Estragos causados pelo ciclone tropical deixou famílias sem casa
O ciclone extratropical que atingiu o Rio Grande do Sul desde quinta-feira (27) formou ondas de quase cinco metros, começou a perder a força e se afasta cada vez mais da costa. Vento forte e as ondas destruíram a orla da praia do Hermenegildo.
A ressaca causou transtornos para a população que vive no litoral gaúcho. No Sul, a praia do Hermenegildo, em Santa Vitória do Palmar, teve mais de 100 casas atingidas pela força do mar. A cidade ficou sem abastecimento de água e luz.
O empresário Juvenal Rodrigues, de 58 anos, presenciou a força das ondas derrubarem a casa em que há mais de seis décadas a família se reunia para comemorar as festas de final de ano.
“Eu moro aqui perto, e venho pra cá toda semana, essa era a casa de toda minha família. A dor foi muito grande, parecia que a família ia se desmanchando junto com as ondas. Não sei o que vai ser da gente agora, como vamos nos ver, onde vamos nos encontrar”, desabafou Juvenal enquanto recolhia, na manhã do último sábado, os poucos objetos que restaram após a tormenta.
Ainda sem conseguir acreditar, ele relata o momento que viu as ondas destruirem a casa.
“As pessoas olham ao redor e não acreditam no que estão vendo. Eu, que vi tudo de perto, ainda não consigo acreditar. A sensação de terror na hora em que o mar está invadindo é muito forte, é desesperador. Você não consegue tirar os olhos do mar, se sente impotente frente à força da natureza”, disse o empresário.
Morador de Hemenegildo há quase três decadas, o aposentado Carlos Alberto Gonzaga, de 68 anos, tambem ficou surpreso com a força dos ventos e das ondas.
“Elas eram tão grandes que vinham por cima do teto. Vinham feito um tsunami. Quando a situação piorou, só deu tempo de pegar alguns documentos e roupas, e logo a casa desabou. Quase morremos na hora e nos momento seguintes, sem ter para onde ir”, disse o aposentado.
Gonzaga dormiu com o filho mais de uma noite na rua à espera de amigos, que chegaram para ajudá-lo a encontrar um local onde pudesse passar a noite e se alimentar. Ainda em estado de choque pelas cenas que presenciou, o aposentado afirma que pretende deixar a cidade nos próximos meses.
“Por enquanto, o que me ajuda a sobreviver são os amigos, os vizinhos. Só que agora não tenho mais nada, não quer continuar aqui. As lembranças assustam muito, é só olhar ao redor.”, disse o aposentado.
Na manhã de sábado, quando a maré começou a recuar e o risco iminente de novos desabamentos foi ficando para trás, centenas de pessoas vindas de diversas cidades da região caminhavam pela orla para ver de perto os escombros, registrar a tragédia em fotos e oferecer ajuda.
Segundo o prefeito de Santa Vitória dos Palmares, Eduardo Morrone, o final de semana foi dedicado a contabilizar os estragos e auxiliar as famílias em condições extremas. Na segunda-feira, prefeitura e Defesa Civil devem se reunir para avaliar a possibilidade de decretar situação de emergência.
“O que aconteceu aqui foi algo nunca visto antes. Já tivemos situações difíceis, mas nunca tantas casas devastadas. O que predomina agora que o clima acalmou na cidade é a solidariedade, com uma vizinhança mobilizada para prestar auxilio”, relatou Morrone.
Estragos
No Litoral Norte, a ressaca fez com que a água ultrapassasse a faixa de areia chegando as ruas e avenidas na tarde de sexta-feira (28).
Na praia de Atlântida, em Xangri-Lá, a água do mar entrou por canaletas destinadas ao escoamento da chuva em direção à praia. No sentido inverso, tomou conta da Avenida Beira-Mar.
Em Tramandaí, a força das ondas agitou a plataforma que existe sobre o mar. Um trailer posicionado na faixa de areia virou com a ventania. Na cidade, ruas e avenidas próximas à praia também foram inundadas.
Em Torres, a situação foi semelhante. A força das ondas ultrapassou a barreira formada por pedras nos molhes. O rio Mampituba, que demarca a divisa entre Rio Grande do Sul e Santa Catarina, transbordou e atingiu ruas laterais. O riacho da cidade também transbordou, alagando ruas e avenidas.
Confira o vídeo aqui.