Campanha do Ministério da Justiça pró-refugiados e contra xenofobia causa indignação

O Ministério da Justiça já informou que não pretende retirar a campanha do ar. 

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O Ministério da Justiça já informou que não pretende retirar a campanha do ar. 

Lançada nesta terça-feira (13) pelo Ministério da Justiça, uma campanha nas redes sociais com objetivo de enfrentamento à xenofobia e intolerância contrarefugiados e imigrantes no Brasil gerou muita polêmica. As reações negativas, porém, se justificam.

Na peça divulgada na página da pasta, o jovem negro Matheus Gomes, de 18 anos, aparece sorrindo, com os seguintes dizeres ao lado: “Meu avô é angolano, meu bisavô é ganês. Brasil. A imigração está no nosso sangue”. Abaixo da imagem, a mensagem do ministério dizia o seguinte: “Há cinco séculos, imigrantes de todas as partes ajudam a construir nosso País”.

Rapidamente a pasta foi alvo de uma enxurrada de mensagens negativas. A sua grande maioria, as críticas ao conteúdo da campanha diziam respeito ao fato de que o ministério teria confundido imigração com escravidão.

A  abolição da escravatura no País data de 1888, ou seja, há 127 anos – o que significa que escravos formaram a mão de obra nacional por 388 anos. Estima-se que o Brasil tenha recebido aproximadamente 5 milhões de escravos negros, ao passo que outro 3 milhões tenham morrido antes de desembarcarem em terras brasileiras.

Antes de toda a polêmica, o presidente do Conselho Nacional para Refugiados e Secretário Nacional de Justiça, Beto Vasconcelos, disse que a meta da campanha era “esclarecer a nossa identidade cultural, migratória”.

“As manifestações de xenofobismo são pontuais, mas acreditamos que são dão por falta de informação (…). O Brasil foi forjado por fluxos migratórios e essa é a nossa natureza”, avaliou.

Para o professor de História da PUC-SP, Luiz Antônio Dias, especialista em estudos afro-brasileiros, trata-se de uma “propaganda de mau gosto”.

“Cronologicamente, os ascendentes do menino da campanha realmente não poderiam ser escravos, mas a peça mexe com uma questão simbólica, faz menção aos antepassados negros dos brasileiros e nesse caso a grande referência é a escravidão. É uma falta de sensibilidade. Não se pode sugerir que escravidão e migração sejam semelhantes. Nem reforçar o mito de escravos felizes ou de democracia racial. O melhor caminho seria retirar a propaganda do ar”, disse Dias ao jornal O Globo.

O Ministério da Justiça já informou que não pretende retirar a campanha do ar. Em nota, a pasta explicou que “apoia a importante discussão sobre a escravidão na nossa história” e que “o governo promove diversas medidas de inclusão para reverter essa triste herança”.

Essa foi a segunda vez neste semestre que o governo federal realizou uma campanha de esclarecimento sobre a situação dos refugiados e imigrantes no País. A primeira etapa ocorreu entre os dias 18 de agosto a 22 de setembro e teve o seguinte mote: “Para os refugiados, o Brasil é uma oportunidade de viver”.

Números de refugiados no Brasil

Atualmente, estão reconhecidos como refugiados no Brasil 8.530 estrangeiros. Entre as maiores comunidades está a de nacionalidade síria com 2.097, seguida por angolanos (1.480); colombianos (1.093) e congoleses (850).

Na última sexta-feira (9), a presidente Dilma Rousseff encaminhou uma Medida Provisória ao Congresso que concede crédito extraordinário de R$ 15 milhões para o fortalecimento da política de assistência a refugiados e imigrantes.

De acordo com Beto Vasconcelos, atualmente a Secretaria Nacional de Justiça conta com um orçamento de R$ 8 milhões para executar todas as ações que estão sob sua guarda. Nas próximas semanas integrantes do Ministério da Justiça deverão se reunir com representantes de Estados e municípios que recebem o maior fluxo de refugiados e imigrantes para definir as prioridades para a distribuição do recurso.

Parte do orçamento deverá ser aplicado na ampliação da rede pública que tem atuado na integração dos refugiados e imigrantes por meio de cursos da língua portuguesa e ingresso laboral.

 

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