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Cotidiano

Há 23 aniversários da Capital, eles convivem com um gigante abandonado

Prédio que seria rodoviária continua abandonado
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Prédio que seria rodoviária continua abandonado

Vinte e três anos e algumas administrações permeiam a memória do gigante abandonado no bairro Cabreúva. É o – ou pretende ser – o espaço de cerca de 14 mil metros quadrados, que fica no cruzamento da Avenida Ernesto Geisel com a Rua Plutão.

Foi durante a gestão do ex-governador Pedro Pedrossian, há 23 anos, que o prédio começou a ser construído. O objetivo era abrigar a nova rodoviária da capital. Abandonada, a obra foi retomada em 2011 pelo o ex-prefeito Nelsinho Trad (PTB), que decidiu transformar a estrutura no ‘Centro de Belas Artes’, que acabou parando no tempo.

O tempo marca o local em perspectivas. Três pessoas, de diferentes gerações e vivendo durante tempos diversificados ao redor da construção, acompanharam o ‘ir e vir’ da obra e, também, as mudanças na comunidade que vive no local.

Alice já vivia no São Francisco, em frente ao local das obras, antes mesmo do projeto ser pensado. Ela tem 91 anos e mora ali há mais de 30 anos. Com o tempo, chão, obra e a casa onde vive foram ganhando outros contornos.

“Aqui era outra história. Era um matagal, um monte de colonião [tipo de vegetação] que tinha aqui. A vida era limpar esse mato, não tinha asfalto, nada. Depois, as coisas foram chegando. Fui trabalhando e aumentando a minha casa”, conta Alice.

Este ano, Alice não vai aos eventos que comemoram o aniversário da capital – que faz 117 anos na sexta (26) -, pelo segundo ano seguido. “As coisas mudam”, explica ela. “Não sinto vontade. Já não é do jeito que era de primeira, né?”.

A obra, para a idosa, ganha o nome de ‘isso aí’. Adequado, para um local que já ganhou tantos projetos e identidades ao longo do tempo. “Isso aí já foram três vezes que retomaram, não foi?”, explica, tentando buscar as ‘retomadas’ na memória.

“Fizeram um pouco e viraram as costas. Agora está parado, fizeram um pouco e viraram as costas. Todo mundo queria que terminasse isso aí. Mas não tem jeito, faz campanha e depois desperdiça todo o material. Acredita que já retiraram bastante dessas telas que ficam em volta? Tiram e carregam”, relata a idosa, observadora da dinâmica das obras.

Trilhos do tempo

Ordinez Otaño tem 66 anos, é bancário aposentado e descendente de espanhóis. A história ele conta ao dar uma pausa da caminhada diária que costuma fazer no local. Ordinez vive há 25 na Vila Planalto. Ele é um admirador do local. Não só pelas características, que ele discorria admirando a altura, a visão privilegiada de e a localidade. Para o idoso, o lugar também guarda as memórias da antiga NOB (Noroeste do Brasil), cujos trilhos ainda podem ser vistos, ao lado da moderna ciclovia que corta o local.

“Em todas as cidades a referência era a ferrovia. Passava por aqui, ia até o InduBrasil, depois Aquidauana e então Corumbá”, conta, sobre o trajeto do trem. “Aí privatizaram, acho que foi no governo do Fernando Henrique Cardoso que começaram. Entregaram de graça, detonaram com tudo”, critica.

Ordinez chama o abandono das obras de ‘crime’. “Isso é lamentável, horror com o dinheiro público. Fazem porque não é dinheiro dos administradores. Um lugar bonito, foi um crime. Pelo menos hoje está mantendo limpo. Tinha muito colinião, era cheio de marginais”.

O aniversário da cidade ele não quer comemorar. “Campo Grande já foi bastante comemorada. Mas o nosso país como está, os políticos se preocupam mais com os próprios interesses do que com a comunidade”.

Mas o idoso não perdeu a esperança. Para ele, ‘irá surgir uma nova filosofia política’. “É uma cidade bonita, criei meus filhos aqui, e vai melhorar quando os políticos ficarem melhores”, opina.

Condomínios vão surgindo

Na visão da estudante de tecnologia em alimentos, Andreia Otsuka, 27, que mora no São Francisco há mais de 10 anos, o local tem se transformado com rapidez enquanto a obra do Centro continua parada.

“A Orla trouxe mais pessoas pra cá. Antes não tinha esses condomínios, já são uns três que surgiram em uns três anos. Aqui era tudo meio matagal, tinha até umas vacas”, conta ela, explicando que o dono foi vendendo os terrenos, que, da imagem ‘rural’, passaram a ganhar características da urbanidade brasileira: os condomínios.

Para a estudante, as mudanças foram boas. “Tava abandonado ali e era só mato. Eu nem passava muito ali, porque ouvia histórias, não tinha muita iluminação, eu tinha medo”.

Mesmo limpo, no entanto, a imagem de uma enorme construção de concreto já ficou na rotina diária. Se o local será um espaço de atividades culturais ou se continuará a ser apenas uma estrutura abandonada, Andreia não soube dizer. “Sabe que nunca parei pra pensar? Já virou rotina olhar aquilo ali”.

A Construção

A prefeitura afirma ‘realizar estudos’ no momento, e promete que a obra irá continuar.

 “O projeto do Centro Municipal de Belas Artes surgiu da necessidade de se dar uso à edificação que abrigaria um Terminal Rodoviário e faz parte de um Termo de Ajustamento de Conduta estabelecido entre Ministério Público, Estado e Município em 2008”, afirma.

De acordo com a administração, o prédio teve etapas. “A obra, estimada em R$ 40 milhões, foi dividida em etapas, em função de duas emendas parlamentares que foram liberadas, gerando contratos de repasses firmados com o Ministério do Turismo. Desta forma, estão sendo executadas duas etapas”.

A primeira, de acordo com a prefeitura, foi a construção de “Oficinas de Artes Plásticas e de Artesanato, das salas de dança, literatura, projeção e cinematografia, além de banheiros masculino/feminino/vestiários e saguão”. A administração informa que essa etapa está com 88% dos serviços executados, e que foram gastos, até o momento, R$ 7 milhões.

Já a segunda etapa, segundo a prefeitura, prevê a construção de todo o subsolo da edificação, destinado à administração do prédio, estacionamento, alojamentos e vestiários, além de espaço para gerador e cabine de energia. Essa parte está com 15% dos serviços concluídos, e gastos de R$ 450 mil.

“Em função das situações adversas detectadas durante a execução das obras, decorrentes das condições de implantação, com aproveitamento da estrutura remanescente, muitos serviços precisam ser executados e que não fazem parte dos contratos iniciais. Portanto para conclusão das 1ª e 2ª etapas será necessário nova licitação dos serviços faltantes, levantamentos estes que estão sendo feitos pela Seintrha [Secretaria municipal de infraestrutura transporte e habitação]”, declara a administração.

 A 3ª Etapa, de acordo com a Prefeitura, se refere às construções da Pinacoteca, das Esculturas, Teatro Municipal com camarim, depósitos, bilheteria, sanitários, café, palco, salas de ensaio, conjunto cênico com iluminação, som, mecânica, vestimentas e urdimento; salas de música com salas de aula, sala para a Banda Municipal, sala de coral, salas de ensaios, sanitários, depósitos; o Restaurante-escola e todo mobiliário e equipamentos.

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