Em todas as operações visando apurar casos de corrupção, não deixa de ser estranho a pouca importância dada aos imóveis ocupados pelos envolvidos e familiares. Muitos só fizeram política e passaram a morar bem, assim como os filhos, muitos sem atividade conhecida.

Tem político que mora em casa registrada em nome de filha, que tem domicílio fiscal fora do Brasil. Outro, já falecido, está na terceira geração bem instalada, muito acima da média das pessoas bem colocadas na livre empresa. Também sem uma atividade privada que justifique tantos imóveis. Não apenas governadores e prefeitos, mas também parlamentares. Especula-se que, embora seja assunto sigiloso por lei, que a família de um ex-governador, falecido há muitos anos, promoveu a maior transferência na recente anistia fiscal para depósitos no exterior.

Um levantamento dos imóveis, comparando com outras unidades nos mesmos endereços, poderia esclarecer a repetição da “sorte” de assinar escrituras por valores inferiores aos praticados pelos vizinhos. E um pente fino nas declarações dos “amigos” que adquirem e cedem imóveis a políticos.

A cultura patrimonialista do brasileiro comum, normalmente nascido e criado em imóvel alugado, faz com que a casa seja prioridade. O exemplo maior é o ex-presidente Lula, encrencado com um triplex no Guarujá, que ensejou sua condenação e prisão. Além disso, o apartamento vizinho ao seu e de seu uso, em São Bernardo, também é alvo de outro processo, assim como o famoso sítio de Atibaia. É a propriedade e uso de um imóvel que permite explicações repetidas, pouco convincentes e comprometedoras.

Em Portugal, o ex-primeiro-ministro Sócrates, que esteve preso e continua respondendo a processos sem poder sair do país, também ficou em situação complicada por causa de imóveis – um alugado em Paris, outro comprado em Lisboa, e um terceiro adquirido para a ex-mulher. Sempre com a generosidade de um amigo rico.

O imóvel fala mais alto até mesmo na cabeça dos juízes. Valor maior do que o somatório de todas as citadas propriedades foi encontrado numa conta na Suíça, segundo informações das autoridades daquele país. E o titular da conta, um servidor público, foi solto.

Falta na mídia em geral uma grande reportagem, na TV preferencialmente, mostrando como vivem ex-governantes, suas viúvas quando for o caso e filhos dos últimos vinte e cinco anos, nos principais estados e ocupantes de altos cargos federais. Revelaria muita coisa.

Muitos casos já foram publicados e esquecidos!