Um ponto muito importante do avanço da vacinação foi possibilitar o retorno do ensino presencial nas escolas. Aos 62 anos, o professor Clodoaldo Correia tomou a segunda dose em maio A maioria das escolas públicas de São Paulo estava parada, mas a dele não. Trabalhador da Escola Estadual Eliza Rachel em Guaianases, zona leste de São Paulo, ele só saia de casa para o trabalho e, quando completou a imunização, sentiu que poderia estar presente na escola com menos riscos. Estar seguro enquanto ensina foi o principal motivo para se vacinar. “O ensino que eu acredito se preocupa com a condição emocional do aluno e olha para a relação entre aluno, escola, família e outros vínculos”, disse.
LINHA DE FRENTE
Em fevereiro deste ano, o médico infectologista Jamal Suleiman tomou a segunda dose. Ele fez parte do primeiro grupo contemplado pela vacina – o de profissionais da saúde – e foi imunizado antes da maioria dos brasileiros, mas, naquele momento, não sentiu o alívio que esperava. A pandemia no Brasil piorava e chegava ao seu momento mais crítico.
Na linha de frente do combate à pandemia no Hospital Emílio Ribas, Suleiman via pessoas e mais pessoas internadas em estado grave a cada dia. O hospital entrou em colapso de leitos de UTI no mesmo mês em que foi vacinado. Pouco tempo depois, Suleiman ainda perdeu para a doença o irmão e a cunhada, que estavam a duas semanas de tomarem o imunizante. “Tomar a vacina naquele momento me deu uma sensação de alívio e frustração. Sabia que a situação era muito grave e, ao mesmo tempo, que a vacina iria mudar a história.”
A janela mais próxima de sua mesa de trabalho dá para uma mureta do necrotério onde familiares esperavam a liberação do corpo das vítimas. Suleiman passou meses assistindo a filas de pessoas e de veículos de funerárias no local – uma cena brutal que não gosta de se recordar. Depois, viu a vacinação avançar e o número de infectados diminuir. Entretanto, continuou recebendo pacientes em estado grave. Oito a cada dez desses, diz, não haviam se vacinado.
O médico continua sem receber visitas em casa, não vai a estabelecimentos fechados, como restaurantes, e usa máscara em todos os lugares, exceto em casa. Pai de duas filhas, ele não as viu até que elas e os maridos estivessem completamente imunizados. “A pandemia não acabou, apesar da vacinação avançar. Daqui a algumas semanas, podemos dizer que isso tudo passou. O momento atual ainda é de preocupação”, concluiu o especialista, lembrando que é importante que a vacinação avance ainda mais. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.