O dólar voltou a subir, com renovadas preocupações sobre a situação fiscal do Brasil, que persistiram após o governo entregar ao Congresso a proposta de Orçamento para 2021, que prevê déficit primário de R$ 237,3 bilhões no ano que vem para o setor público consolidado e ainda rombo acima de R$ 150 bilhões em 2022 e 2023. Com a nova alta, a moeda americana fechou agosto acumulando valorização de 5,05%, a maior desde março, quando disparou 16% em meio ao início da do coronavírus e das medidas de distanciamento social. Em 2020, a divisa dos EUA sobe 36,6%.

O dólar à vista fechou a segunda-feira (31) em alta de 1,21%, cotado em R$ 5,4806. O real teve o segundo pior desempenho ante o dólar nesta data, perdendo apenas para o rand da África do Sul No mercado futuro, o dólar para outubro, que nesta segunda-feira passou a ser o contrato mais líquido, fechou em alta de 1,98%, cotado em R$ 5,4980.

Em dia de disputa entre grandes investidores pela definição do referencial Ptax, usado em contratos cambiais e balanços corporativos, o dólar chegou a encostar em R$ 5,50 mais cedo, com os “comprados”, que ganham com a valorização da moeda americana, pressionando as cotações para cima.

Para o diretor de Tesouraria do Banco Daycoval, Paulo Saba, o principal fator a influenciar as cotações nesta segunda-feira no câmbio, o imponderável, é a questão fiscal no Brasil. “É o fiscal e a movimentação política em torno do fiscal. O misto disso está fazendo e vai continuar em setembro”, diz ele. “Hoje, a apresentação do Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) 2021 foi a pontinha do iceberg”, completou. Neste ambiente, Saba acredita que o dólar deve continuar pela frente na faixa de R$ 5,40 a R$ 5,60. “O mercado não vai largar esse osso para já, enquanto não tiver um pouco mais claro sobre como o governo equilibra despesas e receitas. O fiscal é o que tem predominado nas mesas de operações. Empresas vão esperar para vender câmbio”, disse ele.

A analista de moedas e mercados emergentes do banco alemão Commezbank, You-Na Park-Heger, também está pessimista com o real e observa que a moeda brasileira deve seguir depreciada até 2021, em meio a uma série de riscos, que vão desde a forte piora fiscal do Brasil, em ritmo mais intenso que outros emergentes, às dúvidas sobre os rumos da atividade econômica em meio ainda ao crescimento dos casos de coronavírus, o que por sua vez pode exigir mais aumento de gastos do governo. “Não esperamos que o real se recupere ao menos até o próximo ano.”

Os analistas do JPMorgan avaliam que a política fiscal para 2021 está “no fio da navalha”, em um equilíbrio “muito instável”.

Nesse ambiente, o mercados financeiro permanece preocupado com a possibilidade de “uma abordagem de política econômica mais populista” por parte do governo, já de olho nas eleições de 2022, ressalta o banco em relatório.