Enzo passou por duas unidades de saúde e tomou apenas soro

O ambiente de trabalho do casal Flávio Maurício de Arruda Lopes, de 38 anos, e Adriana Godoy da Silva, de 26 anos, o shopping Norte Sul, em , foi palco de uma despedida que nenhum pai ou mãe quer ter na vida: foi ali, nesta quinta-feira (8), que morreu o filho deles, Enzo Manoel Godoy, de um ano e oito meses, depois de uma tentativa frustrada de reanimação pelos socorristas. A história, triste por si só, fica ainda mais dramática quando se sabe os fatos anteriores ao falecimento do menino.

O bebê, segundo os pais, começou a passar mal na terça-feira (6) depois de sair do Ceinf (Centro de Educação Infantil) Osvaldo Maciel de Oliveira, no Bairro Taquarussu. Desde então, passou por duas unidades de saúde públicas e iria para uma terceira, por orientação dada no atendimento nestes locais. Não deu tempo. Quando os pais pesavam em procurar um táxi, a criança começou a passar muito mal e eles decidiram pedir socorro no shopping, onde ambos trabalham. Lá, Enzo chegou morto.

No velório, obviamente muito abalado, o pai contou que a criança chegou passando mal do Ceinf, na terça-feira, com muito vômito. Os pais esperavam que o mal estar passasse, mas na quarta, no feriado, a criança continuou vomitando, apresentava diarreia e pedia água o tempo todo.

A primeira unidade de saúde procurada foi o Centro de Especialidades Infantis, recém inaugurado no bairro Guanandi. Lá, disse o pai, o atendimento foi negado e a recomendação foi procurar a UPA (Unidade de Pronto Atendimento) do Leblon. Nela, segundo o relato de Flávio, a criança recebeu apenas soro e foi liberada, com a indicação de procurar outra UPA, da Vila Almeida. Nesse trajeto, quando eles iam pegar um táxi, Enzo piorou e morreu nos braços da mãe.

O menino já estava desacordado quando o casal tentou socorro no shopping. Bombeiros e socorridas do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) tentaram reanimar a criança, sem sucesso.

Apenas soro

“Só deram soro pro menino e liberaram, sabendo que ele estava passando mal. Bem mal, mesmo, muito mal”, questionava o pai, nesta tade. “Porque não colocaram ele na ambulância e não levaram para a outra unidade?”, prosseguiu.

A reportagem não conversou com a mãe, que estava muito abalada. O clima no velório é de comoção, como é de se esperar. “A gente está muito incomodado com isso e eu acho que sim teve negligência no atendimento”, afirmou Flávio. Ele e a esposa moram em Campo Grande há menos de 3 anos vindos de Corumbá. Eles têm outro filho, de 7 anos.

Ele contou que, em meio uma situação tão dramática, teve de brigar para que fosse feito um exame mais detalhado na criança. “Fomos três vezes na delegacia”, citou. A reportagem apurou que, inicialmente, o médico de plantão no IMOL (Instituto de Medicina e Odontologia Legal) recusou-se a fazer o exame necroscópico, alegando que se tratava de morte natural e por isso o corpo deveria ser encaminhado para o SVO (Serviço de Verificação de Óbito). Foi preciso voltar à delegacia para que o delegado de plantão solicitasse a realização do exame. 

O caso foi registrado na Depac (Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário) do bairro Piratininga, mas a investigação ficará a cargo da DPCA (Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente). O titular da unidade, Paulo Sérgio Lauretto, informou que ainda não recebeu o caso para dar início aos procedimentos.

A Sesau (Secretaria Municipal de Saúde Pública) informou que vai abrir investigação sobre o atendimento dado ao menino.

(Matéria editada às 15h55 para acréscimo de informação)