Pular para o conteúdo
Brasil

Ministério critica proposta que pode liberar mineração em terras indígenas

Entenda como o marco temporal impacta Mato Grosso do Sul
Marcus Moura -
Compartilhar
Audiência de conciliação no STF sobre a lei do marco temporal — (Foto: Gustavo Moreno/STF)

O Ministério dos Povos Indígenas criticou, em nota divulgada nesta terça-feira (18), a proposta apresentada no STF (Supremo Tribunal Federal) pelo ministro Gilmar Mendes para a criação de uma nova legislação sobre a demarcação de terras indígenas no país, que abre caminho para uma possível autorização de mineração em terras demarcadas.

No documento, a pasta afirma que foi surpreendida com a minuta apresentada durante o debate. O Supremo realizou audiência nesta segunda-feira (17) a respeito do marco temporal.

Clique aqui para seguir o Jornal Midiamax no Instagram

“Reafirmamos nosso posicionamento contrário à inclusão do tema da mineração na minuta, cujo conteúdo não resultou de construção conjunta. Qualquer debate acerca do tema deve ser feito com o devido respeito à autodeterminação dos povos indígenas e ao direito de decidir pela prevalência de seus modos de vida, frente a quaisquer interesses econômicos”, diz a nota.

Mendes é o responsável pela relatoria de cinco processos que tratam da teoria do marco temporal, que estabelece que as terras indígenas só poderiam ser demarcadas em locais que estivessem efetivamente sob ocupação no momento da promulgação da Constituição Federal, em 5 de outubro de 1988.

Na semana passada, o gabinete de Mendes divulgou a proposta de um novo projeto de lei que visa substituir a atual Lei 14.701/2023, que consagrou a teoria do marco temporal, agora contestada no Supremo Tribunal Federal pelas lideranças indígenas.
A proposta incorporou sete sugestões provenientes do processo de conciliação.

Conforme o novo texto, o direito dos povos indígenas sobre suas terras tradicionais “não depende da existência de marco temporal” ou de disputas sobre a posse da terra na data da promulgação da Constituição.

Clique aqui para seguir o Jornal Midiamax no Instagram

Quanto à exploração econômica das terras, o projeto dedica três capítulos inteiros para definir as regras para a extração de recursos minerais em territórios indígenas, que, segundo a proposta, deve ser feita “em benefício do interesse nacional” e por um período determinado.

A exploração exigiria a autorização do Congresso Nacional, com a comunidade afetada recebendo 50% do valor arrecadado pela Contribuição Financeira pela Exploração Mineral.

Além disso, o projeto define regras para o “extrativismo mineral” realizado pelas próprias comunidades indígenas, que poderia ser autorizado por um período de até cinco anos pelo Congresso Nacional.

Durante a audiência, os participantes da comissão debateram a minuta ponto a ponto e destacaram trechos que buscarão apresentar sugestões de aprimoramento. As propostas de alterações devem ser levadas para a próxima reunião, prevista para o dia 24 de fevereiro.

Após o debate, será realizada votação em relação aos pontos em que restar divergência entre os integrantes. Será observada a regra da maioria, com o registro pormenorizado de cada posição adotada. Uma sessão extraordinária foi reservada para o dia 27 de fevereiro, caso seja necessário para a conclusão dos trabalhos.

A proposta eventualmente aprovada pela comissão será posteriormente avaliada pelo relator e, em seguida, será posta para avaliação dos demais ministros do STF, que votarão pela sua homologação.

Placa que indica terra Indígena em MS (Arquivo, Jornal Midiamax)

Impactos em MS

Mato Grosso do Sul tem 26 TIs (Terras Indígenas) em processo de regularização, travadas pelas discussões do marco temporal, de acordo com a Funai (Fundação Nacional do Índio).

Povos indígenas estão novamente no centro de uma discussão judicial em torno do marco temporal, tese pela qual a população reivindica terras ocupadas ou disputadas quando a Constituição Federal de 1988 foi promulgada.

Enquanto não há decisão, a demora motiva retomadas e ocupações, como a que aconteceu na TI Panambi – Lagoa Rica, em Douradina, a começar a retomar as áreas, em julho de 2024.

Isso gerou a tensão que terminou em conflito com os fazendeiros da região. O resultado foi que diversos indígenas saíram baleados, e o clima tenso perdura até hoje.
Mas como a tese do marco temporal impacta nessas terras em Mato Grosso do Sul?

Para o procurador Marco Antônio Delfino de Almeida, do MPF (Ministério Público Federal) de Dourados, a PEC não deve se aplicar regionalmente, principalmente em Douradina.

“O que é o Marco Temporal? O Marco Temporal diz que os indígenas não estavam na ocupação em 5 de outubro de 1988. A gente teve uma tentativa de demarcação da Funai em 1972. A gente tem documentos que mostram que a própria USPI, a mando da colônia Agrícola Nacional de Dourados, efetuou a prisão de lideranças desse território. Então, assim, zero possibilidade de Marco Temporal”, disse ao Jornal Midiamax, no começo de agosto de 2024, durante a visita da ministra Sônia Guajajara à região.

“O Marco Temporal é um absurdo, do ponto de vista jurídico, mas ele tem até alguma argumentação fática em outros cenários. Aqui não tem a mínima possibilidade de ele se apresentar”, afirmou. Os territórios indígenas em MS estão em diversos municípios do Estado, entre eles Dourados, Amambai, Caarapó e Paranhos.

💬 Fale com os jornalistas do Midiamax

Tem alguma denúncia, flagrante, reclamação ou sugestão de pauta para o Jornal Midiamax?

🗣️ Envie direto para nossos jornalistas pelo WhatsApp (67) 99207-4330. O sigilo é garantido por lei.

✅ Clique no nome de qualquer uma das plataformas abaixo para nos encontrar nas redes sociais:
Instagram, Facebook, TikTok, YouTube, WhatsApp, Bluesky e Threads.

Compartilhe

Notícias mais buscadas agora

Saiba mais

Durante chuva forte em Campo Grande, asfalto cede e abre ‘cratera’ na Avenida Mato Grosso

Bebê que teve 90% do corpo queimado após chapa de bife explodir morre na Santa Casa

Com alerta em todo o Estado, chuva forte atinge Campo Grande e deixa ruas alagadas

Tatuador que ficou cego após ser atingido por soda cáustica é preso por violência doméstica

Notícias mais lidas agora

Menino de 4 anos morre após tomar remédio controlado do pai em Campo Grande

Pedágios

Pedágio em rodovias da região leste de MS fica 4,83% mais caro a partir do dia 11 de fevereiro

Vítimas temem suposta pressão para abafar denúncias contra ‘fotógrafo de ricos’ em Campo Grande

Morto por engano: Trabalhador de usina foi executado a tiros no lugar do filho em MS

Últimas Notícias

Política

‘CPI do Consórcio Guaicurus’ chega a 10 assinaturas e já pode tramitar na Câmara

Presidente da Câmara, Papy (PSDB) não assinou pedido da CPI após defender mais dinheiro público para empresas de ônibus em Campo Grande

Cotidiano

Decisão de Trump de taxar aço pode afetar exportação de US$ 123 milhões de MS

Só em 2024, Mato Grosso do Sul exportou 123 milhões de dólares em ferro fundido para os EUA

Transparência

MPMS autoriza que ação contra ex-PGJ por atuação em concurso vá ao STJ

Ação pode anular etapa de concurso por participação inconstitucional de Magno

Política

Catan nega preconceito após Kemp pedir respeito à professora trans

Fantasia de ‘Barbie’ da professora não foi considerada exagerada por outros deputados