Contradições

Wajngarten terminou por mudar a sua versão, dizendo que havia “se lembrado” do tema durante um dos intervalos. Foi aí que confirmou a participação da Secom na criação da propaganda “O Brasil não pode parar”, e disse que ela havia sido divulgada sem permissão oficial.

O líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), disse considerar o assunto esclarecido e afirmou que as campanhas promovidas pela Secom ao longo da gestão de Fabio Wajngarten atenderam às necessidades do país.

— Alguns parlamentares e alguns veículos de mídia imaginavam que o governo federal nada tinha feito, do ponto de vista de comunicação, em relação à pandemia e às orientações para a população. Para mim, foi um dado positivo a informação de que foram investidos milhões [em campanhas sobre] a proteção aos empregos e à renda dos brasileiros mais vulneráveis, sobre as medidas de proteção para o melhor enfrentamento da pandemia.

O senador Luis Carlos Heinze (PP-RS) declarou que “parte da mídia” empreende uma “campanha cerrada” contra o governo federal, junto com adversários políticos, e se recusa a ver os acertos da gestão de Bolsonaro no combate à pandemia. Para Heinze, isso prejudica a comunicação do governo com a população.

— Existe o empenho, a direção e soluções. Mas, para certa parte da mídia brasileira, essas notícias positivas não interessam.

Estratégia

Wajngarten confirmou que a Secom contratou influenciadores digitais para promover campanhas do governo sobre a pandemia, mas negou conhecimento de que essa estratégia fosse usada também, de forma autônoma, pela Presidência da República. Segundo o ex-secretário, não havia um assessoramento paralelo de comunicação ao presidente Jair Bolsonaro.

O senador Jean Paul Prates (PT-RN) quis saber sobre a operação dos perfis do presidente da República nas redes sociais. Ele perguntou sobre quais seriam os funcionários do governo que postam através da conta, uma vez que ela é usada de forma institucional.

— Esse perfil que o presidente usa desde que foi eleito, até antes, é uma mistura um pouco complicada entre perfil pessoal e perfil profissional, porque ele utiliza para anunciar nomeações, atos, exonerações, comentários sobre suas ações.

O ex-secretário da Secom respondeu que, no seu entendimento, é o próprio Bolsonaro que administra esses canais, e que a Secom se responsabiliza apenas pelos seus próprios veículos, sem interferir na presença online do presidente.

Respondendo à senadora Soraya Thronicke (PSL-MS), Wajngarten explicou, ainda, que o conteúdo de campanhas sobre a pandemia era encaminhado à Secom pelo Ministério da Saúde e demais áreas do governo, e à secretaria cabia apenas a articulação da estratégia de comunicação. Em alguns casos, segundo ele, a Secom recebia as peças prontas e apenas as replicava.

— É importante que isso fique claro, porque o senhor fazia a gestão da informação veiculada, não a tirava da sua cabeça. É importante que fique claro para não colocar nas suas costas a responsabilidade total sobre isso — ponderou a senadora.

As propagandas do governo relativas à pandemia, de acordo com Wajngarten, somaram 19,5 mil inserções na televisão, 272 inserções no rádio, 152 milhões de inserções em painéis digitais de rua, 3 mil pontos estáticos, 1,1 bilhão de visualizações em vídeos na e 375 milhões de visualizações em banners virtuais.

Ao final da sessão, admoestou Wajngarten quanto à postura assumida durante o depoimento. O senador disse que o ex-secretário “não agradou a ninguém” — nem ao governo e nem à CPI — e que deveria usar o fato de escapar da prisão como uma oportunidade de aprendizado. Para Omar, Wajngarten terá de “falar a verdade” nos depoimentos que deverá dar no âmbito da justiça. 

— Hoje, aqui, você não ficou bem com ninguém. A vida machuca a gente, e a prisão não seria nada mais terrível do que você perder a credibilidade, a confiança e o legado que você construiu até agora — disse o presidente da CPI.

Omar decidiu encaminhar ao Ministério Público o depoimento de Wajngarten, para que sejam apuradas eventuais mentiras ou falso testemunho — o que pode acarretar punições.