Dia da Abolição não é orgulho para negros e data é separada para reflexões
Movimentos dizem que abolição não libertou ex-escravos
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Movimentos dizem que abolição não libertou ex-escravos
A Lei Áurea, que aboliu oficialmente a escravidão no Brasil, foi assinada em 13 de maio de 1888, pela princesa Isabel, em nome do Imperador, o Dom Pedro II, no entanto, os 127 anos da abolição da escravatura não são motivos de orgulho para a população negra e a data não é comemorada entre os movimentos sociais que defendem a igualdade racial.
A presidente da CVEN (Comissão da Verdade da Escravidão Negra) da OAB-MS (Ordem dos Advogados do Brasil Seccional do Mato Grosso do Sul), Raimunda Luzia de Brito, explica que a abolição não trouxe liberdade aos ex-escravos e seus descendentes.
“Não comemoramos porque não sentimos que houve libertação dos escravos. Existiu uma acomodação política que a princesa Isabel foi chamada para assinar e sem ao menos saber o que estava fazendo. Quando se liberta alguém dá-se condições de trabalho e sobrevivência. Não temos direito a nada. Tenho 76 anos e sei o quanto foi difícil conseguir ir para a escola. Não houve libertação, o negro não podia ter casa, terras e nem ir para a escola”, afirma.
Em alusão aos 127 anos da abolição, a Sedhast (Secretaria de Estado de Direitos Humanos, Assistência Social e Trabalho, promove um seminário para debater o assunto. A coordenadora de Programas e Ações Para Promoção da Igualdade Racial e Cidadania de Mato Grosso do Sul, Lecir Marques Machado, diz que é importante fazer reflexões sobre tema.
“Temos de fazer a desconstrução do dia 13 de maio porque apesar dos 127 anos de abolição, isso não foi realizado. O Estado precisa ter um olhar diferenciado. É necessário implementar programas para todas as sociedades que elevem o patamar de emprego, renda e inserção das comunidades em órgão públicos”, ressalta.
Conforme o último censo divulgado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas), somando os recenseados que se consideram negros e pardos, o percentual é de mais de 47% da população de Mato Grosso do Sul, que conta com 2,4 milhões de habitantes. Em todo o Estado existem 22 comunidades quilombolas com mais de 15 mil afrodescendentes.
Em Campo Grande são dois mil quilombolas morando nas comunidades urbanas, Tia Eva e São José Batista incluindo também o quilombo Chácara Buriti na zona rural. A presidente do Coletivo de Mulheres Negras de Mato Grosso do Sul, Ana José Alves, enfatiza que o evento realizado pela Sedhast tem a função de debater sobre as consequências da abolição.
“O problema não foi o 13 de maio e sim o 14 que fiou. No dia seguinte os escravos não tinham trabalho, casa e nem alimento. Temos de trazer essas reflexões sobre a situação em que eles ficaram e as consequência por que hoje os descendentes de escravos ainda vivem nas periferias dos grandes centros. Não se vê um negro ocupando cargos importantes e de destaque no poder público”, observa.
A presidente da Associação Quilombola Tia Eva, onde vivem 524 pessoas, diz que outro reflexo da abolição é o preconceito, até mesmo dentro das comunidades. “Esse seminário é importante, mas deveria ser dentro dos quilombos porque alguns negros têm vergonha de si. Tanto que é comum negros de classe social mais elevada casarem-se com brancos. Este é um grande exemplo”, destaca.
O seminário de reflexões históricas sobre o dia 13 de maios será realizado nos dias 13,19 e 28 de maio. Além da Sedhast o evento também percorrerá outras entidades parceiras como UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), OAB-MS e Uniderp (Universidade para o desenvolvimento do Estado e Região do Pantanal), conforme a programação.
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