Mães de favelas protestam contra violência em Copacabana
Moradores de comunidades participam de almoço pelo Dia das Mães
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Moradores de comunidades participam de almoço pelo Dia das Mães
Moradoras de várias comunidades carentes do Rio de Janeiro se juntaram hoje (14) para comemorar o Dia das Mães na areia da Praia de Copacabana, zona sul da cidade, em protesto contra a insegurança e para deixar claro que “presente das mães é favela sem violência”.
O ato público de resistência pacífica foi promovido pelo Movimento Favelas contra a Violência, associações de moradores do Parque Oswaldo Cruz, Nelson Mandela e Samora Michel, pela organização não governamental (ONG) Rio de Paz, pelo Conselho Comunitário de Manguinhos, com apoio da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e do Sindicato dos Trabalhadores da Fiocruz.
Os moradores das comunidades acham que “comemorar o Dia das Mães em Copacabana é mais seguro hoje do que comemorar nas casas deles, na favela”, disse o diretor executivo e fundador da ONG Rio de Paz, Antônio Carlos Costa. O objetivo dos manifestantes é pedir que estado, município e União sentem à mesa para apresentar um plano de diminuição da letalidade nas favelas. “É um ato público contra o descaso. O que a gente está dizendo é que todas as esferas do Poder Público Executivo não estão funcionando”, disse Costa. O foco, para ele, é que não querem tiros, armas e munição nas comunidades.
Direitos
A professora municipal Paloma da Silva Gomes, moradora de Manguinhos, integra a Comissão contra a Violência local, que reúne coletivos e movimentos sociais do território. “Estamos numa luta constante para ter paz onde a gente mora, mas tem sido bem difícil”. Segundo Paloma, o movimento serve também para conscientizar as famílias das favelas no sentido que entendam os direitos que lhes são negados e que não chegam nas comunidades.
Paloma diz que a insegurança é total para quem mora nas favelas do Rio. “Nossa própria casa acaba virando uma prisão. E na favela tem muito disso. A falta de recursos e, principalmente, falta dos nossos direitos da vida, que é o principal”.
Graciara da Silva é educadora física e está fazendo mestrado em desenvolvimento local. Moradora da comunidade de Varginha, no Parque Carlos Chagas, ela teve o filho de 19 anos, David, atingido nas costas por uma bala durante uma incursão policial na favela, às 7h, há cerca de 25 dias. “Foi um momento muito difícil. Se eu não tivesse o apoio dos companheiros de luta, [ele] não teria sobrevivido”. A bala perfurou o intestino do rapaz e ficou alojada no abdômen. David se recupera em casa.
Graciara protestou contra o preconceito contra os jovens negros das favelas, que costumam ser confundidos por policiais com marginais. O ato simbólico de hoje serve, disse Graciara, para unir as mães, alertar sobre o problema da violência, que é de todos os moradores de comunidades, e reivindicar o direito de ir e vir, “que a gente não está tendo dentro da nossa favela”.
Mães que perderam filhos participaram do ato. Rosângela Maria de Paula teve o filho, Nicholas Oswaldo de Paula Sá, de 21 anos, cabo do Exército, morto com um tiro na cabeça em 11 de setembro do ano passado, em Piabetá, Magé, região metropolitana do Rio de Janeiro, e, até hoje, não foi feita a reconstituição do crime. Aos prantos, Rosângela disse que hoje foi um dia muito triste, o seu primeiro Dia das Mães sem Nicholas.
Culpa do Estado
Jaqueline Paula, presidente da Associação de Moradores do Mandela 1, disse que não se pode colocar a culpa pela insegurança na polícia ou nos bandidos. “É o governo, é o Estado que não está fazendo o que deve fazer pela saúde, pela escola. A gente está sofrendo vários atos de violência na comunidade. Por isso viemos para Copacabana, com as mães, reivindicando mais paz na comunidade”.
“Nós somos cidadãos como quaisquer outros da sociedade”, disseram as mães presentes à manifestação. O professor de comunicação do curso de educação de jovens e adultos de Manguinhos, da Fiocruz, Davi Marcos, morador da Maré, fez uma encenação durante o ato, chamando a atenção para que a “guerra” que está acontecendo nas favelas pode chegar a outras regiões do Rio de Janeiro.
É preciso, disse, que as pessoas não “lavem as mãos”, ignorando o que ocorre nas comunidades carentes, mas que haja um engajamento de toda a população contra a violência. “Cada vez que eu estou lavando as minhas mãos, estou lavando com o sangue de um povo pobre, preto, favelado e nativo desta terra”. A guerra, disse, está se territorializando, se expandindo e cada vez chegando mais perto da casa de todos os habitantes da cidade.
A “ceia das Mães da Favela” foi servida em uma mesa de 70 metros de comprimento e incluiu frango assado, arroz, farofa e salada de macarrão.
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