‘Já demorou demais para resolver', diz haitiano que trabalhava no Aquário

Nordestinos e haitianos contratados pela Construções Ltda., para a construção do Aquário do Pantanal, aguardam receber o acerto do contrato para conseguirem voltar a suas terras natais. Em uma pensão na Vila Progresso, 28 homens esperam receber pelo trabalho que fizeram, enquanto a empresa vive no epicentro da Operação Lama Asfáltica, suspeita de há anos sugar de forma fraudulenta somas milionárias dos cofres públicos.

Os operários – dois deles são haitianos – preferem até ficar no anonimato, mas revelam sentimento de ansiedade pela volta para casa. Dizem que na sexta-feira (7), um representante da empresa foi até o alojamento e informou que o acerto vai sair no dia 17.

Questionados sobre o valor que vão receber, eles se mostram desconfiados e temerosos. “Nunca se sabe. A empresa sempre pega uma parte para ela”, diz um dos nordestinos. Tímido, um dos haitianos que mora no local diz que “já demorou demais” para tudo se resolver, também sem confiança suficiente para revelar por qual salário foi contratado.

Os trabalhadores nordestinos dizem que vieram de Alagoas, Sergipe e Ceará e afirmam que foram contratados nos Estados de origem pela empresa com promessa de salário e alojamentos. “Tinha 40 de Alagoas. Mas, agora tem menos”, diz um deles. “É complicado ficar aqui. Não queremos mais não”, completa.

Outro operário diz que nem pensou em ficar em . Ele diz que há trabalho na Capital, mas não compensa para eles ficarem longe da família. “Emprego tem, mas o salário dá só para sobreviver”, constata.

Apesar das condições em que estão vivendo, os trabalhadores dizem não estarem passando necessidade. O problema recente foi a marmita, que alguns dias atrás “não dava nem pra cachorro comer”, mas que, após reclamações, foi trocado o restaurante que fornece a comida.

Lama de problemas

Os trabalhadores vieram há pouco mais de um ano para trabalhar na obra e foram instalados em uma pensão nas proximidades do Terminal Morenão. Emperrado em problemas, denúncias e suspeitas, o Aquário do Pantanal não foi inaugurado no prazo pelo governo de André Puccinelli (PMDB), está bem mais caro que o previsto inicialmente e sobrou para a atual administração estadual resolver o problema.

Recentemente, após a Lama Asfáltica ir à tona, o governo de Reinaldo Azambuja (PSDB) atendeu à recomendação do MPF (Ministério Público Federal) e suspendeu o contrato com a Proteco, que também deve ser alvo de auditoria. Por enquanto, a obra do Aquário do Pantanal está parada e o Executivo estuda como concluir o projeto, orçado em R$ 84 milhões, mas que tem custo atual na casa dos R$ 230 milhões.

Segundo o Sintracon (Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil e do Mobiliário de Campo Grande), a Proteco, subcontratada da Egelte na construção do Aquário em uma manobra também considerada suspeita, já dispensou oito dos operários do nordeste que trabalhavam em Campo Grande e deve dispensar o restante em 17 de agosto.

Os trabalhos da construtora e o pagamento dos contratos devem ficar suspensos até que a fiscalização seja concluída. Nenhum dos envolvidos na Lama Asfáltica foram presos até agora. Para haitianos e nordestinos, restam, por enquanto, incerteza e saudade.