Passei a noite em Congonhas, mas defendo a greve, diz passageira

Ato bloqueava os guichês das companhias aéreas

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Ato bloqueava os guichês das companhias aéreas

Entre os passageiros assustados ou afobados com a possibilidade de perda do voo, nesta sexta-feira (28) por conta da greve geral, no aeroporto de Congonhas (zona sul de São Paulo), duas mulheres chamavam a atenção pela calma com que observavam o ato que bloqueava, de tempos em tempos, os guichês das companhias aéreas.

“Estamos aqui desde ontem às 22h. Nosso voo só sai 8h15. Dormimos no aeroporto. Mas, pelo que representa o dia de hoje, se fosse preciso ficar aqui mais um dia, eu ficava. Esse povo [grevistas] somos nós. Estão lutando por nós”, afirmou a agricultora Sandra Ferrer, 42.

Junto com a amiga e também agricultora Sirlene Morais, 40, ela aguardava o voo para Londrina (norte do Paraná) enquanto manifestantes com identificação da Força Sindical e do Movimento Por Moradias bloqueava parte do saguão do aeroporto com mensagens contra as reformas trabalhista e previdenciária –bandeira dos movimentos e das centrais sindicais, no dia de hoje, nas principais cidades brasileiras.

“Não quero me aposentar com 100 anos e acho que deveria era parar tudo. Essas reformas ofendem a classe trabalhadora”, avaliou Sandra.

Participante de protestos em seu Estado natal, Sirlene reforçou: “Os trabalhadores ainda não compreenderam a barbaridade que estão querendo fazer com os direitos dos trabalhadores. Penso que as pessoas têm mais é que protestar, sim”, defendeu Sirlene.

“Quem vai pagar o preço são as classes menos favorecidas”

Já um grupo de amigas que viajaria para Belo Horizonte se mostrou apreensiva com o voo. “A gente nem dormiu, pensando em como seria aqui no aeroporto, com a greve, porque isso atrapalha, né?”, comentou a vendedora Ivone Lima, 43.

Entretanto, ela fez questão de observar: “Sou a favor de que as pessoas não aceitem essas reformas.  Eu não defendia a [ex-presidente] Dilma [Rousseff], mas acho que piorou demais com [presidente Michel] Temer e quem vai pagar o preço são as classes menos favorecidas”, analisou.

“Sou contra as reformas e a favor das manifestações. O governo sequer ouviu quem será afetado por elas”, relatou a analista de sistemas Vanessa Carvalho, 25.

Para o profissional de marketing Vitor Carpe, 32, ser contra as reformas –como ele próprio diz que é –“não significa concordar com esse tipo de protesto”.

Com voo para Brasília junto à família, a professora Luzitânia da Silva Santos, 39, admitiu: “A gente até sabia da greve, mas decidiu arriscar. Mas sou a favor, porque essas reformas tiram direitos dos trabalhadores e são decididas por uns poucos homens”, observou.

Com voo para Uberlândia, o analista de sistemas Milton Santiago, 40, reclamou do tumulto para embarcar e defendeu: “As reformas precisam ser feitas. E são positivas à medida em que acabem com os sindicatos; só por isso essas pessoas estão nas ruas hoje”, concluiu.

Polícia impediu fechamento de aeroporto, diz sindicato

Para o presidente da Força Sindical em São Paulo, Danilo Pereira da Silva, o fato de o protesto não ter paralisado o aeroporto, como era defendido pelos movimentos que aderiram à greve, foi em decorrência do forte aparato policial presente em Congonhas e nas imediações. Em dois momentos, policiais da Força Tática desbloquearam a avenida Washington Luís com spray de pimenta.

“A PM conseguiu inibir o ato, como sempre, com truculência. Havia mulheres e crianças quando usaram spray de pimenta, por exemplo. Mas o fato de as companhias aéreas terem antecipado voos também ajudou a não ter voos cancelados hoje”, disse.

Às 7h, apesar do forte policiamento na área externa, o movimento na parte interna do aeroporto já havia sido normalizado.

Governo defende reformas

Procurada, a Secretaria de comunicação da Presidência não quis comentar a mobilização. Em diversas ocasiões, Temer disse que as reformas são necessárias para o país voltar a crescer e retomar a geração de empregos. O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, chegou a dizer que sem a reforma da Previdência o Brasil pode “quebrar”. Sobre a reforma trabalhista, Temer tem dito que é necessário modernizar as normas que regem as relações de trabalho.

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