Pedido teria sido feito depois de trocas de mensagens em redes sociais
Depois da troca de mensagens nas redes sociais por produtores rurais convocando para promover a expulsão de indígenas, no Distrito de Bocajá, na região de Dourados, distante 235 quilômetros de Campo Grande, o MPF (Ministério Público Federal) requisitou a abertura de inquérito para investigar a formação de milícias privadas por fazendeiros. Esse tipo de investigação é feito pela Polícia Federal.
Em uma das postagens feitas, o texto convoca todos os produtores rurais da região a promover uma mobilização depois que uma fazenda, no distrito de Bocajá foi ocupada pelos guarani-kaiowá. Em entrevista ao Jornal Midiamax, o presidente do sindicato rural de Rio Brilhante, Luis Otávio Brito Fernandes, nega que as mensagens trocadas seriam uma incitação à violência contra os índios, mas argumenta que os proprietários têm direito a defender suas fazendas.
“As reintegrações de posse não estão sendo cumpridas, e a lei permite que se defenda sua propriedade. Em nenhum momento as trocas de mensagens tinham a motivação de gerar violência, e sim de manter uma conversa, negociar. Nada foi feito acima do que a lei permite, o direito assiste as pessoas de estarem em suas propriedades”, explica Luis Otávio.
Ainda de acordo com o produtor rural, a Funai (Fundação Nacional do índio) esteve na quinta-feira (3), na região em reunião com os indígenas, mas nada de prático foi feito até o momento. “A Funai deve voltar ainda hoje à região para outra conversa com os índios. O clima é de tensão, principalmente, por que as pessoas estão com medo de ficar em suas casas”, fala.
Sobre o pedido de abertura de inquérito para investigar incitação de violência de produtores contra índios, Luis Otávio critica a postura do MPF. “Deve haver algum aspecto de amor à causa, por que o Ministério Público tem de lembrar que a defesa da sociedade não passa por uma classe só”, diz.
“Estamos defendendo o que é nosso , somos famílias e defendemos o que é nosso por direito legítimo”, finaliza.
Em 2014, a empresa Gaspem Segurança LTDA. foi acusada de atacar e assassinar indígenas em Mato Grosso do Sul e teve suas portas fechadas depois do MPF (Ministério Público Federal) classificar a empresa como milícia privada em desocupações violentas contra indígenas. Segundo investigações a empresa recebia por casa desocupação em média R$ 30 mil.
Antônio João
No dia 29 de agosto, Semião Fernandes Vilhalva, foi morto em um conflito na zona rural de Antônio João, distante 402 quilômetros de Campo Grande, já no dia 3 de setembro outro conflito entre produtores rurais e indígenas gerou tensão entre os munícipios de Douradina e Itaporã, a 30 quilõmetros de Dourados, quando os indígenas afirmaram terem sido atacados produtores rurais.
O conflito entre produtores rurais e indígenas teve início no dia 22 de agosto, quando um grupo entrou na fazenda Primavera. Com isso, o clima de insegurança se instalou na cidade. Os indígenas ergueram acampamentos em cinco propriedades: Primavera, Pedro, Fronteira, Barra e Soberania. Restam apenas duas fazendas para serem retomadas.
Na quarta-feira (2), o ministro da Justiça José Cardozo esteve em Campo Grande em reunião com o governador Reinaldo Azambuja (PSDB), produtores rurais e líderes indígenas. Foi estabelecido que cinco áreas serão escolhidas para iniciar o processo de diálogo para dar fim ao impasse que se estende por décadas.