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Brasil

Rio Doce continua imerso na lama um ano após desastre da Samarco

Vazamento em Mariana foi maior desastre ambiental do país
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Vazamento em Mariana foi maior desastre ambiental do país

Há um ano, o Brasil viveu seu pior desastre ambiental. Uma barragem de rejeitos de mineração da , empresa controlada pela Vale e pela multinacional BHP, se rompeu, lançando uma avalanche de lama. A onda de rejeitos arrasou o distrito de Bento Rodrigues, em Mariana, Minas Gerais, matando 19 pessoas. Depois, seguiu pelo curso do Rio Doce até chegar ao Espírito Santo e se espalhar no mar.

Nas semanas que se seguiram, algumas análises indicavam um apocalipse ambiental. Segundo elas, o Rio Doce estaria morto e nunca mais se recuperaria. Outras avaliações, otimistas, falavam o oposto. Um relatório feito a pedido das autoridades ambientais indicava que, em cinco meses, o Rio Doce teria ressuscitado.

Porém, um ano após o acidente, a análise pessimista vem se provando mais precisa. A ressurreição do rio está longe da realidade. Dos 50 milhões de metros cúbicos de rejeitos lançados no ambiente, pelo menos 40 milhões continuam lá, depositados nas margens e arredores do Rio Doce. As empresas responsáveis pelo desastre, em especial a Samarco, não realizam as obras necessárias de remoção. A chegada da temporada de chuva pode trazer mais danos para a região.

OPERAÇÕES

O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) fez duas operações de vistoria na região onde se concentra a maior parte da lama, entre Bento Gonçalves e a Barragem de Candonga, no Rio Doce. As operações tinham dois objetivos: fazer um balanço do dano e avaliar se a Samarco estava cumprindo com as ações de limpeza e restauração. A vistoria mais recente, de outubro, mostra um quadro grave: em 75% dos pontos vistoriados, foram encontradas camadas de rejeitos com mais de 50 centímetros de espessura. O relatório faz uma descrição das “ilhas de lama” no meio do Rio Doce. “Em alguns pontos, é possível observar esse acúmulo com deposição do rejeito no meio dos cursos de água, formando estruturas parecidas com ilhas ou bancos de areia”, diz o texto.

O problema é a estrutura física do rejeito, composto de partículas finas. Na seca, fica duro como cimento. No perío­do chuvoso, encharca e escorre novamente para o rio, causando erosão das margens e matando peixes. “A primeira etapa de qualquer processo de restauração é conter o dano. Isso ainda não aconteceu”, explica André Sócrates, do Ibama. “A cada chuva que cai, aumenta a turbidez do rio. Com o rio mais turvo, você prejudica o peixe e prejudica o abastecimento humano nas cidades que dependem do rio.”

Nas áreas onde a Samarco fez alguma intervenção, ela optou por uma técnica de incorporação. Isso significa retirar terra de barrancos ou áreas das proximidades e misturar à lama. As demais operações de limpeza e restauração ambiental também estão muito aquém do necessário. Por exemplo, 62% das obras de drenagem nos rios, essenciais para evitar a erosão, não foram realizadas. O prazo para encerrar essas obras era setembro passado.

A lentidão levou o Ministério Público Federal (MPF) a fazer severas críticas à forma como a Samarco, a Vale e a BHP conduzem o caso. Segundo Jorge Munhoz, procurador da República no Espírito Santo, o mais assustador é que nem sequer as questões emergenciais foram resolvidas.  “Até hoje, as empresas e o poder público não deram resposta para questões emergenciais. A situação é realmente muito insatisfatória”, diz Munhoz.

DENÚNCIA

Há 15 dias, o MPF finalizou as investigações sobre as causas do rompimento da barragem e entrou com uma ação na Justiça acusando quatro empresas e 21 de seus executivos pelo desastre. A conclusão dos procuradores é que as empresas sabiam do risco de rompimento e, ainda assim, se omitiram. A denúncia acusa os executivos de 19 homicídios, além de crimes de desabamento, desmoronamento e inundação e de crimes contra o patrimônio, a flora e a fauna. Se condenados, os executivos poderiam pegar mais de 50 anos de prisão. Para as empresas, a acusação pede sanções como multa, proibição do crédito e até o fechamento da Samarco. A ação ainda precisa ser aceita pela Justiça, para depois iniciar-se a fase de defesa dos acusados.

A Vale rejeitou “veementemente” a denúncia do MPF. Diz que “acredita, serenamente, que a verdade e a sensatez irão prevalecer, fazendo-se a devida justiça”. A reportagem de ÉPOCA entrou em contato com a Samarco. “A Samarco refuta a denúncia do Ministério Público Federal, que desconsiderou as defesas e depoimentos apresentados ao longo das investigações iniciadas logo após o rompimento da barragem de Fundão e que comprovam que a empresa não tinha qualquer conhecimento prévio de riscos à sua estrutura.” Sobre as críticas do Ibama, a empresa afirma que está trabalhando com as autoridades ambientais e que já retirou 157.000 metros cúbicos de rejeitos do município de Barra Longa e 500.000 metros cúbicos de rejeitos em Candonga. “Desde o evento, a Samarco tem feito esforços para reparar e remediar os danos causados. Foram adotadas medidas emergenciais e iniciado o planejamento de longo prazo para recuperar esses danos. A recuperação ambiental é um processo de longa duração e a empresa não medirá esforços para minimizar os impactos.”

Apesar da lentidão das obras e do excesso de poluição nos leitos do Rio Doce, nem tudo está perdido. A vistoria do Ibama também indicou que, aos poucos, a vida selvagem está retornando. Espécies de plantas nativas foram encontradas em 86% dos pontos vistoriados. Em metade dos pontos, os analistas encontraram indícios de vida selvagem animal, como pegadas. A vida está voltando a Mariana. São indícios positivos da capacidade da natureza de se restaurar. Mas, para que o Rio Doce realmente renasça, é preciso limpar a sujeira.

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