Pular para o conteúdo
Brasil

Munição que matou delator em aeroporto é de lote usado em mega-assalto em 2020

Munições foram compradas pela Polícia Militar do Estado de São Paulo entre 2013 e 2018
Liana Feitosa -
Compartilhar
Antônio Vinicius Lopes Gritzbach era delator do PCC (Foto: Montagem/g1Reprodução/TV Globo e Rede Record).

Parte da munição usada na execução do delator do PCC, Vinícius Gritzbach, morto no aeroporto de Guarulhos em novembro do ano passado, era do mesmo lote de projéteis disparados em um mega-assalto a três agências bancárias ocorrido em 2020, em Botucatu, no interior de São Paulo. 

A conclusão foi obtida após inquéritos instaurados para apurar a ligação da polícia paulista com o PCC. Os documentos foram analisados pelo Instituto Sou da Paz, que atua na prevenção da violência e na promoção da segurança pública, e obtidos pelo Estadão. 

Segundo o instituto, os três lotes de balas de fuzis encontradas nas duas situações, o assassinato de Gritzbach e o assalto aos bancos, foram comprados pela Polícia Militar do Estado de São Paulo entre 2013 e 2018.

“Vimos os laudos e as requisições feitas a diferentes instituições sobre a origem dessas munições. Fizemos a análise e vimos que há sequência numérica, tanto de munição encontrada em Botucatu, como no Aeroporto de Guarulhos. São munições do mesmo lote que foi adquirido pela PM do estado de São Paulo”, disse Carolina Ricardo, diretora-executiva do Sou da Paz, ao Estadão.

Mega-assalto em Botucatu

O ataque a três agências bancárias de Botucatu, ocorrido em julho de 2020, foi executado por uma quadrilha com 40 integrantes e espalhou terror na cidade. Houve explosões, pessoas feitas reféns nas ruas e intenso tiroteio. Os criminosos incendiaram 5 veículos, metralharam uma viatura e uma unidade da PM. Além disso, uma agência ficou totalmente destruída pelas explosões.

Na ocasião, em dois carros abandonados pelos suspeitos a polícia encontrou fuzis, munição e dinheiro, e as investigações apontaram que os criminosos eram envolvidos com o PCC. 

Antes de ser assassinado no aeroporto de Guarulhos, Antônio Vinícius Lopes Gritzbach se dizia ameaçado de morte pelo PCC em decorrência de supostos desvios de dinheiro da facção.

Ele denunciou também o conluio de policiais com integrantes do PCC e estava sob escolta privada, feita por PMs. 

Relação

Os ofícios das corporações incluídos nos inquéritos mostram que foram usados quase 50 lotes de munições diferentes no ataque em Botucatu, incluindo munições de 13 lotes da PM e outros do Exército, Aeronáutica, Polícia Rodoviária Federal e Polícia Federal, incluindo pistolas 9 mm e ponto 40, e fuzis 556 e 762.

O lote que teve munição usada em Botucatu foi comprado no mesmo mês em que foi adquirido o lote da munição empregada em Guarulhos.

A diretora-executiva do Sou da Paz considera uma demonstração “muito grave” da falta de segurança do acervo de armas das polícias. 

“A marcação de munições é muito importante para a investigação. No Brasil, o Estatuto do Desarmamento exige apenas que as munições institucionais das forças de segurança sejam marcadas em lotes de até 10 mil peças. Quanto maior o lote, mais difícil de rastrear. Então, a gente precisa ampliar a marcação inclusive para a munição civil”, afirma.

Ela ainda acredita que os casos não são isolados. “São quase cinco anos de diferença, em lugares muito diferentes do Estado de São Paulo, o que gera uma suspeita de que esse lote pode ter sido enviado para outros lugares. Até porque no caso de Botucatu foram encontradas também munições desviadas da Polícia Federal, da Polícia Rodoviária Federal e do Exército.”

Para a diretora, vários pontos são relevantes nessa questão. “No caso do Vinícius (Gritzbach), a gente tem identificado policiais da ativa, civis e militares, o que mostra um envolvimento bastante preocupante de policiais com o crime. Além dos próprios policiais serem suspeitos de participar do assassinato do delator, ainda tem essa munição comprada pelo Estado sendo usada pelo crime organizado no assalto”, afirmou.

O que diz a Secretaria da Segurança Pública

A SSP-SP (Secretaria da Segurança Pública de São Paulo) afirmou que as polícias paulistas mantêm rígidas normas e sistemas de controle e distribuição de munições e que toda suspeita de extravio é rigorosamente investigada. Se comprovada irregularidade, medidas disciplinares e judiciais são adotadas. 

A pasta informou que, no caso de Botucatu, os criminosos usaram munições desviadas de diferentes instituições de segurança.

💬 Fale com os jornalistas do Midiamax

Tem alguma denúncia, flagrante, reclamação ou sugestão de pauta para o Jornal Midiamax?

🗣️ Envie direto para nossos jornalistas pelo WhatsApp (67) 99207-4330. O sigilo é garantido por lei.

✅ Clique no nome de qualquer uma das plataformas abaixo para nos encontrar nas redes sociais:
Instagram, Facebook, TikTok, YouTube, WhatsApp, Bluesky e Threads.

Compartilhe

Notícias mais buscadas agora

Saiba mais

Durante chuva forte em Campo Grande, asfalto cede e abre ‘cratera’ na Avenida Mato Grosso

Bebê que teve 90% do corpo queimado após chapa de bife explodir morre na Santa Casa

Com alerta em todo o Estado, chuva forte atinge Campo Grande e deixa ruas alagadas

Tatuador que ficou cego após ser atingido por soda cáustica é preso por violência doméstica

Notícias mais lidas agora

Menino de 4 anos morre após tomar remédio controlado do pai em Campo Grande

Pedágios

Pedágio em rodovias da região leste de MS fica 4,83% mais caro a partir do dia 11 de fevereiro

Vítimas temem suposta pressão para abafar denúncias contra ‘fotógrafo de ricos’ em Campo Grande

Morto por engano: Trabalhador de usina foi executado a tiros no lugar do filho em MS

Últimas Notícias

Política

‘CPI do Consórcio Guaicurus’ chega a 10 assinaturas e já pode tramitar na Câmara

Presidente da Câmara, Papy (PSDB) não assinou pedido da CPI após defender mais dinheiro público para empresas de ônibus em Campo Grande

Cotidiano

Decisão de Trump de taxar aço pode afetar exportação de US$ 123 milhões de MS

Só em 2024, Mato Grosso do Sul exportou 123 milhões de dólares em ferro fundido para os EUA

Transparência

MPMS autoriza que ação contra ex-PGJ por atuação em concurso vá ao STJ

Ação pode anular etapa de concurso por participação inconstitucional de Magno

Política

Catan nega preconceito após Kemp pedir respeito à professora trans

Fantasia de ‘Barbie’ da professora não foi considerada exagerada por outros deputados