Presidente da Câmara comentou pronunciamento do vice na última quarta

Dois dias depois de o vice-presidente Michel Temer apelar publicamente por união no país, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), afirmou nesta sexta-feira (7) que, na opinião dele, a fala do articulador político do Palácio do Planalto era um “desabafo”, e não um “apelo”. O peemedebista viajou para Manaus para participar de compromissos no Comando Militar da Amazônia e no Centro de Instrução de Guerra na Selva.

Em uma entrevista no aeroporto da capital do Amazonas, Cunha afirmou que, para ele, a declaração do vice se deu em razão da “incapacidade” do governo de reverter uma iminente derrota na Câmara dos Deputados na sessão da última quarta-feira (5).

Na ocasião, depois de conversar com líderes da Câmara e do Senado, Temer declarou que a situação do Brasil é “grave” e fez um apelo para que “todos se dediquem a resolver os problemas do país”. O vice-presidente disse ainda que o Congresso Nacional é capaz de unificar o país.

“Tem que perguntar a ele, Michel, o que ele quis dizer quando fez o apelo. Eu interpretei mais como desabafo do que apelo, porque apelo ele teve momentos para fazer de forma concreta e em local apropriado. Eu tenho impressão que ele viu o clima daquele dia, que os líderes dos partidos estavam contra a proposta do governo, e, pela incapacidade de reverter o processo, fez o apelo”, disse o presidente da Câmara a jornalistas em Manaus.

Apesar do apelo público de Temer na quarta-feira (assista ao vídeo acima), os deputados federais acabaram aprovando na madrugada de quinta (6) a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) que vincula os salários do advogado-geral da União e dos procuradores estaduais e municipais a 90,25% do salário de ministro do STF (Supremo Tribunal Federal).

Mesmo com a derrota política, no dia seguinte o Planalto obteve uma manifestação de apoio das duas principais entidades empresariais do país. Por meio de nota conjunta, as federações das indústrias de São Paulo e do Rio de Janeiro (Fiesp e Firjan) afirmaram que “é hora de colocar de lado ambições pessoais ou partidárias e mirar o interesse maior do Brasil”.

 

Ministros do PT

Nesta quinta, a presidente Dilma Rousseff convocou ao Palácio da Alvorada, em Brasília, ao menos quatro ministros do PT – Aloizio Mercadante (Casa Civil), Jaques Wagner (Defesa), Edinho Silva (Comunicação Social) e Ricardo Berzoini (Comunicações) – para pedir que eles auxiliem o vice-presidente na condução da articulação política do governo.

Segundo um desses auxiliares presentes, a presidente reconheceu que o peemedebista está “sobrecarregado” na função, “deu uma dura” nos ministros e disse que eles “lavaram as mãos” desde que Temer passou a coordenar a interlocução do Planalto com o Congresso Nacional.

Além disso, informou esse ministro, a avaliação do grupo foi de que as declarações de Temer na última quarta mostraram a “efetiva preocupação” dele com o atual cenário político.

 

‘Pressões e injustiças’

Na entrevista coletiva que concedeu em Manaus, Eduardo Cunha também comentou trecho do programa partidário do PT, veiculado em cadeia de rádio e TV na noite desta quinta, no qual a presidente da República ressalta que sabe suportar “pressões e injustiças”.

Para o presidente da Câmara, que rompeu oficialmente com o governo no mês passado, as pressões e supostas injustiças são algo “normal” para qualquer cargo “relevante”. Segundo o peeemedebista, ele também é alvo de “pressões e injustiças”.

“Quem não está preparado para pressões e injustiças, não pleiteia o cargo. Eu também sofro pressões e injustiças. Isso faz parte”, ironizou.