Gestante foi parar no hospital com reação alérgica a repelente

Os rumores de que um novo vírus, transmitido por um antigo conhecido, pode fazer os bebês nascerem com deformações genéticas, está assustando as futuras mamães e fazendo com que algumas até se arrisquem em medidas de prevenção, na tentativa de combater qualquer tipo de perigo.

Desde o início de novembro, uma enxurrada de notícias sobre nascimentos de crianças com microcefalia na região nordeste do país, despertou um medo novo na população, principalmente entre as mulheres. A doença estaria associada a um vírus, também transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, conhecido em outros países pelo nome de zika. Em pouco tempo, milhares de pessoas desenvolveram sintomas da doença, e pelo menos 1.248 casos de microcefalia foram registrados pelo Ministério da Saúde, sendo três deles na cidade de Dourados, região sul de Mato Grosso do Sul.

A balconista de 26 anos, que já está com o parto agendado para a próxima segunda-feira (14), contou, agora aos risos, que por medo da doença, mandou dedetizar toda a casa, mas não respeitou o tempo recomendado para voltar ao ambiente, e acabou desenvolvendo uma reação alérgica aos produtos, e ficou toda cheia de manchinhas vermelhas, que a princípio foram confundidas com o vírus. “Quando me vi toda pintada eu desesperei, pensei na hora que tinha pego contraído o vírus e já sai correndo para o médico. Para minha sorte era só uma reação dos produtos químicos usados na dedetização”, comenta Thays Rhoca Safar, ao rir da ironia na situação, e destacar que o futuro filhote está bem.

Em meio a boatos sobre vírus zika, mães desenvolvem pânico do mosquito Aedes

Outra que não está polpando cuidados com a princesinha que está por vir, é a comerciária Roselaine de Oliveira, de 31 anos, grávida de oito meses. Ela explicou que ainda não sabe muito sobre o zika vírus, e até buscou mais detalhes com seu obstetra, mas infelizmente, o desconhecimento sobre a doença está em todos os setores da sociedade. Na verdade, a única certeza que os especialistas têm até agora, é que a melhor saída é o combate ao mosquito Aedes Aegypti, que aliás, também é o agente transmissor da dengue e da febre chikungunya.

Para manter o mosquito longe, a gestante está fazendo do repelente um produto de uso contínuo. “Eu passo pelo menos três vezes por dia, e também uso veneno em casa, além de cuidar do quintal e da casa para não deixar focos de proliferação do mosquito”, reforçou Roselaine, ao dizer que fez questão de chegar a bebê de pertinho, “só para conferir se está tudo certo”, através de uma ultrassom detalhada.

Em meio a boatos sobre vírus zika, mães desenvolvem pânico do mosquito AedesO Ministério da Saúde está negociando com o Exército Brasileiro a produção de repelentes para serem distribuídos as grávidas. Segundo o ministro Marcelo Castro, o laboratório do Exército, que já fabrica esses repelentes para suas tropas, passará a produzir em maior escala. “Estamos dando atenção especial às gestantes e mulheres em período fértil. É drama humano, de dimensões extraordinárias, uma mulher grávida saber que foi picada por um mosquito. Ela vai entrar, seguramente, em pânico, porque sabe das consequências que isso poderá trazer para o seu filho”, declarou.

O problema, é que nem todas as gestantes tem a consciência de que precisam se prevenir. Jaime Luiz Xavier, de 25 anos, admitiu que ele e a esposa, grávida de seis meses, ainda não intensificaram os cuidados com o mosquito. “A gente cuida do nosso quintal, procura não deixar nada que acumule água, mas usar repelente, redobrar atenção, a gente não se preocupou muito, até mesmo porque, isso está acontecendo lá no nordeste né”, disse.

O estagiário de Ciência da Computação ficou surpresou ao saber que já foram notificados pelo menos 75 casos suspeitos de zika, só em Campo Grande, além dos três recém-nascidos com microcefalia em Dourados. “Eu não sabia, de verdade, achei que estávamos protegidos disso”.

O infectologista e pesquisador da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz em Mato Grosso do Sul), Rivaldo Venâncio, destacou a importância da prevenção e combate ao mosquito, uma vez que a doença ainda é um mistério para ciência, e não há informações concretas sobre como ela evolui, por quanto tempo o vírus fica no corpo, e até que período da gestação a criança fica vulnerável.Em meio a boatos sobre vírus zika, mães desenvolvem pânico do mosquito Aedes

“Nós sabemos que o vírus gosta do sistema nervoso central, e aqui no Brasil foram identificados em líquidos aminóticos de duas mulheres, que estavam grávidas, e que tinham diagnóstico de microcefalia, por meio de ultrassonografia. Foi feita a sucção e retirado uma amostra do liquido aminótico, e diagnosticado a presença do vírus”.

Ainda segundo o especialista, por se tratar de uma doença nova, está sendo trabalhada a analogia da rubéola, onde normalmente, quando a exposição do bebê acontece no primeiro trimestre, há má formações graves, já quando acontece no terceiro trimestre, as manifestações são mais brandas. “Nós estamos trabalhando nessa linha, mas de qualquer forma, é preciso acompanhar as gestantes que apresentaram sinais do vírus, independente do tempo de gravides”, finalizou.