O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltou a fazer campanha pelo uso da hidroxicloroquina () para tratar pacientes em estágio inicial de covid-19 – doença relacionada ao – horas depois de o ministro da Saúde, Nelson Teich, alertar sobre os riscos do medicamento, que ainda não tem eficácia comprovada.

Bolsonaro afirmou que que vai discutir a ampliação do uso do polêmico medicamento em pacientes com covid-19 com o ministro da Saúde. Ele acrescentou que existem médicos com o entendimento de que o uso da cloroquina é adequado, e sugeriu que ela deveria ser usada desde o início do tratamento, especificamente em grupos de risco.

“Não é minha opinião porque não sou médico, mas muitos médicos do Brasil e de outros países entendem que a cloroquina pode e deve ser usada desde o início mesmo sabendo que não há uma comprovação científica de sua eficácia. Mas como estamos em uma emergência, sempre foi usada desde 1955, e agora (combinada) com a azitromicina pode ser um alento para essa quantidade de óbitos que estamos tendo no Brasil”, disse. “Vai ser discutido hoje com o ministro. O meu entendimento, ouvindo médicos, é que ela deve ser usada desde o início para quem está no grupo de risco, pessoas com comorbidades, com idade…”, completou.

Alerta

Teich usou sua conta no Twitter, nessa terça-feira (12) para alertar que a cloroquina é um medicamento com efeitos colaterais e que deve ser administrada sob prescrição médica. O ministro ainda afirmou que o governo acompanha estudos com outros dez medicamentos para entender qual é a melhor opção para os brasileiros.

Eficácia

A eficácia da cloroquina, que é usada para tratar doenças como Lúpus e Malária, ainda não foi comprovada para o tratamento da covid-19 e estudos preliminares não mostraram resultados promissores.

Um estudo publicado nessa segunda-feira (11) pelo Journal of the American Medical Association (JAMA) apontou não apenas que a cloroquina não é capaz de evitar mortes relacionadas ao coronavírus, como ainda pode causar problemas no coração, tanto sozinha como quando associada à azitromicina.

O estudo foi conduzido em 25 hospitais do Estado de e 1.438 pacientes foram avaliados pelos pesquisadores, a maioria (59,7%) formada por homens com 63 anos, em média.

Aqueles que foram medicados (com cloroquina, azitromicina ou os dois) ficaram mais propensos a desenvolver problemas como diabetes, baixa saturação de oxigênio e manchas anormais nos pulmões.

Interesse

Além de Bolsonaro, o presidente americano, Donald Trump, é outro político proeminente que defende o uso da cloroquina para o tratamento da covid-19. Mesmo reconhecendo que não há estudos que comprovem a eficácia do produto, Trump tem feito uma forte campanha em favor do remédio e chegou a ameaçar impor sanções contra a índia, caso o país asiático não suspendesse a proibição sobre a exportação de hidroxicloroquina.

Os indianos haviam proibido a exportação do produto diante de relatos de que vários países estavam estocando o medicamento, o que poderia resultar no esgotamento dos estoques para pessoas que realmente precisam.

Setores da imprensa americana, como o jornal The New York , levantaram suspeitas sobre a campanha de Trump para o uso da cloroquina, uma vez que assessores de seu governo são acionistas da companhia francesa Sanofi, que produz o remédio.