O ministro interino da Saúde, Eduardo Pazuello, criticou nesta terça-feira, 9, a forma de divulgação de boletins diários de infectados e de mortos pela que adotava o governo federal. “Eu estava somando contas que não existem, que não eram somáveis. Marcando um horário para apresentar uma informação que não dizia nada aos gestores e ao nosso país”, disse Pazuello em audiência na Câmara dos Deputados.

Pressionado pelo presidente Jair Bolsonaro, o Ministério da Saúde prepara uma nova forma de apresentar os dados da covid-19. A ideia é destacar a data em que o óbito ocorreu. Antes, a pasta dava maior destaque para a soma de vítimas do dia com casos de outras datas, cuja investigação sobre a causa da morte foi concluída nas últimas 24 horas.

Pazuello afirmou aos deputados que o ministério não deixará de divulgar mortes de outros dias que ainda estavam sob análise. “Não existe como reduzir ou limitar número de óbitos.”

“Se não olharmos para a data do óbito, o gestor não consegue entender o que está acontecendo na sua cidade, não consegue ter medidas para corrigir”, disse o ministro.

Como o Estadão revelou, a mudança na forma de divulgação dos dados ocorreu após Bolsonaro determinar que o número de registros ficasse abaixo de mil por dia. A solução encontrada seria divulgar apenas dados de mortes que ocorreram nas últimas 24 horas.

O desejo de Bolsonaro, no entanto, não deve ser totalmente concretizado, pois a pasta promete ainda divulgar o acumulado de vítimas.

Na audiência desta terça-feira, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), cobrou que transparência na divulgação de dados. “Não estamos aqui para agredir, enfrentar, pelo contrário. O que precisamos, independente de divergência política, é trabalhar para juntos construir soluções. A decisão do STF sobre o que caberia a Estados e municípios é que cabe ao governo federal a coordenação do trabalho. Seu trabalho continua sendo fundamental”, afirmou Maia.

O ministério promete lançar um portal que mostre número de infectados e mortos por Estado, regiões de saúde e municípios, além de curvas sobre avanço da doença em capitais e no interior. A pasta também promete apresentar a ocupação de leitos de UTI em cada local. Pazuello disse que o portal será atualizado 24h, conforme o ministério receba dados de Estados e municípios. “São todos os dados que jamais tivemos. Estão todos disponíveis full time”, disse.

A curva de casos por data do óbito, no entanto, já era apresentada pelo Ministério da Saúde em apresentações à imprensa e em boletins epidemiológicos, publicados no site do ministério. A diferença, segundo Pazuello, é que haverá atualização constante num único portal.

“O que estou querendo buscar é a verdade. A verdade, às vezes, é evitar a subnotificação, não é buscar a ‘hipernotificação'”, disse.

Na semana passada o ministério chegou a atrasar para cerca de 22h, por quatro dias, dados da covid-19 que eram divulgados por volta de 19h. O acumulado de mortes e casos também foi omitido na última sexta-feira. O atraso foi comemorado pelo presidente Bolsonaro. “Olha, não interessa de quem partiu (a ordem para o atraso). Acho que é justo sair dez da noite. Sair o dado completamente consolidado”, afirmou na última sexta-feira, 5, em frente ao . Bolsonaro também disse que “acabou a matéria no Jornal Nacional” sobre a doença, em referência ao telejornal da TV Globo, e cobrou que sejam divulgados apenas os números de pessoas que morreram naquele dia

Houve forte reação pelo atraso e omissões de dados da última semana. Partidos da oposição e a da União (DPU) chegaram a ir à Justiça para reverter o atraso e a omissão de dados. O Ministério Público Federal abriu procedimento extrajudicial para apurar o atraso e a omissão na divulgação de dados sobre o novo coronavírus no País.

Pelo critério de soma de mortes do dia com aquelas que estavam sob análise, adotado internacionalmente, o recorde de registros em 24 horas no Brasil é de 1,473 vítimas, do último dia 4. Do total de mortes no País, 12 de maio é a data de mais registro de vítimas, 670, segundo dados apresentados na última semana pela Saúde. Para técnicos da pasta, porém, não é correto afirmar que se trata do pico da doença, pois há mais de mais de 4 mil mortes ainda em análise e subnotificação de casos.