Angra dos Reis vive onda de medo e entra em estado de emergência

Conhecida por suas belas ilhas cercadas de águas verdejantes, Angra dos Reis tem se destacado por outra fama nesta semana. A população da cidade litorânea do sul do Rio vive uma onda de medo com o acirramento do conflito entre duas facções criminosas. O embate começou no fim de semana, quando o Comando Vermelho (CV) […]

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Conhecida por suas belas ilhas cercadas de águas verdejantes, Angra dos Reis tem se destacado por outra fama nesta semana. A população da cidade litorânea do sul do Rio vive uma onda de medo com o acirramento do conflito entre duas facções criminosas.

O embate começou no fim de semana, quando o Comando Vermelho (CV) tomou o controle de uma das maiores favelas da cidade, a comunidade do Belém, das mãos do Terceiro Comando Puro (TCP).

Desde então, os moradores da região conviveram com três dias de intensos tiroteios, com áudios de disparos ininterruptos divulgados nas redes sociais.

A situação fez o prefeito Fernando Jordão (MDB) decretar estado de emergência na terça (21) e cobrar ajuda da intervenção federal. A segurança pública do estado do Rio está sob responsabilidade da União desde fevereiro, quando Michel Temer (MDB) decidiu pela intervenção.

Na prática, as polícias, os bombeiros e o sistema penitenciário estão nas mãos do general Walter Souza Braga Netto, nomeado interventor pelo presidente. Na segunda-feira (20), parte do bairro Belém ficou sem energia elétrica porque transformadores foram atingidos e não era possível entrar no local para fazer reparos. Mais de 1.600 crianças de duas escolas municipais na área também ficaram sem aulas naquele dia.

O estopim ocorreu quando dois ônibus foram incendiados, bloqueando a rodovia Rio-Santos (BR-101). Segundo o delegado Bruno Gilaberte, titular da delegacia de Angra, a polícia acredita que os veículos tenham sido queimados pelos próprios criminosos do Terceiro Comando.

“Eles estariam estimulando o medo na população para que comunidades da região sejam alvos de operações policiais. Assim, o CV teria que fugir de lá, e o Terceiro Comando se instalaria nesse vácuo”, diz ele, frisando que o conflito entre as duas facções não é um fenômeno recente.

“Há uma tensão permanente entre elas há anos”, afirma. “A guerra se acirrou por volta de 2014, quando os fuzis começaram a chegar em Angra, junto com os traficantes que migraram da capital e da Baixada Fluminense. Com o maior poder de guerra, a competição se acirrou.”

HEGEMONIA DO TRÁFICO

O Comando Vermelho vem tentando uma “hegemonia” na região para controlar a rota do tráfico de drogas. Angra -e especificamente o Belém, entre outras comunidades- fica em uma posição estratégica, nas margens da rodovia Rio-Santos.

Esse contexto contribuiu para a violência crescente no município nos últimos seis anos. A cidade viu seu índice de letalidade violenta disparar em 2018: foram 117 mortes de janeiro a julho, ante 63 no mesmo período do ano passado, quase o dobro.

O crescimento foi puxado pelos homicídios dolosos (que subiram de 55 para 86) e pelas mortes por intervenção policial (que triplicaram, de 8 para 30). O índice também inclui latrocínios e lesões corporais seguidas de morte, mas eles são uma parte ínfima.

Segundo a Polícia Militar, o 33º batalhão, de Angra, tem “reforçado o patrulhamento em alguns locais do município e atuado preventivamente diante dos confrontos entre criminosos nas comunidades do Belém e do Bracuí”, outra favela que registrou conflitos.

Para o delegado Gilaberte, o medo foi potencializado pelas redes sociais e notícias. Foram divulgados, por exemplo, dois roubos a estabelecimentos e uma invasão de vândalos a uma escola municipal que, segundo ele, são comuns e não têm relação com a guerra entre as facções.

Ele diz que ainda não há registro de mortes referentes ao conflito desta semana, mas há rumores não comprovados de que haveria corpos dentro dessas comunidades.

ESTADO DE EMERGÊNCIA

O tom que a prefeitura adotou ao decretar o estado de emergência na segurança pública da cidade também suscitou mais medo. Em comunicado, o prefeito Jordão disse que a insegurança poderia afetar os planos de evacuação das usinas nucleares Angra 1 e 2 em caso de acidente, já que a Rio-Santos é a única rota de fuga, “resultando como única solução o requerimento de desligamento das usinas”.

A fornecedora Eletrobras Eletronuclear, porém, informou que as usinas estão operando normalmente e que tem plena capacidade de efetuar seu plano de emergência local. Em 35 anos, nunca houve um acidente que envolvesse evacuação de população.

No mesmo comunicado, o prefeito disse que “a situação está insustentável” e criticou a atuação da intervenção federal: “A prefeitura está usando ferramentas para ajudar a polícia, mas precisamos da mão da intervenção federal, que não disse para o que veio em Angra dos Reis”.

Fernando Jordão participou nesta quarta (22) de reuniões com o Gabinete de Intervenção Federal (GIF), no Rio, e com o ministro Sergio Etchegoyen (Gabinete de Segurança Institucional), em Brasília. Ficou definido que Angra receberá um blindado em setembro, e o GIF informou que tem um plano de segurança para a cidade e que uma ação deve ser realizada em Angra, Paraty e Mangaratiba. Questionado, o órgão não deu mais detalhes.

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