Famílias foram removidas da Cidade de Deus para ‘novas favelas'

A Prefeitura de iniciou nesta segunda-feira (7) a remoção de 390 famílias da , no bairro Dom Antônio Barbosa. Ao invés de irem para casas populares, no entanto, os moradores estão sendo distribuídos em áreas onde são orientados a iniciar novas favelas. A informação oficial era de que receberiam até crédito para comprar material de construção.

Na prática, receberam o básico para reerguerem barracos de lona. Em pleno Dia Internacional da Mulher, Ramona Ximenes, de 34 anos, mãe de dois meninos, com 12 e dois anos de idade, amanheceu sem teto. Primeira a ter o barraco demolido na Cidade de Deus, ela dormiu no relento, cuidando os poucos pertences que restam.

“Tive que começar o barraco sozinha e dormir aqui ao lado para que ninguém invadisse, para que ninguém pegasse minhas coisas”, conta. “Dormi nas cadeiras com muito mosquito e no escuro. Não tem iluminação pública ao redor, não tem no terreno. Tem os padrões mas não foi instalada ainda”, diz.

Ainda esperançosa, Ramona lembra que a promessa era de funcionários da Prefeitura ajudariam na reconstrução do barraco. Ninguém apareceu, e ela começou sozinha a erguer o novo lar para as crianças. “Recebemos lona e pregos”, informa. Segundo os removidos, alguns servidores ainda jogaram o material no terreno e muitos móveis e pertences pessoais se quebraram.

Mas, os bens materiais estão longe de ser a maior preocupação para quem já perdeu o pouco que tem tantas vezes. Ramona esta preocupada é com os estudos do filho mais velho. O garoto estuda na Escola Municipal Tomaz Girardelli, e agora, terá que andar mais de 5 quilômetros para estudar.

 Cleber Gellio

Mesmo com tanta desgraça, há certo otimismo entre os moradores com a perspectiva de estarem em um local que, por enquanto, acreditam ser definitivo. Enquanto o poder público municipal de Campo Grande é alvo de denúncias pela distribuição de grandes áreas a empresas e empresários que nem sempre investem o prometido nos imóveis, tem gente feliz com o terreno precário para morar.

Edna Marcelino, de 58 anos, acordou feliz neste 8 de Março, mesmo sem lembrar das celebrações em noma da emancipação feminina. Ela comemora que agora não corre mais o risco de ser acordada com policiais na porta como se fosse bandida. “Sei que o cantinho é meu. Não corro mais o risco de acordar e ter polícia na frente do barraco, dizendo para sair”, afirma.

Ela diz ainda que conseguiu levantar o barraco parcialmente e dormiu tranquila. “Estendi o colchão no chão, mas já com cobertura”, finaliza. Apesar das perspectivas, não escondem a decepção com a forma como foram tratados, mais uma vez, pelo poder público. Alguns dizem que por enquanto a situação é ainda pior do que a que viviam na antiga favela.

Júlio César da Silva, de 28 anos, conta que a mudança dele foi feita por volta das 15 horas e até o meio da manhã desta terça-feira (8) não havia dormido. Ele teve que levantar o barraco sozinho e enfrentou problemas de engenharia que nem imagina como resolver. Segundo Júlio César, ao escavar para para fincar os caibros no solo para levantar o barraco, eles atingem o lençol freático e temem que os barracos tenham as bases apodrecidas em pouco tempo.

Ele mora com a mulher e dois filhos, de 11 e 2 anos. E o filho mais velho também sofre com a mudança, pois assim como o filho de Ramona, estuda Escola Municipal Tomaz Girardelli. Devido a isso, as crianças não foram para a escola hoje.

 Cleber Gellio