A distribuição de bíblias e a utilização de aplicativo com viés religioso em ações institucionais da Polícia Rodoviária Federal (PRF) entraram na mira do Ministério Público Federal (MPF). As procuradorias dos direitos do cidadão no e no fizeram recomendações formais para que a distribuição dos materiais seja interrompida.

O MPF considerou indevida a prática por entender que ela viola o princípio constitucional do estado laico. “A preservação do princípio da laicidade é demonstração de respeito por parte do Estado a todas orientações religiosas, crenças e não crenças, que assim podem ser exercidas em plena igualdade de condições e nos ambientes propícios para isso, sem interferência ou patrocínio estatal”, diz trecho da representação.

As recomendações foram enviadas à direção da PRF e à Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp) do Ministério da Justiça para que livros e materiais de qualquer orientação religiosa não sejam enviados a servidores de nenhum órgão da segurança pública

Como mostrou o Estadão, o ministério fez um acordo com uma entidade religiosa para atuar na prevenção a casos de suicídio entre mais de 640 mil profissionais da segurança. O acordo prevê a distribuição de livros, uso de aplicativo, curso e ciclos de palestras. Pelo aplicativo, direcionado aos cristãos, é possível ler a Bíblia e ver vídeos sobre “vida eterna”, oração, equilíbrio emocional e Setembro Amarelo” – campanha que conscientiza sobre suicídio.

A entidade contratada pelo Ministério da Justiça é o “Ministérios Pão Diário”, com sede em e liderada por Luis Garcia Seoane. Nas redes sociais, Seoane costuma compartilhar fotos com autoridades de Segurança Pública do governo Jair Bolsonaro (PL) e manuseando armas. O acordo da Justiça com o Pão Diário não prevê transferência de recursos.

O MPF formalizou o pedido de interrupção do envio dos livros após investigações abertas no Rio Grande do Sul e no para apurar a existência de uma “cartilha com orientações e sugestões de assistência espiritual e leitura da bíblia para servidores.

As recomendações foram expedidas nesta quinta-feira, 6. PRF e Senasp terão dez dias para se manifestar ao MPF sobre o acatamento ou não. Em caso negativo, o órgão ministerial poderá dar início a uma ação judicial.