A viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao Japão e Vietnã, realizada no final de março, contou com uma comitiva de, no mínimo, 220 integrantes, além da presença da primeira-dama, Rosângela da Silva, a Janja. Até agora, os gastos confirmados ultrapassam R$ 4,5 milhões, embora o total exato ainda não tenha sido revelado mais de um mês após o retorno ao Brasil.
Segundo apontou o Estadão, entre os participantes, estavam 11 parlamentares e ao menos 72 servidores de órgãos vinculados à Presidência da República, como o Gabinete Pessoal, o GSI (Gabinete de Segurança Institucional), a Secom (Secretaria de Comunicação) e a Casa Civil.
Questionada sobre os detalhes da comitiva e os custos totais da missão oficial, a Secom não forneceu as informações. Em nota ao veículo, informou que apenas os nomes das autoridades constam no Diário Oficial da União e que os integrantes das comitivas técnicas e de apoio estão sob sigilo reservado, com possibilidade de não divulgação por até cinco anos.
Ainda segundo a Secom, conforme o Decreto nº 940/1993, as despesas de hospedagem das autoridades e servidores que acompanham o presidente em viagens internacionais são custeadas por recursos do Itamaraty.
As informações completas sobre a comitiva ainda não foram incluídas no Painel de Viagens do Ministério do Planejamento, nem no Portal da transparência. O decreto de 1985 que regula o pagamento de passagens e diárias para servidores públicos prevê prazo de até 30 dias para a prestação de contas.
A relação de nomes só foi revelada pelo jornal O Estado de S. Paulo por meio do cruzamento de dados do Diário Oficial da União, do Painel de Viagens e de ordens bancárias disponíveis no sistema Siga Brasil, do Senado Federal.
Essa foi, até o momento, a maior comitiva que acompanhou Lula em viagens internacionais durante seu terceiro mandato. Em setembro do ano passado, o presidente levou cerca de 100 pessoas à Assembleia-Geral da ONU, em Nova York.
Janja tem aval
Dentre as polêmicas envolvendo a carga financeira de viagens do governo petista, se destaca a primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, que nesse caso viajou ao Japão cinco dias antes da chegada do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 18 de março, integrando o chamado Escalão Avançado — grupo responsável pela preparação logística da visita presidencial.
O deslocamento foi realizado em um Airbus A330-200 da Força Aérea Brasileira (FAB), a maior aeronave da frota, com capacidade para até 250 passageiros.
Mesmo sem ocupar cargo oficial no governo, Janja utilizou classe executiva no trecho de Paris a São Paulo, após participar de um evento sobre nutrição na capital francesa. Os deslocamentos entre Tóquio, Paris e Brasil custaram R$ 60.210,58, conforme dados do Painel de Viagens do governo federal.
Questionada pela BBC News Brasil, Janja justificou a antecipação da viagem como medida de economia. “Obviamente, eu vim com a equipe precursora, inclusive para economizar passagem aérea. Vim um pouco antes, fiquei hospedada na residência do embaixador”, afirmou.
De acordo com o sistema de pagamentos Siafi, 112 pessoas integraram o Escalão Avançado, a maioria militares, servidores do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) e do Itamaraty. Também acompanharam a missão o fotógrafo oficial do presidente, Ricardo Stuckert, e assessores pessoais da primeira-dama.
No final de março, Lula reagiu às críticas e defendeu a presença da esposa. “Primeiro que a minha mulher não é clandestina. Ela vai continuar fazendo o que ela gosta, porque a mulher do presidente Lula não nasceu para ser dona de casa”, afirmou.
Carga financeira com viagens
Na quarta-feira (7), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) embarcou para Moscou, na Rússia, onde permanece este sábado (10). Esta é a 29ª viagem internacional de seu terceiro mandato.
Entre os integrantes da comitiva oficial estão o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), o vice-presidente da Câmara, deputado Elmar Nascimento (União-BA), e os ministros Alexandre Silveira (Minas e Energia), Luciana Santos (Ciência e Tecnologia) e Mauro Vieira (Relações Exteriores).
Assim como ocorreu na viagem ao Japão, a primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, viajou antes do presidente em uma aeronave da Força Aérea Brasileira (FAB).
O levantamento do Estadão mostrou que entre os nomes com maiores gastos na missão ao Japão está Márcio Fernando Elias Rosa, secretário-executivo do MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços).
Ele acumulou despesas de R$ 112,2 mil, incluindo um voo pela Qatar Airways no valor de R$ 48,1 mil e R$ 22,2 mil em diárias. Segundo o MDIC, as passagens foram adquiridas por empresa contratada após pesquisa de preços e incluíram os trechos entre Japão e Vietnã.
Logo depois aparece o ex-ministro das Comunicações, deputado Juscelino Filho (União-MA), com R$ 99,6 mil gastos na missão, a última que cumpriu no cargo.
Ele deixou o ministério em 8 de abril, uma semana após a viagem, após ser denunciado pela Procuradoria-Geral da República por suposto desvio de emendas parlamentares. Juscelino levou dois assessores, e o custo total do trio foi de R$ 106,9 mil.