beira do córrego Anhanduí, na Ernesto Geisel, compartilham com o córrego a sensação de terem sido esquecidos pela capital. A paisagem do rio, coberto de lixo, com mato crescendo e desmoronamentos, já é um quadro comum para quem vive ali.
Proprietário há 15 anos de um estabelecimento a beira do córrego na Avenida, Odilson Frank Oliveira, 45, não sente-se tocado pela data comemorativa. Ele mostra, logo a frente, manilhas, estruturas de concreto que sempre provocam acidentes no local. Para remediar, a prefeitura coloca ‘cavaletes’.
“Quantos anos estão aqueles ‘postes’, já são uns oito. Coloca aquele cavalete ali, quebra hoje e amanhã já colocam outro”, afirma. Sobre o estado do córrego, canalizado bem em frente o local que trabalha, ele recorda da ‘promessa de reforma’. “Há dois anos saiu verba de R$ 60 milhões para reforma, e até agora, nada”.
Mas há o apego ao bem, que na verdade, é de todos. “No fundo, no fundo, a Avenida é muito importante. Só que está abandonada”, comenta. Para ele, o poder público é responsável pelo esquecimento da Ernesto Geisel. “Aqui se tornou um ponto que não atrai. As pessoas desviam sabendo do desmoronamento”, conta.
Para as eleições, resta a descrença na estrutura política. Odilson quer votar nulo. “Na campanha sempre lembra e vêm. Eu pretendo votar nulo. Estou muito desacreditado”, comenta.
Marginalização e uso de drogas
O córrego, agora, ganhou outro uso. À noite, usuários de drogas ficam dentro da estrutura. A realidade denuncia, também, a crescente marginalização de Campo Grande. Além do córrego, outros pontos da cidade se tornaram locais que atraem pessoas em situação de rua e dependentes químicos, parcela que não está sendo contemplada pelas políticas públicas.
“É cada um por si e Deus por todos”, brinca Odilson. “A noite os usuários ocupam o córrego”.
Para a comerciante Roseli da Silva Conde, 52, dona de uma loja de peças para motocicletas também em frente a Avenida, o aniversário da cidade tem muito significado. “Tem tanto significado que a gente está triste com o que está acontecendo, não tem muito o que comemorar”.
“O povo até que está cobrando mais. Mas os processos andam a passo de tartaruga. O povo não tem mais voz ativa, quem comanda são os grandões”, afirma.
É o sentimento cada vez mais frequente entre as pessoas: enquanto os ‘grandões’ fazem jogo político, a população observa de longe, sentindo cada vez mais a distância entre a política da vida diária e a democracia ‘representativa’.
Revitalização
Na Avenida, duas licitações pretendem revitalizar o trecho localizado entre a Avenida Salgado Filho e a Rua Mascarenhas, conforme divulgou a prefeitura na terça-feira (23) no Diogrande (Diário Oficial de Campo Grande).
As empresas selecionadas são a Selco Enngenharia LTDA, Pavitec Construtora LTDA, Penascal Engenharia e Construções LTDA, Equipe Engenharia LTDA e Encopav Engenharia LTDA. Elas têm cinco dias para apresentar proposta à administração municipal.
A Selco Engenharia aparece como habilitada e também foi selecionada em outros três pregões, um deles referentes a “serviços de manutenção preventiva e corretiva na Iluminação Pública com fornecimento de materiais, equipamentos e mão de obra, na Região do Anhanduizinho e Distrito de Anhanduí”.
A empresa é conhecida pelos ‘buracos fantasma’ e os empreiteiros estão com os bens bloqueados a pedido do MPE (Ministério Público Estadual). No próximo dia 9 o TJ-MS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul), decidirá sobre os pedidos do ex-secretário de Infraestrutura, Transporte e Habitação de Campo Grande, Semy Ferraz, Uilson Domingues, Gerson Nina Prado, Abiel Lovassero e Selco Engenharia, para que ação de improbidade administrativa na qual todos são citados seja rejeitada.